*Coronel Paulo Mendes
Os eventos ocorridos em Brasília no 8 de janeiro de 2023 serão lembrados ainda durante muitos anos, mas a verdade absoluta sobre eles só o tempo, melhor conselheiro, trará à tona com as luzes da história. Por ora, resta-nos buscar analisar os fatos de maneira desapaixonada e cartesiana, buscando fazer dissipar a névoa das narrativas e trazermos à tona a verdade.
Após o resultado do segundo turno das eleições de 2022, o Brasil amanheceu mais dividido, e, Lula, eleito com uma margem apertada de votos, parece achar que, por ter vencido, recebeu um cheque em branco para governar como quiser.
O ocaso do resultado das eleições fez com que brasileiros começassem, pouco a pouco, a se aglomerar em frente a diversos quartéis, principalmente do Exército, depositando nas Forças Armadas as esperanças de que delas pudessem surgir um fato novo, que fosse reverter o resultado nefasto do pleito. A retórica das urnas agravou o quadro e moldou um ambiente instável e perigoso.
O 31 de dezembro chegou, nada fora das previsões constitucionais aconteceu e uma legião de brasileiros descontentes assistiu, no dia seguinte, a Lula subir a rampa do Palácio do Planalto em um ritual totalmente desprovido de protocolo e, principalmente, cheio de apelo político.
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O país, ainda no clima das festas de fim de ano, passava por dias nebulosos e, em 8 de janeiro, o Brasil assistiu à Esplanada ser tomada por um grupo de pessoas que, em tese, protestavam ainda contra o resultado do pleito. Parcela menor desse grupo de pessoas investiu sobre as instalações do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, perpetrando a invasão de prédios públicos e episódios de algazarra, balbúrdia e danos ao patrimônio. Na oportunidade, o aparato de segurança das instalações supramencionadas não funcionou a contento, possibilitando que os fatos ocorressem.
Não há dúvida de que quem efetivamente perpetrou atos de vandalismo deva ser responsabilizado na forma da lei, mas aquilo a que o Brasil assistiu nas 24 horas seguintes foi muito além daquilo que nossos ditames constitucionais e princípios democráticos podem aceitar, rasgou-se o devido processo legal e voltamos a ter presos políticos.
Seguiram-se outras prisões arbitrárias, muitas por crime de opinião e outras ações policiais desproporcionais aos fatos investigados. Hoje, o Brasil tem sim presos políticos e isso diminuí nossa projeção no concerto das nações, além de envergonhar nossa democracia. Relatórios internacionais já dão conta desta infeliz realidade.
Para que efetivamente busquemos a verdade temos de clarificar os antecedentes e analisar friamente os fatos. Há sim que arguir formalmente as estruturas de inteligência, tanto federais quanto distritais, buscando-se saber quais foram os conhecimentos levantados, principalmente sobre a chegada de pessoas a Brasília e quais foram os resultados das análises de riscos pertinentes, sem esquecer de buscar comprovar qual foi a difusão exata dessas informações. Só assim saberemos, de verdade, se os decisores estavam cientes da situação.
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Outra questão importante é saber como os decisores se portaram após receber as informações de Inteligência. Buscaram aprofundar os dados? Se omitiram? Atuaram de forma limitada? Ignoraram os riscos? Somente de posse desses dados conseguiremos estimar o nível de responsabilidade de cada um e ver se efetivamente atuaram na medida da proporcionalidade para conter as ameaças.
Infelizmente, a CPMI dos atos de 8 de Janeiro, acontecendo no Congresso Nacional, bem como a CPI realizada na Câmara Distrital do DF, denominada como sendo dos “atos antidemocráticos”, estão dominadas pela fisiologia e pelo radicalismo de parlamentares do campo político da esquerda, que não querem oferecer ao povo brasileiro a verdade dos fatos, mas tão somente reforçar narrativas que lhes possam ser úteis.
Não houve tentativa de golpe de Estado! O governo de turno, parcela do Legislativo, parcela do Judiciário e a imprensa marrom buscam fortalecer a construção dessa narrativa. Ora, sabe-se que as Forças Armadas e as polícias, instituições que efetivamente teriam meios de tentá-lo, jamais aventaram institucionalmente tal manobra. As autoridades da República jamais tiveram sua integridade em risco, e, apesar do vandalismo que sofreram os prédios públicos em 8 de janeiro, jamais o sistema republicano foi ameaçado.
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O Brasil de hoje precisa da verdadeira união, não aquela falsamente pregada no slogan do governo. O país precisa se desenvolver com ordem e progresso, e os brasileiros de bem têm a obrigação de impedir que ideologias e simpatias interfiram na democracia e nos Poderes da República, contaminando julgamentos e iniciativas diversas. Não se pode mais compactuar com injustiças, e, só o povo nas ruas, protestando ordeiramente, pressionará as estruturas viciadas do establishment.
O país precisa de verdade, equilíbrio e coerência. O povo não pode mais se calar face às prisões arbitrárias e à situação das pessoas presas, pois no futuro as nações civilizadas não irão nos perdoar caso fechemos os nossos olhos e os nossos ouvidos para esses abusos.
Por fim, há também que se falar ao mundo do que tem acontecido no Brasil, acionar os organismos internacionais e as entidades verdadeiramente defensoras dos direitos humanos, independentemente do matiz político e ideológico. Pelos nossos filhos e netos, temos a obrigação moral de nos indignar perante os abusos, pois todos estamos e estaremos sujeitos a estes, caso permaneçamos ignorando a real situação.
O coronel Paulo Mendes é gaúcho de Erechim, passou sua infância em Lagoa Vermelha e fez seus estudos no Colégio Militares de Porto Alegre. É casado com Karin Hemesath e tem duas filhas. Na carreira militar, formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1995. Ao longo de 32 anos de serviço, fez todos os cursos regulares de sua arma, tendo comandado uma unidade operacional na Intervenção Federal para a Segurança Pública no Rio de Janeiro. De 2019 a 2022, foi assessor militar na vice-presidência da República, atuando na análise de temas institucionais.
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