VARIEDADES

O historiador favorito de Tucker Carlson criticou os bombardeios aliados na 2ª Guerra Mundial

Você pode ter ouvido que Tucker Carlson recentemente recebeu um podcaster simpatizante dos nazistas em seu programa.

A entrevista amigável — de fato, com um quê de admiração por parte de Carlson — gerou muitos comentários, mas eu gostaria de me concentrar em um aspecto em particular: a dura condenação do podcaster Darryl Cooper à campanha de bombardeios dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.

Embora Cooper seja muito compreensivo sobre como (aparentemente, por infeliz coincidência) os nazistas acabaram por travar uma guerra de aniquilação no Leste, ele expressa uma grande indignação moral em relação ao bombardeio das cidades alemãs.

Cooper chama isso de “terrorismo absoluto” e “o maior ataque terrorista em larga escala que o mundo já viu.” Além disso, o fato de Winston Churchill ter iniciado uma campanha de bombardeios enquanto aguardava ajuda, seja da União Soviética ou dos Estados Unidos, foi, segundo Cooper, “uma maneira covarde e feia de lutar uma guerra.”

Durante essa parte da discussão, Carlson perguntou repetidamente, com muita seriedade, o que Churchill estava tentando fazer, como se isso fosse algum mistério a ser desvendado por um podcaster qualquer.

A visão de Cooper é que Churchill procurou negar a Hitler sua vitória de direito após a conquista nazista da França, e como “tudo o que ele tinha eram bombardeiros,” ele o fez através da campanha de bombardeios que Cooper acha tão condenável.

Bem, sim. O que mais Churchill poderia ter feito?

Embora as opiniões de Cooper sejam absurdas, vale a pena discutir essa questão, pois a crítica à campanha de bombardeios dos Aliados não é apenas uma obsessão de revisionistas de direita (David Irving, um extremista negacionista do Holocausto, escreveu um livro sobre Dresden); críticos mais convencionais também se concentram nisso.

DRESDEN, 14/02/1945.- Na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945, a força aérea britânica bombardeou a cidade de Dresden. Essa foto foi tirada no dia 14 de fevereiro, e ainda era possível ver a fumaça que invadia a cidade. Os incêndios afetaram fábricas, um armazém de mercadorias, armazéns industriais, uma refinaria de petróleo e muitos outros edifícios. EFE.
DRESDEN, 14/02/1945.- Na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945, a força aérea britânica bombardeou a cidade de Dresden. Essa foto foi tirada no dia 14 de fevereiro, e ainda era possível ver a fumaça que invadia a cidade. Os incêndios afetaram fábricas, um armazém de mercadorias, armazéns industriais, uma refinaria de petróleo e muitos outros edifícios. EFE.| EFE

(Eu me baseio em vários historiadores no que segue, mas principalmente no brilhante Andrew Roberts e em seu livro ‘A tempestade da guerra: uma nova história da Segunda Guerra Mundial’, lançado no Brasil em 2012).

Primeiramente, deve-se notar — embora isso não justifique nada do que foi feito — que os Aliados não foram os primeiros nem os únicos a bombardear cidades.

Os nazistas bombardearam Varsóvia e Roterdã, com grande efeito, como parte de suas campanhas de blitzkrieg [Guerra Relâmpago].

Depois que os nazistas atingiram e queimaram a cidade britânica de Coventry em novembro de 1940, destruindo ou danificando metade das casas, eles cunharam o neologismo coventrieren para denotar a destruição de uma cidade.

Em abril de 1941, lançaram a Operação Punição para vingar um golpe antinazista na Iugoslávia. Eles atingiram o centro de Belgrado, que “não tinha nenhum objetivo militar aparente”, segundo um relato da Radio Free Europe/Radio Liberty. O bombardeio “destruiu grande parte do centro da capital, matou milhares de pessoas e eliminou grande parte do patrimônio cultural publicado da Sérvia quando a Biblioteca Nacional foi incendiada.”

A Batalha da Grã-Bretanha, nem é preciso dizer, foi uma campanha para subjugar a Inglaterra a partir do ar. Se os nazistas tivessem conseguido destruir a Força Aérea Real, eles teriam lançado uma invasão para conquistar a Inglaterra. Isso não aconteceu, mas não por falta de tentativa. Após os britânicos lançarem pequenos ataques aéreos em Berlim, Hitler mudou de tática, passando de alvos das instalações aéreas britânicas e aviões para ataques diretos a Londres no Blitz.

Não temos nenhuma palavra de Cooper sobre se ele considera o Blitz honroso, mas isso desviou os nazistas do que deveria ter sido o esforço principal — continuar a atingir a Força Aérea Real — e foi ineficaz porque os nazistas não tinham a quantidade e qualidade de bombardeiros necessários para concretizá-lo.

Isso nos leva ao ponto de Cooper de que Churchill só tinha bombardeiros. Isso não é verdade porque Churchill também tinha caças — os gloriosamente eficazes Spitfires, em primeiro lugar — e uma enorme marinha. Essa constelação de forças não era uma tática covarde, mas uma escolha estratégica sensata para uma nação insular relativamente pequena.

Acontece que Hitler não conseguiu subjugar a Grã-Bretanha porque não tinha as forças aéreas ou navais para o trabalho. Assim, ele perdeu tanto a Batalha da Grã-Bretanha quanto a Batalha do Atlântico — e, em última análise, a guerra.

A sugestão de Cooper de que a batalha terrestre é menos covarde e mais masculina do que outras formas de conflito é absurda. Atrocidades à parte, a guerra no Leste foi edificante? Stalingrado e Kursk foram algo além de horrores completos?

Dada a escolha, qualquer pessoa racional preferiria lutar a Segunda Guerra Mundial no modelo britânico e norte-americano, que enfatiza o poder aéreo e naval e supera os inimigos até a exaustão, em vez do modelo alemão ou soviético, de travar batalhas de atrito em campanhas terrestres tremendamente destrutivas e custosas. (As vitórias Blitzkrieg alemãs no início e os sucessos iniciais, embora ilusórios, em Barbarossa foram exceções.)

Dito tudo isso, é difícil exagerar a escala da campanha aérea dos Aliados. O Comando de Bombardeiros lançou quase um milhão de toneladas de bombas. Devastamos dezenas e dezenas de cidades alemãs.

Qual era a alternativa?

Logo no início, os britânicos poderiam ter dito ao seu próprio povo e aos americanos: “Desculpem, vamos apenas ficar quietos por enquanto. Não temos meios para atingir a Alemanha nazista que atendam aos nossos padrões morais rigorosos, então vamos esperar até que algo surja.”

Isso teria sido intolerável enquanto a Grã-Bretanha não optasse pela preferência de Cooper para fazer Hitler capitular. (Além disso, é claro, os soviéticos não teriam ficado felizes se, incapazes e relutantes em lançar uma invasão prematura da França, recusássemos até mesmo bombardear a Alemanha nazista.)

Quando se descobriu, por meio de experiências dolorosas, que os ataques diurnos eram muito custosos, os britânicos rapidamente mudaram para ataques noturnos. Estes não eram particularmente precisos e se transformaram em esforços para destruir centros industriais e suas vizinhanças em “bombardeios de área.” A ideia era colapsar o moral alemão e interromper e negar habitação à força de trabalho da qual os nazistas dependiam para sua produção de guerra.

Quando os EUA entraram na guerra, focamos em ataques diurnos para tentar atingir indústrias específicas relacionadas à guerra. Como Andrew Roberts aponta, no entanto, como tais instalações estavam localizadas em áreas densamente povoadas e os bombardeios careciam de precisão, a distinção entre bombardeio de precisão e bombardeio de área era tênue. Ele cita um oficial da Força Aérea dos EUA que disse o seguinte após a guerra: “A RAF realizou ataques de precisão em alvos de área, enquanto a USAAF realizou ataques de área em alvos de precisão.”

DRESDEN, 13/14-02-1945.- Vista aérea de Dresden durante o intenso bombardeio a que a RAF submeteu a cidade na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945. As forças aliadas realizaram quatro ataques consecutivos que duraram até o 15, durante o qual foram descarregadas pelo menos 4.000 toneladas de bombas explosivas, matando entre 25.000 e 40.000 pessoas. EFE.
DRESDEN, 13/14-02-1945.- Vista aérea de Dresden durante o intenso bombardeio a que a RAF submeteu a cidade na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945. As forças aliadas realizaram quatro ataques consecutivos que duraram até o 15, durante o qual foram descarregadas pelo menos 4.000 toneladas de bombas explosivas, matando entre 25.000 e 40.000 pessoas. EFE.| EFE

Ao longo da guerra, engajamo-nos em operações tanto para eliminar indústrias alemãs específicas — por exemplo, a produção de caças na preparação para o Dia D — quanto para atingir centros populacionais para tentar colapsar o moral alemão ou, como disse o chefe da RAF, Arthur “Bomber” Harris, interromper a “vida comunitária civilizada em toda a Alemanha.”

Voltemos ao ponto de Cooper de que tudo isso foi “covarde”: Antes de estabelecer a superioridade aérea, os Aliados sofreram enormes perdas no ar e só puderam conduzir a campanha graças à bravura sacrificial de inúmeros aviadores. Cerca de 44% da tripulação aérea do Comando de Bombardeiros foi morta durante o curso da guerra.

A lógica da guerra total significava que cada peça de material nazista que não fosse destruída do ar, ou que não evitássemos que fosse produzida, teria que ser eliminada por outros meios sangrentos de combate. E cada dia que o conflito se prolongava significava mais crueldade e sofrimento indescritíveis para todos os envolvidos, desde os soldados Aliados até os civis alemães e, obviamente, os judeus que ainda não haviam sido assassinados no genocídio nazista.

O impulso de encerrar a guerra o mais rápido possível, com os B-17s e Lancasters fazendo sua parte, foi obviamente a escolha correta.

Certamente há críticas justas à campanha de bombardeios, e pessoas razoáveis podem discordar sobre se e como ela deveria ter sido calibrada. Mas a rejeição total dela, representada por Darryl Cooper, provavelmente implica uma questão muito mais fundamental: de que lado você está?

©2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês: Why We Bombed

noticia por : Gazeta do Povo

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