VARIEDADES

Pressão conservadora faz gigantes financeiros abandonarem a agenda climática

Em junho do ano passado, Larry Fink, CEO da BlackRock — a maior gestora de ativos do planeta — deu uma declaração que deixou o mercado financeiro em estado de atenção. 

“Não uso mais a palavra ESG, porque ela foi totalmente armada pela extrema-esquerda e pela extrema-direita”, afirmou Fink, referindo-se à sigla para Environmental, Social and Corporate Governance (uma espécie de selo de melhores práticas ambientais, sociais e de governança).

Em 2020, o executivo americano usou a influência da BlackRock (que atualmente administra cerca de US$ 11,5 trilhões) para obrigar empresas a adotarem políticas alinhadas principalmente à agenda climática. Segundo ele, a sustentabilidade passaria a ser um critério indispensável para investimentos, e as companhias que não se adequassem ao novo cenário ficariam sem capital.

Mas por que logo Fink, o “messias” do ESG, estaria renegando o termo apenas quatro anos depois de ajudar a popularizá-lo em escala global?

O CEO sentiu a mudança nos ventos da política dos EUA, que em novembro elegeriam Donald Trump para um segundo mandato na Casa Branca. Naquele mesmo mês, 11 estados governados por políticos republicanos entraram com processos contra a BlackRock e outras empresas de serviços financeiros (como State Street e Vanguard).

Os fundos são acusados de constranger fornecedores para impor metas radicais de emissões de carbono, violar leis antitruste, conspirar para restringir o fornecimento de carvão e promover uma agenda ambiental politizada.

Coalização energética encerra atividades após saída da BlackRock

Diante das pressões dos conservadores, a BlackRock anunciou, no último dia 9, que estava deixando a coalização energética Net-Zero Asset Managers (NZAM), criada para alinhar o setor de gestão de ativos às metas climáticas.

“Nossa saída reflete a necessidade de evitar confusões e riscos legais crescentes”, afirmou o vice-presidente da empresa, Philipp Hildebrand. 

A retirada não só desestabilizou o grupo, acabou com ele — menos de uma semana depois, a NZAM decretou o encerramento de suas atividades. 

Em um documento divulgado pela agência de notícias Reuters, a coalizão, criada em 2020 e composta por 325 signatários, atribuiu a decisão “aos recentes acontecimentos nos EUA e às diferentes expectativas regulatórias e dos clientes nas respectivas jurisdições dos investidores”. 

Grupo climático do setor bancário também entrou em colapso 

O “efeito Trump” também colocou em crise outra iniciativa semelhante, porém ligada ao setor dos credores: a Net Zero Banking Alliance. 

Conhecido como NZBA, o grupo tem visto uma fuga em massa de participantes desde o final de 2024. Os bancos Citigroup e Bank of America iniciaram o movimento, e já foram seguidos por Goldman Sachs, Wells Fargo, Morgan Stanley e JPMorgan Chase. 

Mesmo a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), organização guarda-chuva que abriga diversas coalizações climáticas, anunciou o início de um “processo de reestruturação”.  

Segundo uma nota emitida pela entidade no dia 2, seu novo foco será o apoio ao financiamento da transição energética em países em desenvolvimento. Ou seja: uma redução de sua meta original, lançada em 2021 e que buscava um alcance global. 

Corporações financeiras tendem a romper com a agenda woke 

As organizações ambientalistas têm chamado essa tendência de “retrocesso ambiental de Wall Street”. 

Inicialmente, a preocupação dos ecologistas era a guerra na Ucrânia e a consequente necessidade de substituir o gás russo na Europa. Afinal, em nome da segurança energética, o debate sobre combustíveis limpos acabaria ficando em segundo plano (o que realmente aconteceu).

Agora, o “inimigo” da sustentabilidade é o Partido Republicano dos EUA. 

“É lamentável que alianças criadas para ajudar a entregar emissões líquidas zero venham enfrentado pressões políticas para enfraquecer seus critérios de associação”, afirmou um dos líderes da ONG internacional de proteção ambiental WWF, Aaron Vermuen.

Uma guinada ao pragmatismo econômico sinalizada ainda em meados de 2024, quando o próprio patrono do ESG anunciou que abandonaria a sigla responsável por moldar discurso corporativo global nos últimos anos.

noticia por : Gazeta do Povo

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