VARIEDADES

Barroso: “Presidente é um título que me cai bem”

Por Athayde Petreyze*

Assim que pus os pés em Brasília, fui assaltado. Sinal dos tempos. Mas além do iPhone e dos dólares na cueca, o prejuízo maior ficou mesmo por conta do meu convite para a posse do ministro Luís Roberto Barroso como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

Por sorte encontrei meu colega Renan Ramalho comendo um cachorro-quente numa das não-esquinas da capital federal e ele se ofereceu para me levar como animal de apoio emocional. (Perceberam esse eco?). “É só você dizer que é um furry. Aí basta ficar ao meu lado e, sei lá, latir de vez em quando”, me explicou o nobre jornalista. E lá fomos nós para o festerê do Luizinho!

Entenda como quiser
“Au”, lati para o segurança. Que era furry também e estava vestido de leão-de-chácara. Uma vez dentro do salão, porém, me livrei da coleira e do dono improvisado (obrigado, Renan!) e fui explorar a fauna mais ou menos normal que se reunia ali para celebrar o incrível feito que é ter uma pessoa como Luís Roberto Barroso na presidência do STF. Entenda como quiser.

A estrela da festa
Mesmo usando uma bússola Rolex (presente de um xeique árabe), acabei me perdendo no palacete. Abre porta aqui, abre porta ali. Quando dei por mim, estava no camarote da estrela da festa: Luís Roberto Barroso. Que, diante do espelho, dizia para si mesmo que “o título de presidente me cai bem”. Então tá.

Direito achado na rua
Me virei e quase derrubei um direito achado na rua que alguém tinha esquecido ali. Quase. Andando na ponta dos pés, ainda ouvi Barroso perguntar para o espelho: “Espelho, espelho meu, existe algum ministro mais iluminado do que eu?”. Quase me escapou uma gargalhada, mas consegui sair sem ser notado pelo agora Chief Justice. Não ouvi a resposta do espelho.

Paródia
De volta ao salão, percebi que o show da outra grande diva da festa, Maria Bethânia, já tinha começado e ela está cantando uma versão de “Negue”. Só porque me deu saudade de escrever paródia:

Diga que perdeu, mané!
Negue que o Bolso venceu
Que eu mostro a Janja deslumbrada
A ditadura instalada por um voto seu

Ideologia
À minha volta, algumas pessoas se entreolharam. Realmente a música estava um pouco, digamos, antibarroso demais para a ocasião. Mas você sabe como são esses artistas. E, no mais, Maria Bethânia pode. Maria Bethânia pode tudo.

Tanto é assim que ela emendou “Ideologia”, do Cazuza. Numa versão mais lenta e, digamos, poética. Mariabethaniamente poética. “Mas logo do Cazuza?!”, pensei, mas não disse nada. De repente eu me virei e quem vi (mas não me viu) ao meu lado? Alexandre de Moraes! Que, de olhinhos fechados, praticamente declamava os imortais versos do bardo do Baixo Leblon:

Meus heróis morreram de overdose
Eh, meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver

Que imagem!
Uau, que imagem! Sentindo que meus olhos vertiam sangue diante daquela cena, saí à procura de algo para comer e me deparei com o bufê – um oferecimento da Associação de Magistrados do Brasil. O cardápio era supremamente simples: arroz, feijão, refogadinho de chuchu, abobrinha picadinha e mistura. De sobremesa, paçoquinha. Brincadeira, claro. Cê acha mesmo…?

Fora, Bolsonaro!
Me empanturrei e voltei para a pista. Depois de puxar um anacrônico grito de “Fora, Bolsonaro”, Maria Bethânia entregou o microfone para Barroso. Que tinha subido no palco e eu nem vi. Ele começa a discursar e, data venia, o discurso é aquele blábláblá progressista de sempre (mudanças climáticas, desigualdades sociais, equidade de não-sei-o-quê). Um discurso escrito pelo Chat GPT e interrompido aqui e ali (sobretudo ali no cantinho, onde está a turma do PSOL) por aplausos entusiasmados. Mas o que é isso que estou vendo? Não é possível! Alguém pôs o Randolfe Rodrigues nos ombros! Cuidado, menino! Você cai daí!

Dona Democracia
“E agora eu quero convidar para subir aqui no palco a minha companheira inseparável de sempre: Dona Democracia!”, disse o presidente Barroso depois de minutos que pareceram horas. “Cri, cri, cri”, grilou ao meu lado um homem que se identificava como ortóptero. E nada de a Dona Democracia aparecer na festa, hein? Que coisa! Aliás, sobre as ausências notáveis, leia a nota seguinte.

Ausências
O terrorista Césare Battisti não pôde comparecer. Mas, da cadeia italiana onde cumpre prisão perpétua por quatro homicídios, o comunista defendido por Barroso lhe enviou uma garrafa de grappa artesanal feita pelos companheiros de cela. Eca. João de Deus também não pôde comparecer. Sabe como é que é. Se o indultado José Dirceu estava presente eu não sei. Não vi. Outra ausência diga de ser mencionada foi a da “pessoa horrível, uma mistura do mal com atrasado e pitadas de psicopatia”, Gilmar Mendes.

Festa chata
Para ser sincero, estava meio chata, a festa. E meio óbvia também. Maria Bethânia declamava poesias do Ayres Britto. Zzzzzzzzz. Atrás de uma coluna, com cara de assustado, encontrei Rodrigo Pacheco todo encolhido e tremendo, tadinho. Representantes de minorias agiam daquele jeito estereotipado que não posso aproveitar para fins cômicos aqui, sob pena de prisão.

E a turma do STF estava toda sentada numa mesa, contando histórias pretensamente engraçadas sobre os presos no 8 de janeiro. “Aí eu disse pra todo mundo que os presos aplaudiram o Alexandre de Moraes. Hahahahahahaha”, contava Rosa Weber, se esbaldando de rir.

Na saída…
Na saída, ainda me deparei com a ainda ministra Anielle Franco toda amuada num canto. Me aproximei dela e perguntei se era por causa da polêmica com o voo em jatinho da FAB e com a assessora demitide. “Que polêmica que nada! Eu ainda tô assim por causa do meu Mengão. Se o Pedro faz aquele gol no comecinho do jogo a gente ganha o campeonato, pô!”.

Putz!
Acabei de entrar no Uber e me dei conta de que esqueci de me despedir do Renan. Tchau, Renan! Obrigado. Até a próxima!

* Athayde Petreyze é colunista social, consultor de diversidade, bitcoinzeiro, revendedor de Ozempic e estagiário na Open Society. Campeão Sênior de Minecraft e recordista mundial de caça ao piolho, ele acaba de ser agraciado com o Prêmio Esso pelo furo de reportagem sobre a separação do casal Sandy & Lima. Autor do best-seller “Como Pintar o Meio-Fio Tão Branco Quanto as Forças Armadas” e do worst-seller “Luva de Pedreiro: uma biografia em decassílabos heroicos”, ele recebeu a alcunha de “Dumbo” na saudosa planilha de propinas da Odebrecht. E, antes que eu me esqueça, este é um texto de ficção. Qualquer semelhança com fatos e pessoas da vida real é coisa da sua mente poluída.

noticia por : Gazeta do Povo

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