VARIEDADES

Caso da Ilha de Marajó: ocupados em ganhar a discussão, perdemos de vista o bem comum

A uma distância segura, a fim de não me sujar na lama, acompanho as discussões sobre os casos de exploração sexual infantil na ilha de Marajó, no Pará. Tudo começou quando a ex-ministra Damares Alves fez a acusação. Por algum motivo que me escapa totalmente, o Ministério Público não gostou e passou a tratar a ex-ministra como se a acusação fosse mais grave do que a suspeita de que havia toda uma rede de exploração sexual infantil na ilha.

“Não gostou”, no caso, é um baita de um eufemismo. Damares sofreu ataques estranhos – estranhos até mesmo para uma imprensa hostil. O MPF pediu R$5 milhões em indenização aos marajoaras. (Sempre quis escrever “marajoaras”). Cinco milhões pela “fake news” de que havia ou podia haver casos de exploração sexual infantil em Marajó. Mas aí veio a realidade e, com ela, eu gostaria de dizer que tudo se resolveu. Mas não. Só piorou.

Só piorou depois que uma cantora viralizou ao cantar uma música que reforçaria a acusação de que haveria algo de muito podre no reino de Marajó. Eu li a letra de “Evangelho de Fariseus” e não entendi o busílis. Mas se vocês estão dizendo… Aí, se você acha que a honra de Damares foi restaurada e o Estado passou a levar as suspeitas a sério, você está enganado.

Alguns artistas até ensaiaram uma campanha contra a exploração sexual infantil em Marajó. A mesma que eles diziam não existir, Damares, cê tá ficando louca, minha filha! Decerto coisa de um assessor mal-informado. Logo depois, porém, teve início uma nova campanha para limpar a barra da ilha. E a últimas notícias são a de que o governo federal – o governo Lula! –, por meio do ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos – dos Direitos Humanos! – pretende investigar não a possível existência de uma rede de exploração sexual infantil em Marajó, e sim uma operação da Polícia Civil contra suspeitos desse tipo de crime na região. Dá para entender?

Team Damares

Que o mundo está virado de cabeça para baixo não é de hoje. Eu sei, você sabe. Nós sabemos. Mas, antes que você tire da manga uma menção ao filme “Som da Liberdade” para dizer que a esquerda tem interesse em acobertar esse tipo de crime, deixe-me explicar que este texto não é sobre quem tem razão na querela. Digo, sou team Damares e tal. Mas não é disso que se trata o nosso papo aqui.

Acontece que, enquanto perdemos tempo e nos distraímos discutindo quem tem ou não razão em apontar a existência de exploração sexual infantil em Marajó, e se Marajó é ou não um paraíso imaculado, uma ilha onde as crianças podem andar de um lado para o outro em plena segurança, blá, blá, blá, os bandidos agem. E, se não agem, passarão a agir porque agora pressupõem que seus crimes serão sempre acobertados em nome da boa imagem de Marajó e dos marajoaras (já disse que sempre quis escrever “marajoaras”?).

E é aqui que eu queria chegar para perguntar, assim, à toa, só pensando alto mesmo: quando e onde foi que perdemos a noção do que é o bem comum (neste caso, a erradicação de uma possível rede de exploração sexual infantil na ilha de Marajó, mas que poderia ser em qualquer lugar do país)? Quando “ganhar a discussão” ou “vencer a guerra de narrativas” se tornou mais importante do que investigar e punir pedófilos?!

Em outras palavras: será que ainda somos humanos e nos preocupamos com a segurança das nossas crianças? Ou já passamos dessa fase “primitiva” e agora nos tornamos todos marionetes empenhados em fazer prevalecer essa ou aquela narrativa? Ou recorrendo a Chesterton: se concordamos com o mal a ser combatido (a exploração sexual infantil), por que nos matamos discutindo o melhor caminho para fazer prevalecer o bem?

(E lembre-se: enquanto você lia este texto chegando à conclusão inexorável de que o colunista é uma besta quadrada, os bandidos, em Marajó ou aqui em Curitiba ou aí onde você mora, se enchiam de coragem e de certeza da impunidade para perpetrar o mal. O mesmo mal que você diz tanto combater).

noticia por : Gazeta do Povo

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