VARIEDADES

Quem é Gianna Jessen, que sobreviveu ao aborto e conta sua história ao mundo

O registro médico do nascimento de Gianna Jessen é diferente do da maioria das crianças. “Nascida durante aborto salino”, diz o documento, com data de 6 de abril de 1977. Ela pesava 1,1 kg e estava com sete meses e meio de gestação.

Se dependesse da mãe e do médico responsável pelo procedimento, Gianna não teria sobrevivido àquele dia.

O parto, em uma clínica da organização abortista Planned Parenthood em Los Angeles, foi um acidente. Mesmo depois de 18 horas exposta a uma substância salina injetada para fazer seu coração parar de bater, Gianna resistiu e nasceu viva. 

O médico se atrasou e não chegou ao local a tempo de ordenar que o protocolo da época fosse seguido. 

O protocolo era deixar que Gianna morresse.

A enfermeira resolveu acionar uma ambulância — e Gianna sobreviveu.

A falta de oxigenação no cérebro deixou sequelas. A principal delas, a paralisia cerebral que a deixou com limitação no movimento das pernas. Mas isso não impediu que Gianna Jessen se transformasse em uma ativista contra o aborto. 

“Eu deveria estar cega, eu deveria estar queimada, eu deveria estar morta. Mas não estou”, ela costuma dizer sempre que participa de eventos públicos.

Mensagem pró-vida em primeira pessoa

Gianna Jessen é, ao mesmo tempo, um exemplo vivo do extremismo de leis pró-aborto e uma prova da resiliência humana. E ela pode falar em primeira pessoa, como faz em muitas de suas palestras dentro e fora dos Estados Unidos.

“Se o aborto diz respeito apenas aos direitos das mulheres, senhoras e senhoras, então quais eram os meus?”, ela indagou em 2008, durante uma palestra na Austrália.

O vídeo, feito no Legislativo do estado de Victoria, acabou traduzido para diversas línguas, foi visto por milhões de pessoas e ajudou a transformar Gianna em um dos rostos mais conhecidos do ativismo pró-vida.

Mas ela vinha contando a sua história desde muito antes. Ainda em 1992, aos 15 anos de idade, ela apareceu em um programa de uma emissora local, em Milwaukee, e contou sua história. “Eu não tenho raiva da minha mãe biológica, eu a perdoei totalmente pelo que ela fez, e eu só agradeço a Deus por estar viva”, ela disse.

Trajetória difícil

Os pais biológicos de Gianna tinham 17 anos de idade quando ela nasceu. Depois de sobreviver ao aborto, ela foi colocada para adoção. Mas o sofrimento dela ainda não tinha acabado: em seu primeiro lar temporário, Gianna foi maltratada pela família que deveria cuidar dela. Mas, quando foi removida para outra casa, ela encontrou aqueles que se tornariam seus pais adotivos.

Aos 12 anos, no dia de Natal, Gianna descobriu que havia sobrevivido a um aborto. Ela perguntou o motivo da deficiência nas pernas. A mãe adotiva contou a verdade. “Bom, pelo menos eu tenho paralisia cerebral por um motivo interessante”, ela respondeu.

Foi só em 2006 que a mãe biológica reestabeleceu contato. Ela apareceu, sem avisar, em uma das palestras de Gianna e a procurou: “Olá, eu sou a sua mãe”. A conversa não transcorreu como Gianna esperava: a mãe não demonstrou arrependimento. Mas a ativista, que é cristã, diz que a rejeição já não a incomodava como antes. “Foi um dia muito difícil, e ainda enquanto eu estava enfrentando tudo aquilo, eu estava pensando: ‘Eu não pertenço a você. Eu pertenço a Cristo.'”

Apesar de ser direta em seus apelos contra o aborto, Gianna não soa agressiva. Com um tom de voz gentil, ela costuma sorrir ao final de cada frase e não tem problemas em fazer piada com a própria limitação física.

A história de Gianna Jessen foi importante para que, em 2002, o então presidente George W. Bush assinasse uma lei que requer cuidados médicos a bebês nascidos vivos durante procedimentos de aborto. Até então, algumas dessas crianças eram deixadas para morrer ou até mesmo mortas por outros meios.

A vida de Gianna Jessen também inspirou uma oba de cinema: ‘October Baby‘, lançado em 2020.

Influência no Congresso

Ainda na adolescência, Gianna Jessen decidiu que iria contar a sua história ao maior número de pessoas possível.

Em setembro 2016, ela falou a Comitê de Justiça da Câmara de Deputados dos Estados Unidos. Na ocasião, ela defendeu a aprovação de uma lei que estenderia a proteção a bebês que sobrevivem tentativas de aborto.

“Eu enfrentei as consequências de nossas escolhas como nação, como a minha paralisia cerebral demonstra. Então, se vocês optarem por não fazer nada, eu acredito que eu pelo menos tenho o direito de saber porque vocês concordam com essa prática abominável”, disse ela.

O projeto de lei foi aprovado na Câmara, mas não passou pelo Senado. Entretanto, alguns estados americanos aprovaram medidas semelhantes de lá para cá.

Aborto na fase final de gestação continua permitido

Hoje, nos Estados Unidos, bebês que nascem vivo durante procedimentos de aborto já não são abandonados à própria sorte. Mas, ao mesmo temo, abortos na fase final de gestação ainda são legais em muitos estados americanos.

Aproximadamente metade dos 50 estados americanos permitem a realização do aborto depois das 24 semanas, quando o bebê já tem a possibilidade de sobreviver fora do útero. Em pelo menos seis deles, incluindo o Oregon e Vermont, não há limites temporais para o aborto.

No Brasil, embora o aborto seja proibido, a lei não prevê punições nos casos de estupro, e risco à vida da mãe. Nessas situações, a lei não estabelece um limite específico.

Nas últimas semanas, a Câmara dos Deputados têm discutido um projeto de lei que estabeleceria o limite de 22 semanas — a partir do qual a criança já tem chances de sobreviver fora do útero.

O requerimento de urgência para a votação da medida chegou a ser aprovado no plenário da Câmara, mas o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o projeto precisa passar por um debate “mais aguçado” antes de ser votado.

noticia por : Gazeta do Povo

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