A coragem não é exclusiva de nenhum país ou cultura. Heróis
corajosos, do passado e do presente, podem ser encontrados em todos os lugares
se alguém simplesmente os procurar. Ela se manifesta de duas maneiras: física (num
campo de batalha, por exemplo) e moral (em princípios elevados que enriquecem a
vida e os direitos individuais).
O falecido escritor de ficção científica Ray Bradbury celebrou a coragem. Ele disse uma vez: “Vá até a beira do penhasco e pule. Construa suas asas enquanto cai”.
Em um texto publicado na
revista Reader’s Digest, em 1964, o famoso evangelista Billy Graham escreveu:
“A coragem é contagiosa. Quando um homem corajoso toma uma posição, a determinação de outros frequentemente se fortalece. O compromisso com grandes causas torna homens grandiosos. Sinto pena do homem que nunca conheceu a emoção revigorante de tomar uma posição e mantê-la sem medo. A coragem moral traz recompensas que os receosos jamais poderão imaginar. Como uma injeção de adrenalina, ela inunda o espírito de vitalidade.”
Mark Twain observou que uma das
formas de coragem parece prevalecer sobre a outra: “É curioso que a
coragem física seja tão comum e a moral, tão rara.”
A coragem é apenas uma das
muitas qualidades admiráveis ou merece atenção especial? Sobre isso, Winston
Churchill foi enfático: “A coragem é considerada a primeira das qualidades
humanas, porque é a qualidade que garante todas as outras.”
Penso que Churchill estava certo. Em um mundo perigoso, pessoas receosas (não importa o quão boas possam ser) provavelmente não serão livres por muito tempo. E, sem liberdade, a vida seria insuportável. Portanto, registre-me como defensor da criação de um “Dia da Coragem” anual – uma data especial em que celebraríamos a importância da coragem e aqueles que realizaram coisas extraordinárias graças a ela.
Quando preciso de inspiração sobre esse assunto, muitas vezes me volto para um país pelo qual tenho um carinho especial: a Polônia. Em tempos de grandes desafios (e a Polônia encarou muitos ao longo dos séculos), heróis corajosos costumam surgir em abundância entre o povo polonês.
Maria Sklodowska Curie foi uma cientista pioneira que dedicou sua vida a avançar nossa compreensão sobre a radiação e o átomo.
Há cem anos, combatentes poloneses salvaram a Europa de uma onda comunista.
Devido à sua franqueza, Ferdynand Ossendowski ganhou o ódio pessoal de Vladimir Lenin.
Stanislaw Lem foi um escritor de ficção científica que ajudou a minar primeiro os nazistas e depois os soviéticos.
Jan Karski suportou grandes dificuldades pessoais, mas perseverou para alertar o mundo sobre as atrocidades nazistas em sua Polônia natal.
Witold Pilecki se voluntariou para entrar no campo de concentração de Auschwitz e criou, secretamente, uma resistência clandestina.
Décadas depois, o jovem padre polonês Jerzy Popieluszko foi martirizado por sua coragem ao se posicionar contra o regime-fantoche soviético em Varsóvia.
E, nos últimos anos do império soviético, patriotas poloneses criaram um vasto e incrível movimento clandestino que ajudou a derrubá-lo em 1989. Entre as figuras mais marcantes desse grupo estava o autor Stefan Kisielewski, que foi preso uma vez por simplesmente declarar que “O socialismo é uma estupidez”.
À lista de poloneses corajosos, adiciono outro nome: Jan Nowak-Jeziorański. Jornalista e economista, ele mostrou uma imensa coragem durante a ocupação nazista da Polônia e depois se tornou um comunicador proeminente. Conheça, a seguir, um pouco de sua história.
Pouco depois de a Alemanha
invadir a Polônia, em 1939, ele se juntou à resistência. Foi capturado pelos
alemães, mas conseguiu escapar e organizar publicações em língua alemã para
travar uma guerra psicológica contra os nazistas.
Atuou como mensageiro entre o exército polonês e o governo do país, e frustrou numerosas tentativas nazistas de capturá-lo durante suas viagens clandestinas. Também realizou cinco missões secretas entre Varsóvia e Londres, transportando documentos confidenciais em ambas as direções. Essas aventuras ousadas foram tema de um filme, ‘O Mensageiro’.
Nowak-Jeziorański foi o primeiro jornalista a relatar a insurreição de judeus poloneses no Gueto de Varsóvia, em 1943. Um ano depois, lutou na linha de frente do levante, considerado “o maior esforço militar único feito por qualquer movimento de resistência europeu durante a Segunda Guerra Mundial”.
Após a guerra, continuou lutando contra a opressão como locutor da BBC e, depois, da Radio Free Europe. Ele ainda atuou como conselheiro de dois presidentes dos EUA, Jimmy Carter e Ronald Reagan. Morreu em 2005, aos 90 anos.
Jan Nowak-Jeziorański arriscou sua vida repetidas vezes pela liberdade da Polônia. Sua coragem continua a inspirar milhões de poloneses até hoje.
Muitas vezes me perguntei se,
diante de circunstâncias semelhantes, eu teria possuído a coragem das pessoas
que citei aqui. Não sei a resposta. Certamente espero que pudesse ter reagido à
altura. Talvez todos nós devêssemos nos fazer a mesma pergunta. Quanta coragem
possuímos dentro de nós para defender os valores que prezamos?
Uma coisa eu sei com certeza: olhar para modelos de coragem como Jan Nowak-Jeziorański nos ajuda a crescer. Podemos precisar disso quando menos esperarmos.
Quando visitar a Polônia novamente, pretendo agradecer aos poloneses por darem ao mundo tantos exemplos notáveis desse traço crucial chamado coragem.
noticia por : Gazeta do Povo