Recentemente, o ex-candidato a deputado estadual Lucas Pavanato (que era do Novo e migrou para o PL neste ano) tornou-se réu da Justiça Eleitoral de São Paulo por supostamente ter praticado “violência política de gênero” contra mulheres de esquerda (incluindo as ex-deputadas do PCdoB Manuela d’Ávila e Isa Penna) nas últimas eleições. Pavanato foi acusado de constranger mulheres em um evento na PUC-SP, em abril do ano passado, filmando-as e fazendo provocações. No vídeo publicado por ele na ocasião, no entanto, não há ofensas, apenas questionamentos sobre os posicionamentos das mulheres presentes ao evento em relação ao aborto, além de críticas às pautas feministas.
Chamado de “cocozinho” por d’Ávila, o ex-candidato chegou a ouvir de um grupo de mulheres o bordão “se cuida, seu machista. A América Latina vai ser toda feminista”. A defesa apaixonada das pautas femininas, no entanto, parece se aplicar apenas quando as pessoas agredidas (ou supostamente) não são ligadas a ideias conservadoras.
Confira algumas vezes em que o feminismo abandonou mulheres em 2023, simplesmente porque suas convicções não despertam a simpatia da esquerda:
Insultos à deputada Ana Campagnolo
No último dia 19, a deputada Ana Campagnolo (PL-SC) foi insultada por militantes durante sessão da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (SC), aos gritos de “fascista” e “conselho tutelar”, simplesmente por estar em plenário acompanhada de suas duas filhas, uma de três anos e uma de 14 dias. Segundo a parlamentar, que renunciou à licença-maternidade de seis meses para defender pautas em tramitação — e que tem atestado médico liberando a recém-nascida para acompanhá-la — os sindicalistas chegaram a ameaçá-las de violência física.
A assessoria de Campagnolo entrou em contato com órgãos de proteção à mulher para solicitar um posicionamento sobre o ocorrido, mas ninguém se manifestou. “Dependendo do lado em que você está, mulheres e crianças não são dignas de proteção e respeito por parte de quem vive de relativismo”, lamentou a parlamentar em suas redes sociais. Segundo ela, o episódio é “um retrato do que é a ‘democracia relativa’ defendida pela esquerda”.
Presas esquecidas do 8/1
Depois de passar sete meses presa pelos atos de 8/1, a engenheira civil Regina Aparecida Modesto, de 54 anos, que tem histórico de câncer, recebeu uma ordem de despejo devido a parcelas atrasadas de sua “casa dos sonhos”. Depois de perder contratos e clientes de multinacionais, ela precisou recorrer a uma vaquinha online para tentar pagar a dívida e manter a posse do imóvel, localizado na Serra da Cantareira, em São Paulo.
Embora não tenha cometido atos de vandalismo, chegando a ser reconhecida pelos policiais em audiência de instrução como alguém de “conduta pacífica dentro do plenário do Senado”, segundo o advogado Hélio Junior, ela conta que ficou 24 horas sem comida e passou meses por torturas psicológicas e físicas, incluindo ser revistada nua e receber comida azeda e com terra.
Outra esquecida pelo movimento feminista foi a pastora e assistente de enfermagem Sandra Maria Menezes Chaves, de 49 anos, que conta ter viajado para Brasília para “uma passeata de oração”. Presa durante sete meses por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), ela está sendo julgada pela Corte, podendo ser condenada a 14 anos de cárcere, além do pagamento de indenização. Relator dos casos de 8/1, o ministro Alexandre de Moraes já votou pela condenação de 29 pessoas. Os demais magistrados têm até 5 de fevereiro para se manifestar.
Revistas femininas ignoram estupros
Embora a violência contra a mulher seja um tema de interesse recorrente de revistas e portais femininos brasileiros, as publicações do gênero sequer mencionaram os crimes sexuais cometidos pelo Hamas em Israel, desde outubro. Enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o presidente norte-americano, Joe Biden, ONGs de direitos humanos e veículos de notícias internacionais afirmaram que o grupo terrorista tem usado sequestros, violações e assassinatos de mulheres como armas de guerra, as principais revistas femininas brasileiras ignoraram as denúncias.
Silêncio da ONU Mulheres
Orgulhosa de ser a “campeã global da igualdade de gênero”, a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, que atuou na defesa feminina em muitas ocasiões — como quando o Talibã assumiu o poder no Afeganistão, após a retirada fracassada dos Estados Unidos em 2021 —, optou pelo silêncio diante da extrema violência praticada pelo Hamas contra mulheres em Israel.
Questionada pela revista conservadora americana National Review sobre a situação, a ONU Mulheres respondeu que “tem apoiado as mulheres palestinas desde 1997 a alcançarem seus direitos sociais, econômicos e políticos. Continuamos presentes no terreno para fornecer apoio e assistência e faremos isso durante o tempo que for necessário”. Após o “ataque de 7 de outubro do Hamas a Israel e os subsequentes ataques israelenses a Gaza”, a comissão disse que trabalhará com o Fundo Humanitário e para a Paz das Mulheres para investir 10 milhões de dólares com o objetivo de “promover a participação e a liderança das mulheres no planejamento e na resposta a crises humanitárias; e melhorar a segurança, a proteção e a saúde mental de mulheres e meninas e assegurar seus direitos humanos”. Sobre os estupros e assassinatos de bebês pelo Hamas, porém, a entidade não se manifestou.
Cruzada abortista de Kamala Harris
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, anunciou neste mês que fará uma turnê pelo país em 2024 para defender as “liberdades reprodutivas das mulheres”, um eufemismo para o aborto. Em 22 de janeiro, aniversário da decisão Roe v. Wade, de 1973, Harris irá para Wisconsin. Os demais destinos não foram anunciados. De acordo com um comunicado enviado à imprensa, a vice de Biden “sediará eventos que destacam os danos causados por essas proibições ao aborto, ao mesmo tempo em que compartilhará histórias daquelas que foram afetados”. Poucos dias antes, os responsáveis pela candidatura Democrata à reeleição disseram aos jornalistas que fariam do aborto uma questão central na próxima campanha.
Em entrevista à CBS News, em setembro, Harris se recusou a dizer até quantas semanas gestacionais apoia o aborto. “Precisamos restaurar as proteções de Roe v. Wade. Não estamos tentando fazer algo novo”, esquivou-se.
Somente no Texas, quase 10 mil bebês adicionais nasceram em nove meses, após leis mais restritivas ao aborto serem implantadas, de acordo com uma análise da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. Considerando-se que cerca de metade dos nascimentos no Estado são femininos e metade masculinos, as leis antiaborto salvaram perto de 5 mil mulheres da morte no Texas, entre abril e dezembro de 2022 (a análise considerou grávidas de pelo menos sete semanas em setembro de 2021, quando quase todos os abortos a partir do momento da concepção passaram a ser proibidos, além de mulheres que engravidaram a partir desta data).
noticia por : Gazeta do Povo