VARIEDADES

Guerra e Moralidade: a ética da guerra a partir de uma perspectiva judaica

É impossível ler o novo livro do Rabino Shlomo Brody, ‘Ethics of Our Fighters: A Jewish View on War and Morality’ [Ética dos Nossos Combatentes: Uma Visão Judaica sobre Guerra e Moralidade, sem edição no Brasil] (Editora Maggid, 412 pp., US$32.95), sem pensar, é claro, no massacre em Israel e na subsequente guerra em Gaza. Embora o livro tenha sido escrito antes de 7 de outubro, suas reflexões sobre os dilemas morais inerentes à guerra ganharam significado adicional após o ataque do Hamas.

A Ética de Brody, cujo título faz alusão ao ético tomo rabínico “Ética dos Pais”, apresenta várias questões desafiadoras. Como um exército pode manter sua humanidade contra um inimigo que visa maximizar as baixas civis em seu próprio lado? Como um país pode lutar com padrões morais contra um inimigo que não os tem? O que exatamente significa “proporcionalidade” na guerra? Deveria a imagem pública de um país influenciar sua conduta na guerra? Um país deveria mostrar misericórdia, mesmo depois que mostrar misericórdia se voltou contra ele repetidamente? Quanta ajuda humanitária, se alguma, um país deve fornecer à população civil do inimigo?

O livro não fornece soluções rápidas e simples. Em vez disso, a Ética serve como uma bússola no mundo confuso da moralidade em tempo de guerra. Brody apresenta várias doutrinas para os líderes considerarem ao ponderar se e como travar a guerra. Ele chama seu conceito mais inovador de “Estrutura Multivalor Judaica” (EMJ), que consiste em nove princípios morais relevantes para a execução de qualquer operação militar:

  1. A Dignidade da Humanidade: Cada pessoa, independentemente de seu status como amigo ou inimigo, é feita à imagem de Deus e, portanto, deve ser tratada com um nível básico de respeito.
  2. O Erro Inerente do Derramamento de Sangue Ilícito: Cada vida é sagrada, e o derramamento de sangue desnecessário deve ser evitado.
  3. Responsabilidade Individual: Cada pessoa é primariamente responsável por suas ações e, idealmente, deve suportar totalmente as consequências de suas ações sozinha.
  4. Visão de Paz Mundial: A humanidade deve se esforçar em direção ao ideal bíblico de um fim para todas as guerras.
  5. Guerra em Busca da Justiça: A guerra deve ser conduzida apenas em autodefesa, para proteger a terra natal ou para livrar o mundo do mal.
  6. A Guerra, por sua Natureza, é um Assunto Coletivo: A guerra envolve cidadãos e soldados arriscando suas vidas por seu país e requer prontidão para combater o inimigo.
  7. Parcialidade Nacional: Líderes políticos e cidadãos têm o dever de proteger seu próprio povo, como uma extensão da responsabilidade moral mais ampla de priorizar compromissos com família, camaradas, comunidade e nação.
  8. Bravura e Coragem: Em conflito, deve-se ser corajoso e não temeroso. Embora seja nobre se preocupar com matanças errôneas, também é necessário lutar com valor.
  9. Honra Nacional: Nenhuma ação deve ser tomada que prejudique Deus ou desonre Seu povo.

Alguns desses princípios são mais fáceis de entender do que outros. Como observa Brody, alguns entram em conflito entre si na prática. Mas eles fornecem uma estrutura coerente para um país em guerra, uma área da moralidade pública frequentemente confundida pela incerteza.

Brody descreve como cada um desses nove princípios se aplicaria a cenários do mundo real. Por exemplo, na terceira parte do livro, “Guerras Preventivas e Antecipadas”, ele discute se um país, agindo legitimamente em autodefesa, teria que esperar por um adversário disparar o primeiro tiro, ou se pode lançar ataques preventivos ou antecipados de maneira lícita para se proteger de carnificinas futuras. Para ilustrar a aplicação deste princípio, Brody analisa decisões críticas dos líderes israelenses em guerras entre 1956 e 1982, e as escolhas dos Estados Unidos durante a Guerra ao Terror e as invasões do Iraque e Afeganistão.

Na última seção do livro, “A Ética da Luta na Guerra”, Brody considera como os militares devem se comportar depois que a guerra eclodiu. Ele aborda as complexidades de travar guerra com atores não estatais que se infiltram entre civis, usando a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza como exemplo. Ele fornece uma exposição detalhada e muito necessária do princípio amplamente mal compreendido da “proporcionalidade”.

Embora o livro esteja fundamentado no pensamento judaico, os princípios que propõe se aplicam também aos Estados Unidos, especialmente enquanto o país considera sua resposta a adversários cada vez mais audaciosos como China e Irã. À medida que essas tensões ameaçam transbordar para um conflito em larga escala, os tomadores de decisão americanos se beneficiariam muito lendo Ética dos Nossos Combatentes e internalizando suas lições.

Eitan Fischberger é um analista de relações internacionais e do Oriente Médio. Seu trabalho foi publicado na National Review, Tablet e mais. Você pode encontrá-lo em @EFischberger.

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: War and Morality

noticia por : Gazeta do Povo

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