Carolina Holland | Seduc-MT
Cerca de 900 profissionais e estudantes da Educação Básica, da rede estadual de ensino de diversas cidades de Mato Grosso, acompanharam a roda de conversa “O Protagonismo da Mulher Negra”, realizada na tarde dessa quarta-feira (10.03) de forma virtual. O evento, organizado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) é parte das comemorações do mês da mulher e teve transmissão ao vivo pela internet.
Participaram da conversa Antonieta Luisa Costa, a Nieta, presidente do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso e uma das idealizadoras do Centro Cultural Casa das Pretas, inaugurado em outubro de 2020, e a assistente social Elis Regina Prates, fundadora do Fórum de Mulheres Negras de Mato Grosso. A mediação foi de Flávia Gilene, servidora da Seduc-MT.
“É desafiador que as mulheres aceitem a sua identidade negra. Que a população, na verdade, porque quem precisa nos aceitar é a sociedade. É claro que muitos têm dificuldade em se aceitar, porque a partir do momento que ponho minha cara para fora, sei que vou sofrer preconceito. É claro que minha tentativa é camuflar, camuflar meu nariz largo, o tom da minha pele, principalmente meu cabelo crespo. Até quando vamos ter vergonha daquilo que nós somos?”, questionou Elis.
A assistente social citou ainda que as negras são grandes vítimas de feminicídio, violência doméstica, desemprego, subemprego e demais problemas sociais, mas que ainda assim são mulheres que não se deixam abater e buscam soluções para as adversidades enfrentadas.
“A mulher negra, mesmo na pior das situações, consegue manter um protagonismo e procurar alternativas desde que o mundo é mundo. No Brasil não foi diferente. O quão importante foi a articulação das mulheres na abolição [da escravidão], nos quilombos? Tivemos Tereza de Benguela, Maria Taquara, Mãe Bonifácia, mulheres à frente de seu tempo. (…) A mulher negra se redescobre, renasce, é uma fênix que ressurge das cinzas”, afirmou.
Educação
A presidente do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso também falou sobre a importância da construção da identidade negra e o papel dos professores nesse processo, na formação de novos cidadãos.
“Precisamos saber quem nós somos. Porque se não sei quem eu sou, a sociedade sabe e já escolheu o meu lugar: quando saio na rua, sou uma simples preta. Mas se sei quem eu sou, eu saio e sou a Antonieta, mulher preta, professora, militante do movimento negro. Eu sei quem sou e precisamos que os professores ajudem nisso. Vocês são nosso instrumento de mudança dessa sociedade que é racista. Quero que vocês me digam: ‘Eu sou antirracista. Eu não vou deixar meu aluno ser discriminado e vou embora silenciar’”, disse Antonieta.
Ela também ressaltou o papel dos educadores para ajudar a fazer uma sociedade menos preconceituosa. “A Educação Básica é a base da construção da identidade. E é nessa fase que a discriminação bate duro, é nessa fase que a menina negra não quer ser mais menina negra, que o menino negro não quer mais ser menino negro. É nessa fase que os professores e professoras precisam estar atentos para a mazela do racismo, atentos para a mazela da exclusão da criança negra”, disse Antonieta Costa.
Participaram da roda de conversa representantes de escolas de Colíder, Arenápolis, Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Juara, Acorizal, Guarantã do Norte, Campo Novo do Parecis, União do Sul, Primavera do Leste, Tesouro, São Félix do Araguaia, Nova Mutum, Paranaíta, Matupá, Santo Antônio do Leverger, Paranaíta, Nova Guarita, Tangará da Serra, Porto Esperidião, Confresa, Jaciara, Guarantã do Norte, Acorizal, Nobres, entre outras cidades.