VARIEDADES

Morre Ian Wilmut, pai da clonagem que fez a ovelha Dolly

O biólogo britânico Sir Ian Wilmut, o “pai” da
ovelha Dolly, primeiro mamífero clonado a partir de células adultas, morreu aos
79 anos, anunciou nesta segunda-feira (11) o Instituto Roslin de Edimburgo.

Wilmut nasceu um mês depois do Dia D, no bucólico vilarejo
de Hampton Lucy, na parte central da Inglaterra, com cerca de 600 habitantes
atualmente, a seis quilômetros da cidade natal de William Shakespeare. Desde
cedo ele teve interesse por atividades da vida rural, especialmente por criar
ovelhas. Ele fez graduação no Agricultural College da Universidade de
Nottingham e, em 1966, seu último ano de curso, ganhou a primeira bolsa de
pesquisa para trabalhar por um verão na Unidade de Fisiologia e Bioquímica
Reprodutiva, parte da Universidade de Cambridge.

No Reino Unido, é comum que estudantes saltem da graduação
direto para o doutorado. Wilmut obteve em 1971 seu título de doutor com uma
tese que desenvolvia técnicas para congelamento e preservação de espermatozoides
de javali. Essas técnicas, chamadas de “criopreservação”, foram desenvolvidas
em seu trabalho também para embriões. Apenas dois anos depois da tese, ele
conseguiu implantar e levar a termo a gestão de um embrião de vaca previamente
congelado. O bezerro foi batizado “Frostie”, algo como “Geladinho”.

No mesmo ano do bezerro, ele foi nomeado para chefiar
pesquisa na Organização de Pesquisa em Criação Animal, nome original do
Instituto Roslin — Roslin é uma cidade escocesa localizada ao sul da capital
Edimburgo. Foi lá que Ian Wilmut se aprofundou no entendimento do
desenvolvimento dos animais, em especial o que causa a morte dos embriões. Na
década de 1980, o instituto foi incentivado pela liderança e o governo a dar
foco à engenharia genética. Em particular, eram inseridos genes para produzir
proteínas de interesse médico em ovelhas. O biólogo inglês não foi grande
entusiasta dessa mudança, mas ajudou com seus conhecimentos de embriões, logo
desenvolvendo técnicas para injetar DNA na célula que se forma imediatamente
após a fecundação.

Antes da famosa ovelha Dolly veio a ovelha Tracy, geneticamente
modificada para produzir uma proteína usada para tratar fibrose cística e enfisema
em humanos. O biólogo e sua equipe desenvolveram a técnica pioneira que levou
ao nascimento da famosa ovelha em 5 de julho de 1996 e revolucionou o campo da
clonagem genética.

A ideia da técnica foi proposta em 1928 por um embriologista
alemão: tomar o núcleo de uma célula não-reprodutiva comum e inserir no
citoplasma de um óvulo cujo núcleo original foi removido. Wilmut e sua equipe começaram
com quatro carneiros gerados a partir da inserção de núcleos de células
embrionárias em óvulos, em 1989. Dois anos, geraram duas outras ovelhas, dessa
vez com células embrionárias mais avançadas, de nove dias de idade.

Quando chegou o inverno de 1995 para 1996, a equipe estava
preparada para avançar para o uso de núcleos de células de organismos mais
velhos. Dois clones vieram de células de fetos com 26 dias de desenvolvimento,
e, finalmente, células da glândula mamária de uma ovelha de seis anos de idade foram
usados — daí veio Dolly. O primeiro clone (organismo geneticamente idêntico a
outro) com origem em núcleo de uma célula de organismo adulto foi o sortudo
entre 277 embriões implantados em 13 fêmeas: todos os outros não deram em gestações.
O nome foi homenagem à cantora americana Dolly Parton. A existência do clone
foi mantida em segredo até 1997. Esta grande perda de embriões do processo
levaram o cientista inglês a concluir que o processo seria ineficiente e
antiético em humanos.

“O trabalho de Wilmut teve um alcance global”, disse
Bruce Whitelaw, diretor da instituição escocesa onde a descoberta foi feita,
que enfatizou que seu legado continua a inspirar inúmeras descobertas em
“pesquisas de biologia humana e animal”.

O cientista ganhou vários prêmios, exceto o Nobel, e se
tornou cavaleiro da coroa britânica (Sir) sob a rainha Elizabeth II em 2007. Ele
se aposentou do mundo acadêmico em 2012 e, seis anos depois, tornou público que
sofria do mal de Parkinson.

“Ele foi um titã, cujo trabalho transformou o
pensamento científico de sua época”, declarou Peter Mathieson, diretor e
vice-chanceler da Universidade de Edimburgo. “O impacto de seu trabalho
perdurará por gerações. Ele era um cientista, mentor e amigo extremamente
respeitado”, acrescentou.

Até Dolly, a comunidade científica acreditava que as células
adultas especializadas só continham informações para realizar sua função
específica e era considerado muito improvável que elas dessem origem a um
animal completo.

Para chegar a esse resultado, Wilmut liderou uma grande
equipe de cientistas de diversas áreas, incluindo embriologia, cirurgiões,
veterinários e especialistas em criação de animais. O processo ganhou o nome de
“transferência nuclear de célula somática”, e não teve grande sucesso em ser
replicado entre primatas. Não há casos confirmados de seres humanos que tenham
sido gerados pela técnica, no momento ela é usada por poucos laboratórios que
estudam estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, e os embriões gerados
param de se desenvolver espontaneamente.

Dolly teve várias crias entre 1998 e 2000 e desfrutou de uma “qualidade de vida normal” – de acordo com a descrição do Instituto Roslin — até fevereiro de 2003, quando foram descobertos vários tumores em seus pulmões e foi decidida a eutanásia para poupar o sofrimento do animal.

Com informações da Agência EFE.

noticia por : Gazeta do Povo

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