Elon Musk estaria prejudicando seus desafetos na mídia e em empresas rivais com atrasos na abertura de links compartilhados no X para sites de jornais como The New York Times (NYT) e de outras redes sociais como o Threads. A descoberta foi primeiramente reportada pelo jornal The Washington Post (Post), na terça-feira (15).
A peleja teria começado após uma postagem de Musk, na qual refuta uma matéria do NYT que atenuou o ocorrido na festa do partido radical esquerdista da África do Sul, em que milhares de afiliados gritaram “Mate o fazendeiro branco”.
Na ocasião, o bilionário, que nasceu na África do Sul, afixou uma postagem com link para a reportagem, com o seguinte comentário: “O New York Times realmente tem a coragem de apoiar apelos por genocídio! Se alguma vez houve um momento para cancelar essa publicação, é agora”.
Musk ainda inseriu um link para um removedor de paywall [barreiras que os sites utilizam para que apenas assinantes tenham acesso a suas reportagens] para que usuários que não assinam o NYT pudessem ler o texto na íntegra. Em seguida, ele afirmou que toda a cobertura do jornal sobre o ocorrido tinha sido “absurdamente positiva”.
Segundo o Post, essa seria a razão para o início dos atrasos para a abertura de links do NYT. De fato, o início reportado dos atrasos parece coincidir com a publicação feita pelo bilionário.
O primeiro a denunciar o ocorrido teria sido um usuário do site Hacker News, na manhã da terça-feira (15). De acordo com o usuário, o t.co, que é o encurtador de links utilizado pelo X, estava adicionando um atraso de 5 segundos para abrir alguns domínios, incluindo o NYT e o Threads.
“O Twitter não banirá domínios de que eles não gostam, mas desperdiçará seu tempo se você os visitar. Tenho rastreado o atraso do NYT desde que foi adicionado (4 de agosto, aproximadamente meio-dia, horário do Pacífico), e o atraso é tão consistente que é obviamente deliberado”, afirmou em seguida.
A data coincide com a do post em que Musk critica o posicionamento do NYT em relação ao ocorrido na África do Sul. A reportagem afirma que o Post realizou testes para checar se as afirmações eram reais e atestou a ocorrência de atrasos com o NYT e o Threads, assim como com o Facebook, Instagram, Bluesky, Substack e a agência de notícias Reuters.
Segundo o jornal, horas após a publicação da reportagem, cujo link também foi compartilhado em seu perfil no X, a rede restabeleceu a velocidade usual, praticamente instantânea, para abrir os domínios até então afetados.
Direito à livre expressão
Uma das principais críticas do Post a Musk vem da postura amplamente divulgada de defender o livre discurso. O bilionário, inclusive, se coloca constantemente sob os holofotes por conta de ações tidas como controversas pela esquerda, mas que têm encontrado amplo apoio entre os usuários conservadores do X.
Inclusive, na publicação em que o perfil do jornal compartilhou o link para a reportagem, há diversos comentários que apoiam a medida de Musk. O perfil Common Sense Todd acusou o Post de fazer vista grossa ao banimento de perfis conservadores quando o Twitter ainda não havia sido comprado por Musk.
“Quando o Twitter limitou ou baniu abertamente vozes conservadoras e até mesmo notícias legítimas prejudiciais à esquerda… tudo estava bem. Coma sua torta WaPo [Washington Post]”, comentou.
Já o usuário DCIII criticou a postura parcial do Post ao dizer que “há uma diferença entre uma empresa fazer isso e o governo fazer isso. Por que você não relata um pouco mais sobre o último, já que isso é realmente importante?”
Desde o início do mês, o Comitê Judiciário da Câmara dos EUA tem divulgado documentos internos do Facebook que comprovam que o governo de Joe Biden interveio junto à rede social para censura de conteúdos. O caso está sendo chamado de Facebook Files, uma referência aos Twitter Files – quando documentos da rede social comprovaram a influência da Casa Branca para a censura de determinados conteúdos.
Mesmo que Musk não tenha suprimido perfis ou eliminado menções a eles no X, ao contrário do que ocorreu no caso do Facebook e do Twitter Files, o atraso para abrir os links não deixa de prejudicar os sites que foram alvo da medida e podem ser interpretados como “restrição à liberdade de expressão”.
Cada vez mais, a rapidez das redes faz com que demoras para o carregamento de sites levem a perda de interesse dos usuários, que ficam impacientes e desistem do acesso.
Segundo o Post, em 2016, um estudo realizado pelo Google demonstrou que 53% dos usuários abandonavam qualquer site que demorasse mais de três segundos para carregar.
noticia por : Gazeta do Povo