Nem sempre é fácil fazer amigos quando se é o representante de um regime que financia o assassinato de civis inocentes.
Mas o embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Qadiri, parece estar construindo bons relacionamentos. Na primeira semana de abril, ele recebeu militantes e políticos brasileiros para defender a importância da “resistência” contra Israel.
O evento aconteceu em 4 de abril. Aproximadamente 15 pessoas foram convidadas para sentar-se à mesa com o embaixador. Logo atrás dele, um retrato na parede homenageava o Aiatolá Khomeini, que transformou o Irã em uma teocracia autoritária 45 anos atrás.
Entre os presentes no encontro estava João Goulart Filho, herdeiro do ex-presidente João Goulart. Em 2018, Goulart Filho disputou a Presidência da República pelo Partido Pátria Livre. Ele terminou o pleito com 0,03% dos votos. Os 30.176 votos o deixaram em 12º lugar entre 12 candidatos.
Outro político que participou do encontro foi o deputado distrital Gabriel Magno (PT). Deputados distritais têm as mesmas funções dos deputados estaduais, mas atuam no Distrito Federal.
Fundadores do PSOL no Distrito Federal, a ex-deputada Maria José Maninha e o marido dela, Toninho Andrade, também estiveram na casa do embaixador. Maninha foi deputada federal entre 2003 e 2007. Eleita pelo PT, ela acabou deixando a sigla.
Além deles, a reunião teve a participação de Hélio Doyle, que foi presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) no atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Doyle deixou o cargo em outubro do ano passado, depois de uma sequência de publicações agressivas na rede social X. Dentre outras coisas, ele compartilhou uma publicação em que os apoiadores de Israel são chamados de “idiotas”.
Em meio ao grupo, também estava ainda o militante pró-terrorismo Sayid Tenório, demitido de seu cargo na Câmara dos Deputados por apoiar abertamente os ataques terroristas do Hamas, além de fazer comentários grotescos sobre uma jovem sequestrada pelo grupo islâmico em 7 de outubro do ano passado.
Defesa da “resistência” contra Israel
O evento do embaixador com ativistas brasileiros não foi uma reunião para tomar chá e discutir a cultura persa: a pauta era o conflito do Irã com Israel.
Sobre a mesa, fotos dos militares iranianos mortos durante um ataque nas imediações da embaixada do Irã em Damasco, na Síria, no começo do mês. Entre eles, Mohammad Reza Zahedi, um dos comandantes da Guarda Revolucionária do Irã. Ele seria um dos responsáveis pelos ataques de 7 de outubro.
O resumo do encontro, publicado na página da embaixada, afirma que os participantes “condenaram o ataque do regime sionista contra consulado Iraniano em Damasco, prestaram homenagem aos mártires e suas famílias e expressaram solidariedade ao governo e à nação iraniana”.
Segundo a embaixada, os convidados declararam apoio ao Irã. “Os representantes das organizações brasileiras presentes nesta reunião, apontando o apoio inabalável do Irã ao povo oprimido de Gaza e à causa palestina, apreciaram as posições de princípio da República Islâmica do Irã a este respeito”, afirma a embaixada.
O relato diz ainda que o embaixador “expressou a visão de princípio da República Islâmica do Irã no apoio à causa da Palestina, rejeitando o sistema de imperialismo, (…) e considerou a ‘Resistência’ como a chave para a vitória e a solução para a questão palestina”.
O uso da palavra “resistência” pelos iranianos é no mínimo ambíguo. O regime de Teerã já afirmou repetidas vezes que não reconhece a existência de Israel (a quem chama de “regime sionista) e que pretende eliminar o Estado israelense. O Irã financia diretamente grupos terroristas, como o Hezbollah, em outros países.
“Resistência” é um eufemismo para terrorismo. O regime islâmico de Teerã, reconhecido como o principal Estado patrocinador do terrorismo contra os Estados Unidos e Israel, classifica suas atividades terroristas como ‘resistência’. O regime financia, arma, treina e dirige representantes terroristas para executar ataques contra os EUA e seus aliados, incluindo Israel, com o objetivo claro de dominar o Oriente Médio”, explicou à Gazeta do Povo Farhad Rezaei, pesquisador sênior do Philos Project, uma organização com sede em Nova York.
O Irã tem se esforçado para encontrar aliados no Brasil. Recentemente, o esforço também incluiu uma visita do embaixador Universidade de Brasília
Palestra em universidade federal
Cinco dias depois do evento com militantes, o embaixador Qadiri deu uma palestra a estudantes de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Segundo a embaixada iraniana, o diplomata exaltou a teocracia iraniana e atacou o “regime sionista”.
Sayid Tenório estava lá, sentado na primeira fila.
Para Farhad Rezaei, a tentativa de aproximação do Irã com o Brasil faz parte da tentativa do governo iraniano de evitar um isolamento diplomático.
“O regime islâmico em Teerã espera usar o Brasil para combater os Estados Unidos. O regime iraniano acredita que o Brasil pode oferecer influência diplomática em questões internacionais e fornecer a Teerã uma plataforma para contrabalançar a influência americana, especialmente em organizações internacionais como as Nações Unidas e os BRICS”, ele diz.
Em janeiro deste ano, com o aval brasileiro, o Irã passou a fazer parte dos BRICS.
Ataque a Israel
Em 13 de abril, o governo do Irã disparou mais de 200 drones e mísseis rumo a Israel. Praticamente todos foram interceptados antes de atingirem o solo.
O Irã afirma que o ataque é uma resposta à ação do governo israelense que eliminou Mohammad Reza Zahedi em Damasco.
As tensões na região têm aumentado desde que o grupo terrorista Hamas conduziu um ataque terrorista de larga escala em 7 de outubro.
noticia por : Gazeta do Povo