Colaboradores e colunistas da Gazeta do Povo responderam qual foi o melhor livro que leram em 2023. O resultado é a lista eclética e rica abaixo. Nas recomendações estão um romance escrito há um século por um escritor hoje pouco conhecido, mas elogiado por George Orwell; um livro de um poeta que publica a si mesmo; a história romanceada do primeiro computador e os cientistas que o criaram; o pensamento político de um Nobel de literatura; uma obra para sair do isolamento cultural diante dos nossos vizinhos latino-americanos; dicas para navegar pelos desafios dos nossos tempos e muito mais para enriquecer a sua vida como leitor e cidadão.
Paulo Polzonoff
Colunista da Gazeta do Povo
“Rezas”, de João Filho (autopublicado, 2023). Depois
de certa idade você fica mais criterioso e por isso raramente lê algo ruim ou
medíocre. Então é até difícil, entre tantas boas leituras de 2023, destacar
apenas um livro. Como imagino que meus colegas vão recomendar sobretudo livros
de não-ficção, vou bancar o diferentão aqui e recomendar “Rezas”, de João
Filho. Se não bastassem a qualidade dos versos e o grande privilégio que é ser
contemporâneo de um poeta desse quilate, o ostracismo a que o livro foi
submetido escancara a distância que separa a cultura oficial e a cultura que
vou chamar aqui de vocacionada.
Leonardo Coutinho
Colunista da Gazeta do Povo
“Delirio americano: Una historia cultural y política de América Latina”, de Carlos Granés (Taurus, 2022; sem edição em português). Para muitos brasileiros — ou talvez a maioria — a América Latina é um lugar tão distante e esquisito quanto Marte. Isso ocorre devido ao fato de os falantes de português não se sentirem parte da vizinhança. No ano passado, li este livro do ensaísta colombiano. Este livro espetacular, lançado em 2022, tem o poder de “aplainar” a Cordilheira dos Andes e nos colocar bem próximos uns dos outros. Trata-se, na minha opinião, da melhor abordagem da história recente do continente. Granés se concentra na história latinoamericana do século XX, sem se furtar de buscar peças do passado pré-colombiano e colonial. Cuba, seus revolucionários e ditadores são um dos eixos principais da obra, que tem mais de 600 páginas. Adianto que a obra de Granés funciona como um antídoto para o famoso “Veias Abertas da América Latina” (de Eduardo Galeano), que pinta uma América Latina idílica, que teve o seu destino de glória interrompido pelos colonizadores europeus e depois pelos imperialistas dos Estados Unidos.
Flávio Gordon
Colunista da Gazeta do Povo
“The Nazi Doctors: Medical Killing and the Psychology of
Genocide” — trad. livre: “Os médicos nazistas: assassinato médico e a
psicologia do genocídio”, de Robert Jay Lifton. O livro documenta o papel
decisivo dos médicos alemães na realização do Holocausto. Com base numa massa
documental impressionante, incluindo entrevistas com perpetradores e vítimas,
Lifton mostra como se deu a transição entre reflexões meramente acadêmicas —
iniciadas bem antes de os nazistas chegarem ao poder, e avançadas por
estudiosos não necessariamente simpáticos a Hitler — e o Aktion T4, o
programa nazista de eugenia. Destaca-se na obra uma análise de como, no começo
do século XX, surgiu na Alemanha uma nova e revolucionária concepção de
medicina, que rejeitava a milenar tradição hipocrática. Nos anos 1920-30, a
medicina deixou de significar, em primeiro lugar, um compromisso com a saúde do
organismo individual do paciente. Embora muitas das justificativas continuassem
a ser apresentadas no vocabulário da ética médica tradicional, muitos médicos
passaram a esposar uma nova ética, voltada acima de tudo à saúde do Estado (Gezuntheit).
Os médicos passaram a ter uma dupla lealdade, sendo a mais importante prestada
ao país, e apenas secundariamente aos seus pacientes enquanto indivíduos. O
organismo a ser preservado agora passava a ser fundamentalmente o do povo (Volk)
alemão, donde a necessidade da eliminação de suas partes “doentes” — os
indivíduos cujas vidas, segundo a retórica da época, eram “indignas de serem
vividas”.
Trata-se de leitura imperdível, que nos ajuda a compreender
os tempos atuais, com a sua perigosa e renitente crença de que certas
considerações éticas e determinadas políticas públicas (que operam no terreno
do “deve ser”) decorrem necessariamente de um conjunto de dados científicos
supostamente consensuais (que operam no terreno do “é”), sendo todo
questionamento relegado às trevas da superstição e do negacionismo.
Michael Shellenberger
Editor-chefe do Public
“A Heretic’s Manifesto: Essays on the Unsayable” — trad.
livre: “Um manifesto de um herege: ensaios sobre o indizível”, de Brendan
O’Neill (London Publishing Partnership, 2023; sem edição em português).
Este livro, uma obra da qual necessitávamos com urgência, estabelece O’Neill
como o maior herdeiro britânico vivo de George Orwell.
Francisco Razzo
Colunista da Gazeta do Povo
“MANIAC”, de Benjamín Labatut (Todavia, 2023). O título é o acrônimo usado para nomear um dos primeiros computadores da história: o Mathematical Analyzer, Numerical Integrator, and Computer. Desenvolvido na década de 1950 no Laboratório Nacional de Los Alamos, nos Estados Unidos, sob a liderança do físico e matemático John von Neumann. Se você já assistiu a “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, então conhece Los Alamos, a Trinity, a tragédia de Hiroshima e Nagasaki, e a crise de consciência produzida pela arma de destruição em massa. Mas talvez não saiba que o MANIAC foi um dos primeiros computadores a serem usados na pesquisa científica, particularmente na física, para o desenvolvimento da bomba de hidrogênio. Talvez também não saiba que ele foi projetado seguindo os princípios da arquitetura de von Neumann, que ainda é a base para a maioria dos computadores modernos.
Mas quem foi John von Neumann? O livro explora a vida e a obsessão dos grandes cientistas que, para o bem ou para o mal, contribuíram para o nosso mundo. Não se trata de uma biografia, mas de relatos narrados em primeira pessoa por esses cientistas. A obra transita habilmente entre ficção e realidade. O fio condutor desses relatos é a vida do matemático e físico húngaro János Lajos Neumann. Labatut não se limita a apresentar as conquistas de figuras como Eugene Wigner, Richard Feynman, e Oskar Morgenstern.
O que ele explora são suas lutas internas, suas dúvidas, ressentimentos, crises morais, o preço que pagaram por suas descobertas e, de alguma forma, o preço que pagaram pelo convívio com John von Neumann. Ao fazer isso, Labatut coloca as discussões sobre física, matemática e tecnologia em um contexto mais amplo, mostrando como essas áreas são inseparáveis dos dramas humanos.
Esta obra é uma leitura essencial para quem busca entender não apenas a ciência no século 20, mas também como os grandes cientistas são demasiadamente humanos. Li “MANIAC” no finalzinho de dezembro, durante as férias, e ainda estou espantado com a capacidade de Labatut de entrelaçar rigor científico, os grandes problemas da matemática teórica, a grandeza e a pequeneza de homens que construíram a física, a guerra, a bomba nuclear, os computadores e, principalmente, o que podemos chamar de nosso mundo atual. Interessante foi aprender como grandes gênios podem ser pessoas moralmente tão banais e perigosas quanto qualquer outro ser humano.
Roberto Motta
Colunista da Gazeta do Povo
“O Chamado da Tribo: Grandes pensadores para o nosso
tempo”, de Mario Vargas Llosa (Objetiva, 2019). A escolha foi fácil. Um dos
maiores escritores do mundo, prêmio Nobel de literatura, conta a trajetória
intelectual e uma parte da trajetória biográfica dos principais pensadores que
influenciaram a sua formação. Livro curto, objetivo, delicioso de ler, que todo
mundo deveria ler. Vargas Llosa fez a transição do pensamento de esquerda para
um pensamento de direita, liberal, inclusive foi candidato à presidência do
Peru. Se tivesse sido eleito, a história da América Latina teria sido outra.
Alexandre Soares Silva
Escritor e roteirista, autor de “O Homem que Lia os Seus Próprios
Pensamentos” e “Totolino”
“Leave It to Psmith” — trad. livre: “Deixe por conta do Psmith”, de P. G. Wodehouse (Grapevine, 2023; sem edição em português). É um romance escrito cento e um anos atrás. Trata de um homem que se faz passar por um poeta modernista famoso para conquistar uma mulher, e sobre um aristocrata imbecil que teve a mesada cortada pelo pai e contrata o suposto poeta famoso para roubar o colar da sua tia e, assim, poder voltar a se divertir com os amigos. Não é, como se diz, “relevante aos dias atuais” — não era relevante em 1923 e é menos relevante do que nunca (a menos talvez que você ache o corte temporário da mesada de aristocratas ingleses um assunto premente).
Caso você, como eu, valorize os livros pouco relevantes, e sobretudo os irrelevantes, que são tão raros, dificilmente vai encontrar um livro melhor e mais agradável de morar dentro do que “Leave It to Psmith”. Fui feliz durante a semana do ano passado em que o li, e agora estou tendo o prazer de traduzir o livro durante meses, aliás, e tentando não destruir muito a prosa absolutamente superior de Wodehouse (o maior escritor do século XX — com direito a ter ganho de George Orwell um ensaio em sua defesa).
Diogo Schelp
Colunista da Gazeta do Povo
“O Supremo: Entre o Direito e a Política”, de Diego Werneck Arguelhes (História Real, 2023). O livro do jurista Arguelhes, professor associado do Insper, em São Paulo, é uma excepcional introdução às distorções que, ao longo dos últimos anos, exacerbaram o protagonismo político e o poder individual dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O autor entrega um texto ágil e agradável sem abandonar o rigor dos conceitos jurídicos e apresenta sua crítica ao funcionamento e à atuação da corte de maneira serena e ponderada, sem resvalar para a visão histérica em voga em certos círculos de que o STF impôs uma ditadura de toga no país.
Em “O Supremo”, Arguelhes explica de que forma certas particularidades dos nossos sistemas político e jurídico geraram os dilemas atuais envolvendo o STF. Jabuticabas como o foro privilegiado, o amplo leque de atribuições, a maneira de escolher os ministros, as inovações nos procedimentos do tribunal adotadas desde a promulgação da Constituição, a variedade de atores que podem provocar seus integrantes a tomar decisões com grande impacto político, entre outros aspectos que contribuíram para a politização da corte. Trata-se de uma obra extremamente atual e certeira no diagnóstico e nas soluções que propõe.
Felippe Hermes
Editor-chefe do Blocktrends
“Why Not: como os irmãos Joesley e Wesley, da JBS,
transformaram um açougue em Goiás na maior empresa de carnes do mundo,
corromperam centenas de políticos e quase saíram impunes”, de Raquel Landim
(Intrínseca, 2019). É a história por trás de um dos maiores casos de
sucesso, se não o único, da política de campeões nacionais. Talvez uma das
melhores jornalistas da atualidade, Raquel Landim descreve a ascensão do
império dos irmãos Batista, a JBS (e a J&F). Uma história que você ainda
verá se repetir no noticiário. Vale ler, antes que o Supremo Tribunal Federal
decida que é uma obra de ficção.
Filipe Figueiredo
Colunista da Gazeta do Povo
“Revolutionary Spring: Europe Aflame and the Fight for a
New World, 1848-1849” — trad. livre: “Primavera revolucionária: a Europa em
chamas e a luta por um Novo Mundo, 1848-1849”, de Christopher Clark (Crown
Publishing Group, 2023; sem edição em português). O livro aborda a
Primavera dos Povos de 1848 e seu legado nas ideias políticas atuais, como a
democracia representativa. Também é uma valiosa obra de renovação
historiográfica, trazendo e compilando novas pesquisas sobre o período, que
ainda está preso em visões obsoletas da Guerra Fria no imaginário popular.
Recomendo também “A Invenção de Nossa América”, de Carlos Altamirano (Edusp,
2023). Nesta coletânea de ensaios, o autor argentino trata da invenção de
uma identidade própria latino-americana e a origem desse debate. Como qualquer
identidade, essa é uma visão inventada, construída, cujo processo se reflete
bastante em debates políticos atuais.
Francisco Escorsim
Colunista da Gazeta do Povo
“Êxtase e outros contos”, de Katherine Mansfield
(Antofágica, 2023). Escolho este por duas razões. Primeira, pelo centenário
de morte daquela tão admirada (e invejada) por vários escritores, cuja leitura
comprova o porquê e as releituras impressionam ainda mais, como foi meu caso
com este livro. Segunda, pelo cuidado editorial da Antofágica, não só pelo
capricho estético para além da capa, algo raro no Brasil, mas por tornar os
contos mais impressionantes pelo entremear dos belos desenhos de Giulia
Bianchi, todos representando momentos-chave das histórias, auxiliando o leitor
não apenas a imaginar melhor, mas a atentar ao que realmente importa, levando a
uma compreensão maior da obra. Além disso, o leitor pode acessar duas
videoaulas que expandem sua compreensão da vida e obra da autora. Iniciativas
assim precisam ser destacadas e celebradas.
Luciano Trigo
Colunista da Gazeta do Povo
“Consenso Inc.: O monopólio da verdade e a indústria da
obediência”, de Paula Schmitt (Avis Rara, 2023). É, de longe, o melhor
livro que li em 2023. Paula é uma das raras jornalistas que ainda fazem
jornalismo independente e sério — por definição, aquele que sempre desagrada
alguém. O livro reúne dezenas de artigos, que se articulam em um quebra-cabeça
assustador. É o panorama de um país e de uma época que lembram um filme de
horror em câmera lenta. Será leitura obrigatória para as gerações futuras que
quiserem entender o Brasil e o mundo de hoje.
Há oito blocos temáticos. No bloco “Capital”, Paula mostra
como o “sociocapitalismo” criou uma distopia na qual o principal papel do
governo é funcionar como atravessador do grande capital, cabendo ao pagador de
impostos o dever de financiar a festa. Já a seção “Política e Justiça” reúne
artigos que alertam para a normalização da perseguição desonesta da
dissidência, crescentemente desqualificada e criminalizada pelos donos do
poder.
Marcio Antonio Campos
Editor de Opinião da Gazeta do Povo
“A morte de Ivan Ilitch”, de Lev Tolstói (Editora 34,
2009). O livro que ficou famoso no Brasil em 2023 não tanto pelos seus
méritos (que são muitos), mas porque teria sido o pivô da separação da cantora
Sandy. Instigado pelo amigo Paulo Polzonoff Jr.,
li meses antes que o livro fosse parar nos sites de fofoca. É curtinho —
quantos Ivan Ilitch cabem num Guerra e Paz? — e potente, ao
narrar os últimos dias de um juiz e depois promotor que, acometido subitamente
por uma doença, percebe que viveu a vida toda… para nada. Ascendeu
socialmente, teve poder (e gostava do fato de que o destino das pessoas estava
em suas mãos), casou-se mais por cálculo que por amor, jogou o jogo dos
salamaleques, aparências e falsidades dos altos círculos e descobriu tarde —
embora não tarde demais — que tudo aquilo era apenas fumaça.
É fácil ler o Ivan Ilitch e pensar em certas figuras
da capital federal — principalmente um certo juiz calvo, mas não só ele —, e em
como seria bom que elas percebessem o que Ivan percebeu, mas ainda a tempo de
consertar tudo, e não só à beira da morte. No entanto, não são apenas poder
ilimitado e rios de dinheiro que podem fazer alguém viver uma vida estéril: há
muito mais falsos deuses por aí que podem tirar o mais comum dos mortais do
caminho de uma vida norteada pelo que realmente importa. Qualquer um de nós
pode ser um Ivan Ilitch se fizermos as escolhas erradas.
Indico também “Death is but a dream”, trad. livre: “A morte é apenas um
sonho”, de Christopher Kerr e Carine Mandorossian (Avery Publishing Group,
2020; sem edição em português), sobre as experiências de pacientes à beira
da morte; e “Prison Journal”, trad. livre: “Diário de prisão”, de
George Pell (Ignatius Press, 2020; sem edição em português), cardeal que
passou mais de um ano preso, condenado por um crime de abuso que nunca ocorreu
— ele acabou inocentado pela Suprema Corte da Austrália.
Pedro Almeida
Editor da Faro Editorial
“A Guerra Contra o Ocidente”, de Douglas Murray (Avis Rara, 2022). Neste livro singular, o autor, famoso comentarista político, consegue agregar uma miríade de fatos distintos, todos interligados por um propósito comum. Com clareza, ele explica o que cada um de nós sente que aflige o Ocidente: a progressiva concessão de espaço a ideias que secretamente visam a destruição da cultura, de nossos valores e do modo de vida mais civilizado que aqui se desenvolveu. Trata-se de uma publicação corajosa, onde o autor denuncia o mal que permeia as ideias mais aclamadas, disfarçadas de busca por justiça social.
Guilherme Macalossi
Colunista da Gazeta do Povo
“Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano”, de Kai Bird e Martin J. Sherwin (Intrínseca, 2023). Impossível ficar indiferente a uma biografia desse porte sobre um personagem tão complexo e multifacetado quanto o famoso físico americano. Os autores destrincham o personagem em cima de um amplo e metódico estudo histórico baseado em documentos e relatos.
O único porém da obra é a forma com que lidaram com a militância política de Oppenheimer e suas consequências, bem como o vazamento de informações para a União Soviética sobre a pesquisa nuclear conduzida nos EUA para o desenvolvimento da bomba atômica. Ainda assim, um livro que precisa ser lido para compreender o homem e seu tempo, num arco que vai da II Guerra Mundial até a Guerra Fria.
Thiago Braga
Colunista da Gazeta do Povo
“The Years of Hunger: Soviet Agriculture, 1931-1933” — trad. livre: “Os anos de fome: agricultura soviética, 1931-1933”, de R. W. Davies e Stephen G. Wheatcroft (Palgrave MacMillan, 2003; sem edição em português). O livro conta em detalhes todo o processo brutal da coletivização das fazendas da União Soviética: centenas de casos de canibalismo de crianças e adultos; de pais que matavam um filho para alimentar outros filhos; que não eram raros de se encontrar nos registros soviéticos. A tragédia do socialismo e suas políticas assassinas levaram à morte de mais de seis milhões de pessoas entre 1931 e 1933.
Gustavo Maultasch
Autor de “Contra Toda Censura: Pequeno Tratado sobre a Liberdade de Expressão”
“Um Cântico para Leibowitz”, de Walter M. Miller Jr. (Editora Aleph, 2020). É uma obra-prima: o livro é excepcionalmente bem escrito, o argumento é envolvente, as cenas e os personagens são profundos, bem desenvolvidos. Após um apocalipse nuclear ocorrido no futuro, a humanidade passa por uma longa idade das trevas até que, séculos depois, reconstrói-se e reciviliza-se, até estar à beira de um novo apocalipse. Os personagens principais são membros de um mosteiro católico, que por meio da fé e da crença no potencial transcendental da humanidade, lograram preservar a tradição da moral, do bom e do belo, e assim contribuíram para a sobrevivência da civilização em meio à devastação física e moral do seu entorno. É uma história de resiliência da fé e da religião, e de sua relação (nada simples nem maniqueísta) com a ciência e a razão humana.
Leandro Narloch
Jornalista e autor do “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”
“A Jornada da Humanidade: As origens da riqueza e da desigualdade”, de Oded Galor (Intrínseca, 2023). Desde o sucesso do “Sapiens” de Yuval Harari, diversos livros apareceram com a ambição de contar, numa única obra, toda a aventura humana. Este é o melhor deles, melhor até mesmo que o próprio “Sapiens”. Galor, economista, explica como os humanos conseguiram se libertar da armadilha malthusiana, explica por que algumas nações viveram um enriquecimento inimaginável enquanto outras permanecem pobres. O autor é otimista: acredita que as instituições que criamos e o imenso capital humano que acumulamos nos tornaram capazes de criar um mundo mais rico e ao mesmo tempo mais sustentável.
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noticia por : Gazeta do Povo