“Sua fé não ajuda em nada.” Essa foi a declaração oficial do Departamento de Crianças e Famílias (DCF) de Massachusetts sobre a o processo de Mike e Kitty Burke em um programa de adoção de crianças. Embora fossem qualificados, eles falharam ao responder uma série de perguntas hipotéticas sobre orientação sexual e disforia de gênero. Os Burke disseram que amariam e aceitariam qualquer criança. Mas também afirmaram que não abririam mão de suas crenças religiosas acerca da sexualidade humana. Como resultado, não podem ser pais adotivos em seu estado.
Eles foram ao tribunal por causa disso. E parece que têm chances de vencer: quando a cidade de Filadélfia cortou laços de longa data com os Serviços Sociais Católicos, por conta do que a Igreja ensina sobre o casamento, a Suprema Corte decidiu unanimemente a favor dos religiosos.
Pelo bem de cerca de 1,5 mil crianças que precisam de cuidados em Massachusetts, espero que não leve muito tempo para que o DCF seja corrigido. Enquanto os trabalhadores de assistência social continuarem discriminando candidatos como os Burke, são as crianças que sofrem.
Mas não se trata de um caso inédito. Logo antes do bloqueio da Covid entrar em vigor, em março de 2020, o Departamento de Crianças, Jovens e Famílias de Washington trabalhou para impedir que James e Gail Blais cuidassem de sua bisneta. O motivo: os dois, que são ligados à Igreja Adventista do Sétimo Dia, deram as respostas “erradas” para perguntas hipotéticas sobre as futuras preferências sexuais da menina de um ano.
Assim como os Burkes em Massachusetts e no caso da Filadélfia, a Becket Fund for Religious Liberty, entidade especializada em liberdade religiosa, representou o casal Blais. Um juiz decidiu que “Se o único fator contra um candidato qualificado está relacionado às suas crenças religiosas, o departamento não deve discriminá-lo com base em sua crença”.
A política é provavelmente o pior lugar para se levantar esse tipo de debate. E as pesquisas indicam que as pessoas não acreditam que a liberdade religiosa esteja ameaçada nos Estados Unidos. Elas estão certas, se compararmos com a experiência dos cristãos ortodoxos no Egito ou dos padres que são regularmente sequestrados ou mortos na Nigéria. Mas isso não significa que não temos nossos problemas.
Lendo as manchetes sobre o caso da Filadélfia, podemos observar que grande parte da mídia cobriu a decisão como uma derrota dos direitos dos gays. Mas e as crianças? O tema da adoção não pode ser centrado nos adultos. Deve ser sobre as crianças.
E, só para constar, casais gays não são impedidos de ser pais adotivos no país. Em uma sociedade pluralista, temos muitas agências de adoção para escolher. E os católicos não devem ser excluídos por causa dos costumes atuais.
O episódio de Massachusetts, assim como o de Washington,
também levanta uma questão não constitucional: quando vamos parar de sexualizar
as crianças? A bisneta dos Blais, por exemplo, só tinha um ano quando a família
recorreu à Justiça. Isso me lembra da reação imediata da governadora de Nova
York, Kathy Hochul, à decisão da Suprema Corte [em 2022] sobre o aborto no caso
Dobbs [em que os magistrados entenderam que o tema cabe ao poder legislativo de
cada estado].
Ela tuitou que o “direito de escolha” de sua neta recém-nascida estava sendo negado. Mas por que deveríamos pensar na futura vida sexual – e possível decisão pelo aborto – de uma menina quando ela ainda é um bebê? Pessoas que pensam assim veem tudo através de lentes ideológicas. Realmente queremos ser como essas pessoas? E o mais importante: as crianças não merecem algo melhor de nós?
Elas precisam de famílias, e os Burke são cidadãos íntegros. Mike é um veterano da Guerra do Iraque, enquanto Kitty trabalhou com crianças com necessidades especiais. Eles possuem o próprio negócio e são ativos em sua igreja. Parecem candidatos adequados.
Deixando de lado a política e as chamadas guerras culturais, não podemos concordar que as crianças que precisam de adoção merecem ter boas famílias? Isso não importa mais do que testes decisivos com perguntas hipotéticas sobre como as crianças podem ficar confusas na adolescência?
Não há pais adotivos suficientes nos Estados Unidos. E os casos citados acima contribuem para que muitos casais desistam de se candidatar. Ainda assim, ministérios como a Aliança Cristã para os Órfãos enfatizam que, se uma família em cada igreja no país adotasse uma criança – cuidando dos órfãos como a Bíblia instrui –, o problema seria resolvido.
Não se trata de aumentar o número de cristãos. Trata-se de garantir que toda criança tenha um lar. Os cidadãos de boa vontade com certeza acreditam que proibir católicos e outras pessoas de fé religiosa tradicional de serem pais adotivos é prejudicial às crianças que precisam de uma família.
Vale a pena fazer uma oração para que possamos deixar de lado algumas de nossas discordâncias de adultos e nos voltarmos ao amor às crianças. Ter uma boa família faz toda a diferença. As crianças merecem algo melhor do que a nossa velha política. E, por Deus, elas certamente também merecem agências governamentais que parem de transformar tudo em uma questão de sexo. Vamos deixar de lado as caricaturas, pelas crianças.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês: Stop Sexualizing Children
noticia por : Gazeta do Povo