Os presidentes Javier Milei, da Argentina, Luis Lacalle Pou, do Uruguai, e Santiago Peña, do Paraguai, participaram do Fórum Llao Llao — conferência internacional que reúne líderes políticos, empresariais, acadêmicos e da sociedade civil para discutir questões de interesse global — que foi realizado na semana passada, no Hotel Llao Llao, em Bariloche, na Argentina. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva teria sido o único membro oficial do Mercosul que não recebeu o convite para comparecer ao evento, reafirmando a sua debilitada representatividade perante a comunidade internacional.
A Gazeta do Povo entrou em contato com a Secretaria de Comunicação Social (SECOM) para conseguir mais informações sobre a não participação de Lula no fórum, porém não obteve resposta.
“Brasil excluído do Mercosul! Olhe aonde o anão diplomático Lula da Silva nos levou. Inacreditável. Ninguém quer ficar perto de um sujeito que manobra para aproximar chefes de Estado do narcoditador Maduro”, comentou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em sua conta no X (ex-Twitter).
Além dos três mandatários, empresários de todo o mundo estiveram presentes para discutir sobre os últimos acontecimentos regionais e internacionais, os avanços tecnológicos, o futuro da Argentina, entre outros assuntos ligados à iniciativa privada.
A controversa política externa e as tentativas de intervenção em empresas por parte do atual governo afastam os possíveis interesses das iniciativas privadas no Brasil. Além disso, o petista enfrenta fortes críticas pelo seu posicionamento em relação às guerras na Faixa de Gaza e a invasão russa na Ucrânia .
Um evento exclusivo
O Fórum Llao Llao nasceu em 2012 com o objetivo de gerar um espaço único de conversa entre o setor empresarial, político e social. Apenas 100 empresários ao ano são convidados para fazer parte deste evento exclusivo que já realizou mais de seis edições. As reuniões são financiadas por contribuições voluntárias dos membros.
A convenção costuma ter uma duração de dois dias e as apresentações dos oradores geralmente ocorrem durante os almoços e jantares. Apesar de ser muitas vezes comparado ao Fórum de Davos, a maioria de seus convidados pertencem a empresas tecnológicas, mais habituadas a viajar para o Vale do Silício do que para Genebra.
Como todos os anos, o cronograma do evento foi mantido em sigilo até o último momento. Até mesmo os convidados não tinham conhecimento dos palestrantes. Os responsáveis pela organização do fórum optaram por se comunicar por telefone com todos os convidados para não deixar registros por escrito.
“Como todos os anos, é costume da organização convocar reuniões de todos os participantes sob as regras da Chatham House, para permitir conversas que potenciem a dinâmica”, explicam os organizadores. A Chatham House é uma organização sem fins lucrativos inglesa que tem como objetivo promover o crescimento sustentável, sociedades pacíficas e governos sem corrupção.
As regras da Chatham House determinam que os participantes podem discutir o conteúdo das conversas fora do local do evento, mas não podem revelar quem disse o quê.
A presença dos três líderes, alinhados em termos de posicionamento político, foi confirmada quase no início da convenção, e mesmo alguns convidados não sabiam com antecedência quem seria o anfitrião dos dois jantares.
Lacalle Pou chegou ao Llao Llao após o meio-dia de quarta-feira, acompanhado de empresários residentes no Uruguai, como Marcos Galperin (Mercado Livre), Martín Migoya e Guibert Englebienne, ambos fundadores da Globant, uma produtora de software. Todos eles são membros fundadores do fórum, que tomou forma institucional em 2015, embora já se reunissem informalmente desde 2012.
Peña chegou na manhã de quinta-feira, quando manteve reuniões com alguns dos empresários ali presentes. Milei encerrou o fórum com uma palestra em que pedia uma “revolução liberal” após abordar temas como a herança recebida pelo kirchnerismo, a situação econômica atual e as principais orientações da próxima fase do seu plano econômico.
“Não vou me contentar em ser como a Alemanha, quero ser como a Irlanda. Quero uma revolução liberal profunda, não acredito em uma economia dirigista”, disse o Chefe de Estado argentino.
A malfadada política externa de Lula
Apesar de retornar ao Planalto com a expectativa de “se tornar um líder internacional” viajando para mais de 24 países só no primeiro ano e passando mais de 62 dias fora do país, a intenção de Lula de “recuperar” a imagem do Brasil no exterior vem deixando muito a desejar.
Em junho do ano passado, seis meses após assumir o Executivo, o jornal francês Libération colocou o petista na capa de sua edição com o título “Lula, a decepção” e afirmou que o mandatário vem agindo como “um falso amigo do Ocidente”.
O jornal o classificou como “uma miragem ou uma imagem embaçada”, pelo seu posicionamento frente à guerra na Ucrânia. “O presidente brasileiro não é o precioso aliado que imaginávamos, especialmente quando se trata de ostracizar o novo pária do Ocidente: a Rússia, culpada de uma invasão intolerável da Ucrânia”, escreveu o Libération.
O petista ignorou por completo a responsabilidade da Rússia no caso da invasão à Ucrânia e sabotou qualquer possibilidade de se tornar um intermediador nessa crise. Esses acenos de Lula a Pequim e a Moscou o colocaram em uma posição desconfortável com os Estados Unidos e com os países europeus, que fecharam as portas para uma possível participação do Brasil em discussões internacionais.
Por sua vez, o convite ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que foi recebido pelo líder da esquerda no Brasil com honras de chefe de Estado e sua declaração a respeito de que os “problemas na democracia da Venezuela são uma questão de narrativa” também não foram vistos com bons olhos.
Maduro é acusado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) de praticar crimes contra a humanidade e, ao recebê-lo, Lula teve que escutar críticas tanto por parte da direita, como foi o caso do presidente do Uruguai, Lacalle Pou, como por parte da esquerda, como foi o caso do presidente do Chile, Gabriel Boric, que rejeitaram as palavras do petista.
Como se não fosse o suficiente, em junho deste ano, o chefe do Executivo voltou a virar destaque na mídia internacional quando comparou, durante a 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, a operação militar israelense na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus realizado por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
“É importante lembrar que, em 2010, o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem de ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, declarou Lula a jornalistas em Adis Abeba.
Segundo o Instituto Real Time Big Data, 83% dos brasileiros rejeitaram a fala de Lula sobre Israel.
Enquanto o líder da esquerda tenta estreitar laços com Cuba, Nicarágua, Líbia, Irã, Rússia, Angola, China, entre tantas outras ditaduras e autocracias, o Brasil se afasta do “mundo livre” e fica cada vez mais isolado dos possíveis futuros investimentos por parte daqueles que optam e defendem o livre mercado.
noticia por : Gazeta do Povo