A vacinação desse público é considerada prioritária pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), pelo fato de não terem paradeiro certo e estarem mais expostos ao vírus
CELLY SILVA
Da Redação
Desde o mês de abril, a Prefeitura de Cuiabá – através das equipes do programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) – já realizou a vacinação contra a covid-19 de 265 pessoas em situação de rua. O trabalho começou em abril, quando cerca de 30 idosos foram contemplados. No início de julho, o serviço foi retomado nos quatro albergues municipais – Manoel Miraglia, Porto, Guia e Hotel Albergue – atendendo a todos acima de 18 anos. A partir dessa fase, foi priorizada a utilização da vacina Janssen, de dose única, nesses pacientes, por conta da dificuldade em encontra-los posteriormente para aplicação da segunda dose. No entanto, parte desse público também recebeu doses da Coronavac, Astrazeneca e Pfizer.
A última etapa ocorreu na última semana de julho, com abordagens em pontos de maior concentração desse grupo, como a região do Porto, Beco do Candeeiro, Jardim Leblon e imediações da rodoviária. O casal Sueidi Laura Siqueira, 43, e Túlio Marcos dos Santos, 23, foi vacinado pela equipe do Consultório na Rua, no Beco do Candeeiro. Assim que a equipe de profissionais da Secretaria Municipal de Saúde chegou no local, Sueidi já demonstrou interesse em ser imunizada e, assim que recebeu sua dose, saiu em busca de outros colegas para receberem a vacina. “Nós somos uma família. Chegou comida, um chama o outro. Com a vacina, também. Tem muitos que não querem se vacinar, falta informação, mas a gente vai conversando e chamando”, disse. Para Túlio, “é melhor se prevenir, medo eu tenho é de ficar doente”. Segundo ele, “achar a vacina na porta de casa não é todo dia” e, por isso, aproveitou a oportunidade.
De acordo com Vera Lúcia Ferreira, coordenadora do Consultório na Rua e coordenadora de acolhimento e registro do polo de vacinação do SENAI Porto, a vacinação da população em situação de rua é diferente dos demais públicos por diversos motivos, um deles é o fato de que é preciso agir com muita sensibilidade e paciência. “É tudo no tempo deles. Se não tiver adesão num dia, a gente volta no outro até atingirmos a meta. A gente chega, monta as mesas, os agentes redutores de danos saem nas proximidades para convidá-los e, depois, eles mesmos saem chamando os outros”, explica.
Um exemplo disso é Jucélia Cristina da Silva, 45, que compareceu à unidade móvel do Consultório na Rua após ser avisada por Sueidi. “Achei ótimo! Graças a Deus veio essa vacina pra nós! A menina foi me avisar aí eu vim correndo”, contou.
Há 18 anos trabalhando com a população em situação de rua, o agente redutor de danos, Davi Cardoso, conta que, ao longo de sua carreira, teve a oportunidade de acompanhar a vida de várias pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, desde a infância até a vida adulta. “É uma história, é uma vida, é uma dor e é uma alegria também. A gente pensa neles quando está em casa, se preocupa se eles estão passando fome ou frio. Tem muita gente boa na rua, não tem só coisa ruim. A gente trata deles e eles acabam nos tratando bem também. Às vezes nos tratam mal, mas depois voltam para pedir desculpas. Quem se dispõe a estar ao lado deles, pegando na mão, abraçando?”, relata.
Tal visão humanizada é compartilhada pelo enfermeiro Dejamir Soares, que atua no Consultório na Rua há 2 anos. “Eles vão vindo conforme se sentem mais à vontade. Não é da forma que a gente quer, na hora que a gente quer… A gente julga muito, mas tem que conhecer a história das pessoas. E nós estamos aqui para dar esse atendimento humanizado em saúde”, afirma.
Conforme levantamento do Município, atualmente há 695 pessoas em situação de rua na Capital. A vacinação desse público é considerada prioritária pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), pelo fato de não terem paradeiro certo e estarem expostos devido ao fato de não terem condições de fazer isolamento social e adotar as medidas de biossegurança.