Durante seu depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse não se lembrar dos avisos que recebeu em seu celular pessoal por Saulo de Moura Cunha, ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
G. Dias presta depoimento ao colegiado desde às 10 horas da manhã. Na ocasião, o ex-ministro respondia a uma pergunta do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
O parlamentar inqueriu o general sobre as mensagens trocadas entre o ex-ministro e Saulo. Conforme noticiou Oeste, as conversas comprovam que, desde 5 de janeiro, o general foi notificado sobre o risco de manifestações na Praça dos Três Poderes.
A partir do dia 6, as mensagens já mencionavam o risco iminente de invasões aos prédios públicos e de depredação.
“O senhor não interagia com o Saulo pelo WhatsApp?” interpelou Flávio. G. Dias então respondeu: “Eu interagia, mas sobre essas mensagens especificamente, não me lembro“.
O senador lembrou o ex-ministro que, apesar de ele não se lembrar, ele respondeu às mensagens de Saulo na manhã de 8 de janeiro. “Vamos ter problemas”, escreveu o general na época.
“O senhor sabia que problemas aconteceriam, mas não fez nada”, continuou Flávio. “O senhor diz que acionou o Plano Escudo, mas existem outros relatos dizendo que o senhor não acionou. Se passaram 43 horas e 6 minutos, sem que o órgão de inteligência vinculado à Presidência da República tomasse alguma providência, inclusive, sobre o Plano Escudo. Como o senhor disse, ao chegar ao Planalto, constatou que o plano não havia sido acionado.”
O general explicou que acionou o Plano Escudo em 5 de janeiro, mas que, ao chegar no Planalto, o general Penteado não organizou a estratégia. O Plano Escudo é a estratégia de segurança que protege as instalações do Planalto.
Essa segurança é feita em quatro linhas de contenção, sendo a primeira e a segunda combinadas com a Polícia Militar (PM); a terceira com os agentes de segurança patrimonial e a última com a tropa de choque.
Segundo o ex-ministro, o general Penteado não explicou a falha na segurança e foi imediatamente montar o bloqueio. “Então acionei o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, chefe do Comando Militar do Planalto, e pedi que ele mandasse todos os esforços ao Palácio. Assisti o último bloqueio da PM ser rompido antes que os vândalos chegassem ao Planalto”, continuou o ex-ministro.
Avisos que Gonçalves Dias recebeu antes do 8 de janeiro
Em 5 de janeiro, às 16 horas, Saulo envia a seguinte mensagem a Gonçalves Dias:
“Há convocação de atos para os dias 07 e 08 desse mês. Esses atos seriam em frente ao Congresso. Influenciadores ainda presentes no QG informam que alguns indígenas que se destacaram nos protestos de dez estariam retornando a BSB. Vamos manter o acompanhamento aqui.”
No outro dia, o próprio então ministro encaminhou ao diretor da Abin dois avisos que circulavam em grupos de manifestações. Saulo respondeu o general com outros avisos. Entre eles, um mencionava diretamente o risco de invasões.
“A perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades. Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas.”
Ao todo, cerca de 20 avisos foram enviados ao celular de G. Dias. O então ministro respondeu Saulo apenas na manhã de 8 de janeiro.
Leia também: “O mosaico do 8 de janeiro”, reportagem para a Edição 179 da Revista Oeste
noticia por : R7.com