O complexo da Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, está situada no local do Segundo Templo, espaço central de adoração judaica antes de sua destruição durante o cerco romano de Jerusalém, em 70 d.C.
Alguém pode se perguntar se aqueles que acusam Israel de “colonialismo de colonos” [quando colonizadores ocupam um território para substituir permanentemente a sociedade existente no local] já se questionaram como Al-Aqsa foi parar ali. Os judeus construíram, voluntariamente, uma versão dela como homenagem ao multiculturalismo no século VIII? Do contrário, como os muçulmanos que a construíram chegaram a Jerusalém?
Essas são perguntas retóricas, é
claro. O califado sitiou Jerusalém e a tomou dos bizantinos no início do século
VII.
Uma vez que a agenda dos
estudiosos e defensores da “descolonização” trata apenas das nações e
povos ocidentais, raramente se ouve falar das conquistas e do imperialismo do
mundo não-ocidental, que são convenientemente esquecidos por atrás de uma
narrativa de vitimização generalizada.
Toda a história humana é uma história de camadas intermináveis de conquista e derrota, de migração e exílio. Para desfazê-la, precisaríamos extinguir quase todos os povos em todos os lugares, incluindo aqueles que são atualmente retratados como irremediavelmente oprimidos.
A fase inicial da expansão árabe
do século VII foi verdadeiramente explosiva e depois continuou em um ritmo mais
lento, mas ainda impressionante.
Na verdade, foi uma das ações de conquista e um dos exercícios de colonialismo mais bem-sucedidos da história mundial. Não se tratam dos mongóis, que avançaram e depois se retiraram deixando pouco rastro. Nem dos normandos, que foram absorvidos na Inglaterra que conquistaram. Não, os árabes seguiram em sua conquista militar com um imperialismo cultural que ainda hoje é sentido.
Os árabes conquistaram a Síria, a Palestina, o Egito e a Mesopotâmia. Enfraqueceram o Império Bizantino e fizeram um grande esforço para conquistá-lo por completo – e que fracassou após dois cercos épicos a Constantinopla. Basicamente tomaram todo o império persa. Por fim, criaram um império com a maior extensão territorial desde os romanos, abrangendo 80% da população do Oriente Médio e do Norte da África, chegando ao sul da França.
Dan Jones escreve em seu livro sobre a Idade Média, ‘Powers and Thrones’ [‘Poderes e Tronos’], que “A Síria foi um dos primeiros grandes triunfos de um novo poder que estava prestes a varrer o mundo, estendendo-se até as fronteiras da China e a costa atlântica da Europa, estabelecendo um estado islâmico que abrangia mais de 12 milhões de quilômetros quadrados”.
Seus exércitos “apareceram
em toda parte, desde a Ásia Central, passando pelo Oriente Médio e o Norte da
África, pela Península Ibérica dos visigodos até o sul da França”. Em
todos os lugares que conquistaram, estabeleceram “governos islâmicos e
introduziram novas maneiras de viver, negociar, aprender, pensar, construir e
rezar.”
E também de falar e escrever. O califa Abd al-Malik impôs o árabe como língua oficial do império, um ato de grande significado cultural, uma vez que o árabe e o Islã estavam tão entrelaçados. A “arabização”, escreve Jones, “foi gradualmente seguida pela conversão em todo os territórios controlados pelos muçulmanos – uma mudança que ainda pode ser vista, sentida e ouvida em quase todas as partes do antigo califado no século XXI”.
Depois que o Islã foi imposto, esses territórios, em sua maioria, nunca voltaram atrás, exceto nos casos da Espanha, Portugal e Sicília.
Na região do Levante, em particular, como escreve o arqueólogo e historiador Alex Joffe, havia um projeto imperial que incluía a vinda de novos povos. Os colonos vieram por vontade própria ou foram enviados por autoridades políticas, incluindo os egípcios, no início do século XIX, e chechenos, circassianos e turcomenos pelas mãos dos otomanos, no final do século.
Um líder do Hamas disse uma vez: “Metade dos palestinos são egípcios e a outra metade, sauditas”.
Toda essa relocação de populações deveria ser revertida? As terras conquistadas pelos árabes há tanto tempo devem ser devolvidas aos bizantinos ou persas, ou aos seus legatários? O que Ben e Jerry pensam disso? [O autor se refere à empresa de sorvetes Ben & Jerry’s, que em 2021 anunciou a retirada de seus produtos dos assentamentos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, sob a alegação de que o conflito no Oriente Médio é “incompatível com seus valores”]
Obviamente, os entuisastas da descolonização não se importam com nada disso. Nem com o destino dos curdos, assírios e amazighs [ou berberes], povos que sofreram mais recentemente com a arabização da região mais ampla.
O que eles realmente defendem é outra ação de colonização árabe para eliminar o povo judeu, que deve sucumbir, final e completamente, à longa maré da islamização e arabização “do rio ao mar”. Não se trata de uma adesão aos direitos dos povos indígenas ou um respeito pelas pátrias ancestrais, mas da famosa formulação de Lenin, “Quem, a quem?” [que questiona quem controla quem], em um contexto diferente.
O trabalho iniciado no século VII, em outras palavras, ainda está incompleto.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês: Why Aren’t the Arabs the ‘Colonizers’?
noticia por : Gazeta do Povo