De Abadia de Goiás a Zortéa, em Santa Catarina, os 5.570 municípios brasileiros têm uma grande variedade de climas, vegetações e culturas. Por isso, a tarefa listar as melhores cidades para se morar no Brasil não é simples.
Mas os principais critérios para uma vida de qualidade são os mesmos em qualquer lugar do mundo: um lugar seguro, com boa infraestrutura, hospitais e boa escolas, prosperidade econômica e emprego. A maior parte desses fatores pode ser medida em números.
Embora nunca tenha havido tantas estatísticas disponíveis quanto hoje, elas acabam sendo enganosas quando olhadas de forma isolada. Por exemplo: uma cidade pode ser segura, mas não ter hospitais. Ou talvez ela seja segura e tenha hospitais, mas esteja estagnada economicamente.
E mesmo a cidade segura, com hospitais e uma economia forte pode sofrer com uma péssima educação, ou com a ausência de bibliotecas, ou ainda com a falta de um sistema de esgoto.
Por isso, a Gazeta do Povo compilou uma ampla base de dados, com base em levantamentos oficiais, para identificar a melhor cidade para morar no Brasil.
Essas estatísticas permitem uma comparação direta entre os 5.570 municípios brasileiros, com base em 21 indicadores em áreas como saúde, educação, segurança e infraestrutura urbana (veja a lista completa dos indicadores ao final da reportagem).
Com base nos dados mais atualizados de cada categoria, as cidades receberam uma nota geral de 0 a 10. Embora tenha lacunas devido à falta de alguns dados (por exemplo: não existe um banco de dados nacionais sobre o número de furtos em cada município), o levantamento é o mais abrangente possível.
São Paulo tem maior número de cidades entre as melhores para se morar
Dentre as 100 primeiras cidades no ranking geral, 33 são de São Paulo, 29 de Minas Gerais, 16 do Rio Grande do Sul, nove de Santa Catarina, seis do Paraná, três de Goiás, duas do Rio de Janeiro, uma do Mato Grosso do Sul e uma de Pernambuco.
A nota média dos municípios brasileiros foi de 5,66 pontos. Apenas 169 cidades obtiveram nota 7 ou maior. Nenhuma delas atingiu uma pontuação tão alta quanto São Caetano do Sul (SP), que somou 7,77 pontos.
Colado na capital paulista, o município de área reduzida e 165,5 mil habitantes se beneficia de uma combinação de localização privilegiada, com uma população bem-educada e uma infraestrutura urbana completa.
Para Loyde de Abreu-Harbich Vieira, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Universidade Mackenzie, o resultado não surpreende.
“As prefeituras de São Caetano do Sul e Jundiaí mantêm a qualidade das áreas verdes, do ensino e de outras questões ligadas à qualidade de vida”, afirma ela.
Embora bons indicadores da cidade dependem de um trabalho de longo prazo, que ultrapassa gestões.
A taxa de alfabetização de São Caetano do Sul é de 98,8%; a de homicídios, de apenas 1,2 por 100.000 habitantes — ante 21,7 do índice nacional. São Caetano do Sul tem 100% de ruas afastadas, 99,99% de domicílios com abastecimento de água e 99,95% com ligação à rede de esgoto. A expectativa de vida ao nascer, de 78,2 anos, está entre as maiores do país.
Acesse o ranking das melhores cidades para morar no Brasil
Veja abaixo o ranking geral das 100 melhores cidades para morar no Brasil, as 50 melhores cidades com mais de 100 mil habitantes e o ranking das capitais.
Não houve empates no levantamento. Para simplificar a leitura, a tabela mostra apenas duas casas decimais. O Rio de Janeiro, por exemplo, teve uma nota de 6,6622325 pontos contra 6,6598310 de Belo Horizonte. Com o arredondamento, ambas aparecem com 6,66.
Quer saber em que posição ficou a sua cidade? Busque na tabela interativa ao fim desta reportagem.
Goiânia lidera ranking das capitais
Quando se leva em conta apenas as capitais, Goiânia se sobressai como a primeira da lista. A capital de Goiás ficou com 6,85 pontos (e na 377ª colocação no ranking geral).
Com 1,4 milhão de habitantes, a cidade foi fundada em 1933 e é fruto de um plano do governo estadual da época, que pretendia remover a sede do poder goiano da antiga Cidade de Goiás. Com suas zonas centrais planejadas, Goiânia tem um aspecto urbanístico mais ordenado do que as cidades antigas como Salvador e Rio de Janeiro.
Além disso, a capital goiana se destaca em outros aspectos: a nota na categoria educação foi a segunda maior, atrás apenas de Curitiba. A infraestrutura urbana goianiense também merece destaque.
Outro fator que ajuda a explicar a qualidade de vida da capital goiana não foi incluído no levantamento da Gazeta do Povo porque faltam dados sobre todos os municípios brasileiros: a existência de áreas verdes.
A prefeitura mantém 32 parques na cidade de 1,4 milhão de habitantes. “Goiânia é uma cidade planejada, que tem um certo nível de organização e oferece muitos pontos de lazer”, diz Loyde de Abreu-Harbich Vieira.
Pelos cálculos da prefeitura, Goiânia tem 94 metros quadrados de áreas verdes por habitante. A recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) é de pelo menos 12 metros quadrados por habitante.
O sucesso da capital paulista
Em segundo lugar no ranking das capitais, com 6,8 pontos, São Paulo deve parte do bom desempenho a dois fatores: a segurança pública e a pujança econômica.
Em 2022, a taxa de homicídios da capital paulista ficou em 2,8 por 100 mil habitantes. De longe, o índice é o menor das capitais brasileiras. O segundo lugar na lista, Florianópolis, aparece com 8,4 assassinatos por 100 mil habitantes. A média das capitais é de 28,7.
Referência em urbanismo e transporte público, Curitiba ficou em terceiro lugar entre as capitais, com 6,75 pontos. “Além de ser uma cidade que tem um planejamento de arborização de áreas públicas e pontos de lazer ao ar livre, Curitiba tem qualidade no trânsito porque estimula muito o transporte de massa ou de bicicleta”, destaca Loyde de Abreu-Harbich Vieira.
As melhores cidades com mais de 100 mil habitantes
O ranking geral das melhores cidades do país inclui municípios de pequeno porte. Por exemplo: Fernando de Noronha (PE), em segundo lugar, tem apenas 3 mil habitantes — além de ser acessível a um número restrito de pessoas. Em quarto, Guaxupé (MG) tem 51 mil.
Quando se retiram da lista os municípios com menos de 100 mil habitantes, restam 316 municípios e o topo do ranking passa a ser dominado por cidades paulistas. As cinco primeiras estão no estado de São Paulo: São Caetano do Sul (SP), Jundiaí (SP), Araraquara (SP), Limeira (SP) e Catanduva (SP). Em seguida, aparecem Varginha (MG), Jaraguá do Sul (SC), Bragança Paulista (SP), Uberlândia (MG) e Brusque (SC) completam a lista dos dez primeiros nesta categoria.
Nesta lista das 50 melhores cidades com mais de 100 mil habitantes, 43 são do Sudeste e sete são da região Sul.
O que os índices não medem
Embora inclua o maior número de dados possível sobre os municípios brasileiros, o levantamento da Gazeta do Povo não cobre todos os tipos de informações. Por exemplo: não existe uma base única de comparação entre outros tipos de crimes, como furtos e tráfico de drogas. Embora a taxa de homicídios de São Paulo seja extremamente baixa até mesmo quando comparada a cidades americanas (o índice é menor que o de Nova York), a capital paulista está longe de ser uma cidade segura. Também por esse critério, o Rio de Janeiro (que teve 15,7 assassinatos por 100 mil habitantes em 2022) tem um desempenho melhor que Curitiba (com um índice de 19,3 por 100 mil).
Além disso, fatores intangíveis não podem ser medidos. Cuiabá, em oitavo lugar, superou Florianópolis, em nono. Mas é plausível que as belezas naturais e o clima mais moderado da capital catarinense compensem o número menor de leitos hospitalares e de salas de cinema.
Por fim, não existe um levantamento completo dos índices de arborização dos municípios brasileiros. Os dados disponíveis se restringem às grandes cidades, o que impede uma análise aprofundada desse critério.
Entenda como a nota foi calculada
O levantamento da Gazeta do Povo inclui dez categorias diferentes, e utiliza um total de 21 indicadores. Alguns deles, por serem mais relevantes, ganharam peso maior no cálculo da nota final de cada cidade. Veja abaixo a lista das estatísticas levadas em conta no ranking, além das fontes utilizadas.
1. Educação – Peso 1,5
-IDEB Ensino Fundamental – anos finais (2021)
-IDEB Ensino Médio (2021)
-Índice de analfabetismo (Censo 2022)
-Vagas de ensino superior (Censo da Educação Superior 2022)
2. Taxa de homicídios (IPEA, 2022) – Peso 1,5
3 . Saúde – Peso 1,5
-Número de leitos hospitalares (DataSUS, 2024)
-Mortes evitáveis (DataSUS, 2024)
-Número médicos (DataSUS, 2024)
4. Economia – Peso 1,5
-PIB (Produto Interno Bruto) per capita (IBGE, 2021)
-População empregada (Caged, 2024)
5. Infraestrutura – Peso 1,5
-Vias públicas com pavimentação e meio-fio na área urbana (IBGE, 2021)
-Domicílios ligados à rede de esgoto (IBGE, 2021)
-Abastecimento de água (IBGE, 2021)
-Aglomerados subnormais (favelas) (IBGE, 2021)
-Domicílios com coleta de lixo 2022 (IBGE, 2021)
6. Expectativa de vida (IBGE, 2021) – Peso 1
7. Mortes no Trânsito (DataSUS, 2022)- Peso 1
8. Suicídios (IPEA, 2021) – Peso 1
9. Cultura – Peso 1
-Salas de cinema (Ancine, 2023)
-Bibliotecas públicas (Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, 2023)
10. Famílias em situação de rua (Cadastro Único para Programas Sociais, 2023) – Peso 1
Encontre a sua cidade
Na ferramenta abaixo, você pode buscar, pelo nome, todos os 5.570 municípios brasileiros. Embora algumas notas apareçam como idênticas devido ao arredondamento, não houve empates quando se leva em conta a nota completa, com todos os dígitos.
noticia por : Gazeta do Povo