A pergunta que mais ouvi durante esta semana foi: “E aí, rapá? Tu viu lá o lance do Elon Musk com o Alexandre de Moraes? Sinixtro!” (tô cheio de amigos cariocas, desculpe), seguida por: “No que você acha que tudo isso vai dar?”. A essas perguntas respondia “sim” e “não sei”, respectivamente. Até escutar a pergunta que era uma consequência lógica das duas anteriores: “Você voltou a ter esperança? De quê? Em quê?”. Aí a resposta já é mais complicada. Tanto que vou ter que escrever um texto. Este.
Primeiro que nunca perdi a esperança. Minto, teve uma vez que a esqueci no Uber, mas o motorista logo me ligou avisando e a esperança foi devolvida sã e salva. Só com um amassadinho na lateral, mas nem dá para ver direito. Também tem vezes em que, feito uma gata no cio, a esperança sai pelo bairro, passa dois dias sem dar notícia e de repente volta toda dengosa. Agora mesmo ela está aqui ao meu lado, ronronando. Ah, não. Essa é a Catota mesmo.
Voltando à treta entre o homem mais rico do mundo e um dos homens mais odiados do Brasil, de acordo com o desembargador Sebastião Coelho da Silva, é claro que a exposição mundial que Musk está fazendo tanto de Alexandre de Moraes quanto do STF representa uma esperança na luta contra a tirania aparentemente invencível do Judiciário, em conluio com o Executivo e a imprensa considerada por muitos “a opinião pública”. A dificuldade está em identificar essa esperança. Em focá-la num objetivo específico. Em imaginar um desfecho positivo para algo que, por enquanto, não passa de falatório – ou um pouco mais do que isso.
Se tenho esperança de que Elon Musk revele documentos que provarão a interferência do STF nas eleições de 2022, o que por sua vez resultará numa verdadeira revolução? Um pouco. Bem pouco. Se tenho esperança de que essas revelações convencerão Rodrigo Pacheco a, ao menos uma vez na vida, fazer o certo? Menos. Se tenho esperança de que Alexandre de Moraes perceberá que seu destino é o mesmo de todos os tiranos e tiranetes da história e renunciará? Quase nada. Se tenho esperança de que a tal da opinião pública se voltará contra Xandão e seus parças embriagados de um poder que eles realmente acreditam ser supremo? Faz-me rir.
Imagine – all the people
“Mas no que esse gordo tem esperança, então?” – você deve estar se perguntando. Calma que até aqui eu estava apenas fazendo hora para você ir pensando aí na sua esperançazinha. Porque já pensei bastante e talvez você se surpreenda ao saber que não é apenas uma, a minha esperança. São três! Uma ao lado da outra. A primeira: tenho esperança de que essa avalanche impeça a tal da opinião pública (também chamada de “grande imprensa”, “imprensa militante” ou simplesmente “mídia”) de continuar sustentando narrativas falaciosas, como a patética “o Alexandre de Moraes faz isso em defesa da democracia” ou a cínica e hipócrita “a soberania nacional está sendo atacada”.
Ou seja, tenho a esperança de que a opinião pública, sob pressão externa, desça do pedestal e vá conversar com pessoas que se orientam por um sistema moral enganosamente simples: a lei natural. Gente que não precisa de aspas, muito menos de nota de rodapé e regras da ABNT para ficar ao lado do bom senso. Só quando isso acontecer, se é que vai acontecer e espero que aconteça, é que a opinião poderá se dizer verdadeiramente pública. Porque, por enquanto, o que temos é uma opinião oficial. Tipo Pravda, só que fazendo aspinhas no ar e fa-lan-do as-sim, escandindo as sílabas.
O outra: tenho esperança de que os ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes, mas não só ele (e inclusive o André Mendonça, cuja omissão não me desce), se sintam feridos naquilo que mais valorizam. Aquilo que os escraviza. Ou melhor, aquilo que os seduz, mas que tem um preço. Sempre tem. Estou falando da vaidade. Do orgulho que em certa medida afeta todos nós, mas que neles transborda desavergonhadamente.
Imagine Alexandre de Moraes sendo vaiado ao falar de democracia em Harvard. Imagina Gilmar Mendes sendo cobrado por seus pares em Lisboa. Imagine o Barroso passando vergonha em qualquer um desses convescotezinhos que ele frequenta. Imagine Flávio Dino afogando as mágoas num Big Mac. Imagine Cristiano Zanin percebendo que trocou a renda de milhões por um poderzinho que é de areia. Imagine Cármen Lúcia entendendo de uma vez por todas que não vai entrar para a história pelo “cala-boca já morreu”, e sim pela “censura excepcionalíssima”.
E a última e maior das minhas esperanças: o imponderável. Aquilo que não consigo nem imaginar – como não imaginava que um bilionário libertário fosse se envolver nas nossas coisas. E ainda bem que se envolveu! Falo daquilo que alguns homens chamam de “cisne negro” e que vou me permitir chamar de milagre. Alguma obra da Graça que os materialistas ateus explicarão com teorias e eu, com a fé. Tenho esperança de que aconteçam todas aquelas coisas maravilhosas que não sabemos reconhecer nem pedir.
Mas agora é com você, que está com um sorriso de orelha a orelha – que eu sei. Você que recuperou a autoestima e não se deixa mais abater por xingamentos como “golpista” e “antidemocrático” e “gado” e coisas piores que não me ocorrem agora. Você que se sente inexplicavelmente de alma lavada – confessa! Você que acorda cedinho e logo vai entrando no Twitter para ver o que o Elon Musk escreveu desta vez. Enfim, você que está cheio de esperança já sabe me dizer exatamente de quê? Em quê?
TOC
Leitores antigos deste espaço sabem que não gosto de terminar texto com uma pergunta. Então este adendo é só para isso mesmo: para que o texto não termine com uma pergunta. É que tenho uma espécie de TOC.
noticia por : Gazeta do Povo