Pastor titular da National Community Church, com sede na capital norte-americana, Mark Batterson também é autor de mais de 20 livros de grande sucesso no segmento de autodesenvolvimento — inclusive entre leitores que não são cristãos.
Em ‘Um Dia por Vez’, lançado no Brasil pela editora Vida, ele parte da ideia de que o destino humano é construído por meio de bons ou maus hábitos diários. E, se quisermos transformar nossas vidas, devemos “reescrever” nossos desejos e recompensas.
Para transmitir essa mensagem, Batterson usa exemplos científicos, bíblicos e até da publicidade, como você pode ler no trecho a seguir.
Cem anos atrás, apenas 7% dos americanos escovavam os dentes. Eu sei, é nojento!
Quando os Estados Unidos começaram a escolher recrutas para a Primeira Guerra Mundial, havia tantos soldados com dentes podres que essa falta de higiene veio a representar um risco à segurança nacional.
E como a escovação de dentes se tornou um hábito no país? Antes de responder, deixe-me voltar aos gânglios basais, a parte do cérebro que armazena padrões recorrentes e lembra ações repetidas.
É a maneira como vamos do quarto para o banheiro no meio da noite. A propósito, é a maneira como dirigimos veículos de duas toneladas em pistas de três metros à velocidade de 100 quilômetros por hora.
É muito diferente, claro, da primeira vez que você tentou andar no escuro em um lugar desconhecido, não? Em vez de encontrar o banheiro, provavelmente você bateu a cabeça na porta ou acertou um móvel com a canela!
Dito isso, com o tempo ficamos tão especialistas em rotinas repetitivas que podemos fazê-las de olhos fechados.
Meu exemplo favorito? Michael Jordan arremessando um lance livre com os olhos fechados contra o Denver Nuggets durante a temporada de 1991 da NBA. Sim, ele conseguiu.
E como tudo isso se relaciona com a escovação de dentes? Em 1929, uma empresa fabricante de creme dental chamada Pepsodent lançou uma campanha de marketing que transformaria os hábitos de um país.
Em poucos anos, mais da metade da população americana passou a escovar os dentes todos os dias. Eu sei, ainda nojento, porque quase metade não escovava.
Mas isso representa uma das mudanças estatísticas mais importantes de todos os tempos nos hábitos diários!
O gênio por trás da campanha foi um publicitário chamado Claude Hopkins, e o segredo foi criar um estímulo. Enquanto pesquisava livros a respeito dos dentes, Hopkins notou a placa de mucina [proteína que faz parte da composição do muco] que cobre nossos dentes.
Hopkins chamou-a de “a película” e transformou isso em estímulo. “Passe a língua nos dentes”, dizia a propaganda da Pepsodent. “Você vai sentir uma película — é o que faz você sentir que seus dentes estão ‘sem cor’ e provoca a cárie”.
Além de criar um estímulo, Hopkins criou um desejo. Os ingredientes secretos da Pepsodent eram ácido cítrico e uma pequena quantidade de óleo de hortelã.
A mistura desses elementos criava uma sensação de formigamento na língua que as pessoas equiparavam a dentes limpos. A sensação de formigamento era o prêmio.
O ciclo do hábito é um processo de três passos por meio do qual os hábitos são formados.
Um, o estímulo ativa uma reação automática. Dois, o padrão recorrente é colocado no modo repetição. Três, o prêmio funciona como uma cenoura balançando à frente.
Para criar ou eliminar um hábito, você precisa identificar o estímulo, interromper o padrão recorrente e imaginar o prêmio. Intencionalmente ou não, Claude Hopkins conseguiu pôr os três em prática na Pepsodent.
O estímulo levava as pessoas a passar a língua nos dentes. O prêmio era a sensação de formigamento após a escovação. O padrão recorrente era separar alguns minutos para escovar os dentes antes de dormir, enxaguar a boca e repetir na manhã seguinte!
A sensação de formigamento causada pela escovação tem apenas um século de existência, mas aproveitar os cinco sentidos para formar um hábito é tão antigo quanto o incenso.
Você sabia que dez capítulos de Êxodo são dedicados à estética do tabernáculo, até a cor das cortinas, o feng shui dos móveis e a receita precisa do incenso? O Diabo não está nos detalhes — Deus está.
A pergunta, claro, é: por quê? Antes de responder, deixe-me compartilhar um de meus estudos favoritos.
A pipoca estourada na hora contém uma mistura complexa de 23 componentes de odor. Quando o cheiro da pipoca toma conta da sala de cinema, provoca algo mais que fome. Aumenta a capacidade de trazer recordações à mente.
Em termos simples, o cheiro da pipoca é um estimulante da memória. Por que gosto tanto desse estudo? Porque a National Community Church se reuniu em salas de cinema durante 25 anos!
“Louvado seja o Senhor, e passe a pipoca!”. Esse é o título de um artigo escrito a nosso respeito durante nossos primeiros tempos como igreja, e passou a ser um de nossos lemas. O cheiro da pipoca é nosso incenso na NCC.
Para os frequentadores de cinema, o cheiro da pipoca ativa os trailers de abertura. O cheiro da pipoca me faz lembrar da adoração!
Se esses estudos sobre memória forem precisos, talvez nossos congregados tenham a melhor lembrança de sermões de todo o país! Por que Deus transmitiu aos sacerdotes uma receita tão precisa para o incenso usado no tabernáculo?
Pela mesma razão que leva as empresas a gastarem milhões de dólares para criar um aroma único, capaz de estimular os nervos olfativos. Como o do Cinnabon [pãozinho recheado com canela e açúcar, produzido por uma rede americana de panificação].
O aroma estimula a salivação, mesmo a da pessoa mais santificada entre nós! Deus estava empilhando hábitos quando utilizou um aroma único para estimular a lembrança da adoração. Era uma rotina tão comum como a escovação de dentes para nós.
Arão queimará incenso aromático sobre o altar todas as manhãs, quando vier cuidar das lâmpadas, e também quando acendê-las ao entardecer. Será queimado incenso continuamente perante o Senhor, pelas suas gerações. [Êxodo 30.7-8]
Toda vez que o povo se aproximava do lugar de adoração, o aroma do incenso evocava lembranças relacionadas com a adoração. Era um estímulo ao povo, seu chamado à adoração.
E essa é a ponta do iceberg. Pelo mesmo motivo, eles usavam borlas nas extremidades das roupas, chamadas tzitzit.
Esse costume não tinha relação com a moda. Eram estímulos físicos para que o povo se lembrasse dos mandamentos. Pela mesma razão, os israelitas penduravam mezuzás (lembretes rituais) nos umbrais das portas.
Não estamos falando de rituais antigos ou superstições tolas, mas de algo simplesmente genial! Deus estava ajudando seu povo a formar hábitos. Como? Criando estímulos extraídos das rotinas diárias.
Uma das melhores maneiras de criar estímulos é tirar proveito da hora de dormir. Qual a última coisa que você faz todos os dias?
Em vez de se dedicar às redes sociais, feche os olhos e confesse seu pecado. Em vez de contar carneirinhos, conte bênçãos.
Qual a primeira coisa que você faz ao se levantar pela manhã? Aqui vai uma ideia: ajoelhe-se ao lado da cama por alguns minutos durante nosso desafio de 30 dias!
A postura física é um estímulo poderoso. Ela afeta a postura do coração, e vice-versa. Quando você se ajoelha e ora, o restante de seu dia é definido. Tudo isso é mais fácil de falar que fazer, por isso vou retornar à ideia do desejo ardente.
Você pode se disciplinar por uns tempos, mas é necessária uma mudança duradoura de dentro para fora. Como? Mudando seus desejos. Reescrevendo as recompensas. Renovando sua mente.
“Até você tornar o consciente inconsciente”, diz Carl Jung, “ele irá dirigir sua vida, e você vai chamá-lo de destino”.
De acordo com o psicólogo molecular Stephen Smith, há mais de 125 trilhões de sinapses no córtex cerebral. Isso é equivalente ao número de estrelas em 1.250 galáxias como a Via Láctea!
Cada fenda sináptica mede menos de 1 milésimo de milímetro. Na formação de hábitos, toda a mágica acontece nessa fenda microscópica. A propósito, ela é tão pequena que o grão de mostarda lhe parece imenso!
Por que é tão difícil criar e eliminar hábitos? A resposta curta é: dopamina, um dos sete neurotransmissores de pequenas moléculas que transmitem mensagens químicas entre as células nervosas.
Ela é considerada o neurotransmissor do bem-estar, que treina nosso cérebro para buscar experiências agradáveis e evitar as desagradáveis. Também exerce um papel principal no planejamento ajudando-nos a prever o impacto das atividades do dia a dia.
“Provavelmente estamos 99,9% inconscientes da liberação da dopamina”, diz o neurocientista Read Montague. “Mas provavelmente somos 99,9% movidos pelas informações e emoções que ela transmite às outras partes do cérebro”.
Sei que parece complicado, e é. Contudo, esse pequeno fato me proporciona uma medida extra da graça quando não entendo por que as pessoas fazem o que fazem.
É claro que o isso também se aplica a mim! “Não entendo o que faço”, diz o apóstolo Paulo. “Pois não faço o que desejo, mas o que odeio”.
Há muitos mistérios no universo, porém o maior deles talvez seja a massa cinzenta de 1,8 quilo dentro do crânio humano. É onde as memórias são armazenadas, os sonhos concebidos e os hábitos formados. É também onde o Espírito Santo realiza seu melhor trabalho.
Da mesma forma que paira sobre toda a criação, ele reside dentro dos trilhões de sinapses que se cruzam no córtex cerebral, santifica nossa amígdala cerebral com impulsos e consagra nossos gânglios basais com estímulos.
“Deleite-se no Senhor”, diz o salmista, “e ele atenderá aos desejos do seu coração”.
Correndo o risco de simplificar demais algo místico, podemos dizer que Deus altera nossa neuroquímica imaginando novos desejos dentro de nós. Vamos tentar entender essa ideia como seres humanos.
Como fazer disso um hábito? Empilhe o hábito!
Muitos anos atrás, fizemos uma pequena experiência na National Community Church. Demos a ela o nome de Experilent, porque foi feita durante a época litúrgica da Quaresma.
Às 7h14min de cada manhã, ajoelhávamos onde quer que estivéssemos. O momento mais memorável para mim foi ajoelhar-me no portão D8 do Aeroporto de Cleveland. Será que me senti um pouco constrangido? Claro!
Mas não queria quebrar a corrente. Um pouco de meu orgulho morreu quando me ajoelhei na sala de espera do aeroporto, e isso não é apenas uma coisa boa. É coisa de Deus.
Se você vai interromper um padrão recorrente, precisa fazer uma experiência com estímulos diferentes. Como? Empilhando hábitos para potencializar suas rotinas normais Significa juntar hábitos difíceis de criar com coisas que fazemos normalmente e com naturalidade.
Meu escritório localiza-se bem em cima da cafeteria de nossa propriedade e que gerenciamos. Portanto, começo o dia com um pequeno latte, duas doses de café expresso. Por quê? O Espírito Santo + cafeína = superlegal!
O latte é o estímulo para meu plano de leitura diária da Bíblia. O prêmio é a cafeína, que, em minha experiência, torna a leitura bíblica ainda melhor!
Um segredo para empilhar os hábitos é fazer a engenharia reversa das rotinas diárias e encontrar meios de administrá-las.
Transforme seu trajeto de ida e volta à sala de aula ouvindo audiobooks. Em vez de surfar no sofá, exercite-se enquanto vê televisão.
É possível até aproveitar o tempo que você passa no banheiro. Como? Deixe um livro lá! Dessa maneira, qualquer um pode ler um livro em um mês — e alguns de vocês conseguem mais que isso.
Você sabia que seu corpo é composto de dois terços de água? Você é uma Veneza com todos os seus canais. Seu cérebro é composto de 73% de água. Seus pulmões, de 83% de água. Seus músculos, de 79% de água. E até seus ossos, de 31% de água.
O assunto é sério — a água é importantíssima para nossa saúde geral. Elimina as impurezas, melhora o sistema imunológico e conduz as correntes elétricas através das sinapses.
Você sabia que quatro quintos de nosso corpo são desidratados por dia? O adulto normal produz um quarto e meio de urina diariamente, e perdemos outro um quarto e meio através da pele.
Meu recado? Encha sua garrafa de água depois de ir ao banheiro! E só volte ao banheiro depois de beber toda a água da garrafa.
E, quando sentar-se no vaso sanitário, em vez de ficar mexendo no celular escolha aquele livro e comece a lê-lo! É uma forma simples de potencializar algo que fazemos todos os dias.
Empilhe o hábito!
noticia por : Gazeta do Povo