“Meu passatempo preferido é contar para os gringos que no Brasil existe feriado emendado, SUS, CLT, 30 dias de férias, bandejão na universidade pública, licença maternidade de até 180 dias e universidade gratuita. Eles ficam maravilhados e chocados” – Ísis Higino, doutoranda em antropologia. No conto de fadas brasileiro, a carruagem é um ônibus lotado, a fada madrinha vive em greve e o príncipe encantado usa tornozeleira eletrônica.
“Ficará infeliz então. A internet veio pra ficar – e a nossa liberdade também” – Nikolas Ferreira, deputado federal (PL-MG), respondendo a quem era feliz antes das redes sociais. Ultimamente, nossa liberdade parece estar em modo avião.
“Senti raiva ao sair do Saia Justa” – Astrid Fontenelle, apresentadora de TV. A raiva de Astrid passou ao perceber que nunca mais precisaria assistir a um episódio do programa.
“Acionei a Anatel por uma investigação rigorosa e, comprovados os crimes, a suspensão da licença da Starlink para operar no Brasil” – Sâmia Bomfim, deputada federal (PSOL-SP). Será que a excelentíssima deputada teria coragem de pedir a suspensão do McDonald’s?
“Alexandre de Moraes, você tem 48 horas para renunciar ao cargo!” – Bruno ‘Monark’ Aiub, exilado. Mandar o Moraes pedalar seria um gol de bicicleta.
“Fosse uma ditadura, você estaria no pau de arara só por causa dessa sua voz ridícula e estridente” – Cesar Calejon, democrata e teórico da conspiração. Mirou no pastor Silas Malafaia, mas acabou deixando Randolfe Rodrigues visivelmente preocupado com o fogo amigo. O que aconteceu com essa turma? Antes, só faziam apologia à censura, mas agora flertam abertamente com a tortura.
“O Elon Musk virou uma espécie de Allan dos Santos com cartão black e fantasia de astronauta” – Antônio Tabet, humorista inteligente. Uma piada excelente, com um setup sagaz e uma punchline sofisticada. A picardia na medida certa, só não ri quem não tem PhD em sarcasmo.
“Essa antiquíssima mentalidade mercantilista, que une o abuso do poder econômico com o autoritarismo extremista de novos políticos, volta a atacar a soberania do Brasil” – Alexandre de Moraes, durante evento para a criação do Museu da Democracia. Democracia no Brasil virou peça de museu. Ou seria uma obra de arte onde o STF, não satisfeito em ser apenas curador, resolveu também ser o artista?
“Meu casamento de 10 anos com holograma de desenho animado me devolveu a felicidade” – Akihiko Kondo, cônjuge digital. Sinal de que a saúde mental das novas gerações está excelente.
“Defensoria vai à Justiça para que Musk pague R$ 1 bilhão por atentar contra democracia brasileira” — manchete da Folha de S. Paulo. George Soros teria se revoltado ao saber da notícia, alegando que lhe venderam o produto por um preço bem mais salgado.
“Estava cumprindo ordens” — Tomás Paiva, comandante do Exército brasileiro. A desculpa universal para atos universalmente indesculpáveis.
“Nem a pau”
Alexandre de Moraes ao negar entrevista em Londres durante evento que barrou a imprensa. Democratas são assim mesmo, odeiam falar com a imprensa.
“‘Pessoas que gestam’ também podem gerar filhos” — Érika Hilton, membro da câmara dos deputados (PSOL-RJ). Precisamos problematizar os machistas que insistem em ver mulheres como meras incubadoras.
“Para Lula, indígena só serve se estiver segregado e isolado” — Silvia Waiãpi, deputada federal (PL-AP). Para a esquerda, o índio ideal vive em terras controladas por ONGs, e morre em capas de jornal no período eleitoral.
“No Brasil você não precisa mais de caixa eletrônico” — Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Verdade, com a economia como está, quem ainda tem o que sacar no caixa eletrônico?
“O Dr. Geraldo Alckmin só me dá notícia boa” — Lula, vulgo painho. Incluindo a notícia da volta à cena do crime? E pensar que o auge de Alckmin foi sua fase ‘picolé de chuchu’…
“Daniela Lima, a melhor jornalista da TV, foi saboteada e saiu da GN. Piora ainda mais a GN” — Emir Sader, sociólogo (sim, eles ainda existem!). “Saboteada” vem do verbo “sabotear”, registrada no dicionário Sader. Volta, Mobral!
“A Petrobras tem que deixar de ser uma empresa de exploração de petróleo” — Marina Silva. Provando que o Brasil segue sendo o país do humor culposo, quando não há intenção de fazer rir. Mas acaba conseguindo.
“Que falta faz pra bilionários ter uma pia cheia de louça pra lavar” — Carla Vilhena, jornalista. Já para a imprensa oficial, não falta roupa suja para lavar.
“Então vai morar lá energúmeno. Mas fica a dica: quando for morar lá, imprima seus tweets, porque vai precisar pra se limpar” — Zoe Martinez respondendo a Guga Noblat. As palavras de Guga Noblat finalmente encontraram uma utilidade prática!
“Ninguém deveria ir pra cadeia por fumar maconha” — Kamala Harris, vice-presidente dos EUA. Esquecendo-se das 1.900 condenações por delitos relacionados à droga que Kamala obteve em sua carreira como promotora pública.
“CPI para investigar o STF é inadmissível” — Gilmar Mendes, ministro do STF. Enquanto isso, a Constituição, em algum canto escuro, soluça baixinho.
“Apesar da semelhança, a associação da imagem de Lord Voldemort com Alexandre de Moraes é mais uma desinformação disseminada com intuito de difamar e prejudicar ainda mais a imagem de Lord Voldemort” — Nota da Comunidade do X/Twitter em post de Elon Musk comparando o vilão de Harry Potter ao da nação brasileira.
“Leitora diz que pastor Silas Malafaia é totalmente inconsequente” — manchete da Folha de S. Paulo. Ah, esses tais leitores, têm a coragem de dizer cada coisa!
“Vocês sabem o motivo [da extrema pobreza ficar no menor patamar já registrado]?” — pergunta Lula. E lá vem o Márcio Pochmann, presidente do IBGE, pulando de uma caixa surpresa e gritando: “Matemágica!”
“O que esse cara [Netanyahu] está fazendo para promover o antissemitismo no mundo é comparável ao papel de qualquer antissemita histórico importante” – Wilson Gomes, professor da UFBA. Na dúvida, sempre culpe a vítima. Só cuidado para que você não se torne a próxima.
“Nossos inimigos estão em movimento. As ameaças econômicas e militares estão por toda parte. Europa. O Mar do Sul da China. O Mar Vermelho. O Canal do Panamá” — Mark Levin, comentarista político. É uma só guerra, e está se espalhando…
“Posso ver o fogo se espalhando por todo o seu corpo e pessoa!” — comentou Laura Coates, da CNN americana, ao narrar um manifestante que se autoimolou. Ainda bem que ela é repórter e não bombeira, senão estaríamos esperando até agora ela decidir se apaga primeiro o fogo físico ou o existencial.
“Preço dos alimentos aumentou, dizem 79% dos brasileiros” — pesquisa do Ipec. Os outros 21% aprenderam matemática pelo método Paulo Freire.
“Eu me reuni com embaixadores, e não com traficantes” — Jair Bolsonaro. Talvez isso explique por que ele se encontra inelegível e não morando no Palácio do Alvorada.
“A vigilância do governo nos mantém seguros” — artigo publicado no jornal The New York Times. O seguro morreu de velho, mas sem fazer barulho, que é para não atrair a atenção do vigia.
“Por praticidade e estilo, mulheres aderem às unhas naturais” — manchete da Folha de S. Paulo. E também porque, convenhamos, elas já vêm de fábrica, de graça e prontas para uso.
“Lula montou governo de centro-direita por exigência do momento” — José Dirceu, guru liberal. Suponho que esse tal “momento” tenha passagem por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pela Lava-Jato, seguindo a tradição novo-democrata brasileira.
“Além de matar pessoas, governo Tarcísio quer matar a TV Cultura” — Luís Nassif, jornalista. O que seria, obviamente, um crime sem vítimas.
“Nada justifica a prisão de usuário de drogas” – Luís Roberto Barroso. “Nada justifica a prisão. Ponto”, teria filosofado Gilmar Mendes. “Prisão, não se justifica”, teria completado Alexandre de Moraes.
“Esse senhor é um idiota!” – Leila Pereira, presidente do Palmeiras sobre John Textor, dono do Botafogo. Um idiota consegue dar um 360 no skate aos 58 anos de idade!? Tudo bem que ele caiu e quebrou o cotovelo. A linha é mesmo tênue.
“[O PL das Fake News] foi triturado pelo excrementíssimo Arthur Lira” – Felipe Neto. Autoridade no assunto, Felipe Neto tem a humildade de reconhecer quando o superam em matéria de excrescência.
“Petrobras nunca teve crise” – Lula. Lula é um otimista; para ele, o barril está sempre meio-cheio, e a crise é apenas um breve intervalo entre ser pego e ser descondenado.
“Inflação está baixa, mas população sente o peso dos preços. Entenda a diferença entre os números e a percepção” – Miriam Leitão. Novamente, fracassamos com sucesso!
“Bolsonaro não pode dizer que não pode ser chamado de ladrão! É ladrão, sim!” – Gleisi Hoffmann, presidenta do PT. Pela fala convicta, aparentemente Gleisi entende bastante do riscado.
“Elon Musk não tem nenhuma consciência social. Alguém assim deveria ser preso e a chave jogada fora” – Jacqui Lambie, senadora australiana. No Brasil, a chave seria discretamente escondida sob o tapete das decisões sigilosas.
“Portugal tem que pagar custos de escravidão e crimes coloniais” – Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal. Na Vila Madalena, já tem gente suando frio, pensando: “E se Portugal depois resolver cobrar pelos espelhinhos e miçangas?” No fim, ainda sairíamos devendo…
“Eu acho normal do ponto de vista político” – diz Lula sobre presença de Eduardo Cunha no Congresso. O absurdo já faz parte do café da manhã do brasileiro, que, a essa altura, não se engasga com mais nada.
“Como Moraes pode ser relator de caso em que é vítima?” – Merval Pereira, jornalista. Seja bem-vindo, Merval.
“Ah isso é devolver salário e você tá chamando de outro nome. Porque devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser. Então, não considero isso uma corrupção” – André Janones, deputado federal (Avante – MG). Janones parece ter inventado a ‘rachadinha do bem’, já que hoje a moral é tão relativa que a verdadeira corrupção seria perder a chance de tirar vantagem.
“Às vezes eu não consigo nem buscar minhas meninas na escola, as minhas assessoras é que tem que dar um jeito de buscar” – Roberta Brito (PRD-GO), vereadora de Formosa (GO), justificando seu pedido de aumento de salário. Confessando um drama pessoal que, se não nos deixa comovidos, parece questionável perante a lei.
“A mulher cearense está representada no senado por uma cortesã” – Ciro Gomes (PDT-CE), político profissional, sobre a senadora Janaína Farias (PT-CE). Saudades do Ciro “clássico”, que só aparecia de quatro em quatro anos, soltando pérolas que, se não eram raras, pelo menos tinham algum brilho.
“Amanhã tem Monterrey contra um monte de gay” – Filho do Lula, em tuíte antigo, de 2010, sobre o jogo Monterrey x São Paulo F.C. Quando a tal homofobia veste a camisa do time de casa, os juízes parecem engolir o apito.
“Importantíssima a inclusão das bebidas açucaradas na lista dos impostos seletivos do texto da Reforma Tributária. Biscoitos infelizmente ficaram de fora.” – André Trigueiro, blogueiro. É o governo Lula cumprindo a promessa de taxar os super-ricos, aqueles magnatas do refrigerante, os únicos que ainda podem comprar um pacote de bolachas sem se endividar.
“Escritor branco que já teve alguma relevância está amargurado. Agora precisa competir com aqueles que achava que só existiriam para servi-lo” – Geovani Martins, escritor. Será que ele faltou às aulas em que Machado de Assis, Lima Barreto e Maria Firmina dos Reis já ensinavam como manejar a pena sem turvar as cores?
“Eu propus, eu provoquei os Correios. Mas os Correios, na minha… Bom, deixa pra lá o que eu acho dos Correios” – Luiz Marinho, ministro do trabalho. Claro, em boca fechada não entra mosquito, garante-se a mortadela e evita-se engolir sapos.
Cantinho do Uncle Paul
“Biden não entende a fé católica. Não estou bravo com ele, ele só é estúpido” — Bispo Robert Gruss, da Diocese de Saginaw, Michigan, EUA. Joe Biden teria ficado furioso ao ter sua fé questionada, se ao menos recordasse quem é esse tal de Joe Biden.
“Tio Bosie pilotava aviões monomotores, fazia voos de reconhecimento sobre a Nova Guiné e foi derrubado em uma área onde, na época, havia muitos canibais. Nunca encontraram o corpo dele” – Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. A Casa Branca negou qualquer banquete antropofágico. Provavelmente, os canibais temiam uma intoxicação alimentar, considerando o histórico da família Biden com substâncias ilícitas.
“Havia um contexto, eles não comiam qualquer homem branco que caísse do céu” – Michael Kabuni, professor de ciência política da Universidade de Papua-Nova Guiné. Se fosse um Kennedy ou um Clinton, talvez houvesse apetite. Sendo um Biden, provavelmente decidiram esperar por céus mais promissores.
“Mais quatro anos. Pausa” – Joe Biden, presidente americano, lendo o teleprompter. Biden teria sido avistado momentos depois, tentando obter um empréstimo em uma agência bancária levado por seus assessores.
Cantinho da ultramegahiperextrema-direita
“O PSOL manifesta todo seu repúdio a mais um episódio de perseguição da extrema-direita ao nosso deputado federal Glauber Braga” – nota do PSOL em apoio à agressão física de Glauber Braga a um militante do MBL. O deputado brigou e depois xingou muito na Câmara? Só pode ser culpa da extremíssima-direita.
“Fiquem certos, este povo está se preparando para dar uma lição histórica a essa direita fascista” – Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Para Barroso, Maduro comanda uma ditadura de direita. É de se perguntar: o quão radicalmente à esquerda você deve estar para ver Maduro à sua direita?
Cantinho da Picanha
“Não esqueci da cerveja e da picanha” – Lula, em café da manhã com jornalistas. Seria melhor ter esquecido, senão vai aumentar os impostos sobre os dois produtos também.
“Se depender da picanha, Lula só terá alegria” – Miriam Leitão, jornalista. Desse jeito a Janja vai ficar com ciúmes.
Cantinho “não sou cachorro, não”
“Hoje minha equipe foi prestar condolências no velório do Joca. Que sua memória seja honrada e a justiça feita em seu nome” – Delegado Bruno Lima, deputado federal (PP-SP). Joca, presente!
“Foi tratado como carga e não como ser vivo” – Janja, sobre o cão Joca. Questionada se os nascituros deveriam ser tratados como carga ou seres vivos, Janja teria preferido não se manifestar.
Cantinho da liberdade de expressão
“Supremas cortes, sozinhas, não conseguem vencer o extremismo” – Luís Roberto Barroso. Mas não tema, no Brasil, o trio Executivo, Legislativo e Judiciário trabalha em harmonia para que a democracia seja um camarote fechado, com admissão rigorosamente controlada.
“Aqui, milhares em Copacabana chamaram livremente Alexandre de Moraes de ditador. Nos EUA, estudantes protestaram a favor dos palestinos e foram presos” – Mônica Bergamo, colunista da Folha de S. Paulo. Comovente protesto contra a liberdade de criticar o STF sem consequências. Para Mônica, a audácia de não ser preso por uma opinião é quase um segundo crime.
“EUA censuram TikTok. União Europeia proíbe RT russa. Parlamento de Israel aprova lei que autoriza proibição da Al Jazeera. E é no Brasil que tem censura?” — Mônica Bergamo. E os paladinos da democracia resolveram condenar a censura! Mas somente a censura contra a propaganda russa, chinesa e iraniana.
Ari Fusevick, convidado para escrever os comentários das Frases desta semana, é brasileiro não-praticante, escreve sobre filosofia, economia e política, na margem entre o inconcebível e o indesejável. Colabora com a Gazeta do Povo, Newsmax e New York Post. Autor da newsletter “Livre Arbítrio” e do livro “Primavera Brasileira”.
noticia por : Gazeta do Povo
