POLÍTICA

Em Brasília, embaixadas de países com histórico de conflitos ficam lado a lado


Com capitais separadas por 7.816 km e um histórico de rivalidades que inclui a Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia são potências mundiais que já foram aliadas e inimigas em diferentes conflitos. Em Brasília, no entanto, as embaixadas desses países ficam a apenas alguns passos de distância uma da outra. A capital federal é sede de 133 embaixadas e representações diplomáticas de várias nações. Elas são as representações oficiais de um governo dentro do território brasileiro e são consideradas território estrangeiro em solo nacional.



A maioria dessas embaixadas fica no Setor de Embaixadas Sul, localizado no Plano Piloto, região nobre da cidade. O R7 selecionou exemplos de nações com atritos diplomáticos que possuem embaixadas localizadas próximas umas das outras.


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EUA e Rússia


Um voo entre o centro dos Estados Unidos e o meio da Rússia demora por volta de dez horas, mas, para cruzar esses territórios dentro de Brasília, uma caminhada de menos de cinco minutos é suficiente.



Embora tenham sido aliados durante a Segunda Guerra Mundial, os dois países estiveram em lados opostos durante um dos conflitos mais tensos e recentes, a Guerra Fria. Para o professor Jean Lima, doutor em relações internacionais, a rivalidade entre as duas potências “quase destruiu a humanidade por conta de seus enormes arsenais nucleares, da tremenda desconfiança mútua e dos sistemas políticos e econômicos divergentes”.


Na década de 1990, a Rússia foi convidada a participar do G7 em uma tentativa de países ocidentais de acomodar o país na chamada “nova ordem internacional”, além de ter a participação apoiada em instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).


Segundo Lima, no entanto, a rivalidade entre EUA e Rússia voltou a se acirrar por causa da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu, além do baixo desempenho econômico russo nos últimos anos da década de 1990 e a ascensão do atual presidente, Vladimir Putin.


Atualmente, com a Guerra na Ucrânia, os dois países estão ainda mais afastados, já que o presidente Joe Biden apoia a Ucrânia no conflito. Os americanos já enviaram ao governo ucraniano US$ 113 bilhões em ajuda econômica, humanitária e militar desde o início da invasão russa.


Na quinta-feira (19), Biden pediu ao Congresso dos EUA que envie uma ajuda militar “urgente” à Ucrânia. No dia seguinte, a Rússia criticou o discurso do presidente americano em que chamou Putin de “tirano” e equiparou Moscou ao grupo terrorista Hamas.


França e Reino Unido


A distância entre o Reino Unido e a França é de 1.091 km, aproximadamente a mesma distância entre Brasília e Salvador. De avião, demoraria por volta de uma hora e meia para ir do centro de um país ao outro. Em Brasília, no entanto, apenas 500 metros separam as embaixadas.



Os dois países, que são separados pelo canal da Mancha, possuem uma longa rivalidade que envolve conflitos militares e políticos. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e as Guerras Napoleônicas (1803-1815) são exemplos.


Segundo o professor Lima, as relações entre França e Reino Unido evoluíram na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial, sendo os dois primeiros países a declararem guerra à Alemanha nazista.


“Eu diria que, do ponto de vista político-econômico, a França adora um sistema mais social-democrata do que o Reino Unido, sendo os franceses mais permissivos com a intervenção estatal para promover a estabilidade social, enquanto no Reino Unido há maior tradição de políticas econômicas orientadas à liberdade do mercado”, afirma.


Os dois países possuem pontos de vista distintos em relação à integração Europeia. O professor explica que a França participou dos primeiros acordos embrionários da Comunidade Econômica Europeia nos anos 1950 e atualmente é um dos principais pilares e fiadores da União Europeia, fundada em 1993.


Já no caso do Reino Unido, a entrada na então Comunidade Econômica Europeia (antecessora da União Europeia) só aconteceu em 1973. O país também não adotou o euro como moeda oficial, como o fez a França. Em 2016, a população britânica votou pela saída do país da UE, o que ficou conhecido como Brexit — tendo o país deixado o bloco oficialmente em 2020.


Grécia e Turquia


Não são apenas os 1.158 km de distância que separam os centros de Grécia e Turquia. Disputas por ilhas no mar Egeu, fronteiras marítimas e a invasão turca em 1974 da ilha de Chipre são motivos que justificam a rivalidade histórica entre os países. Já em Brasília, as duas embaixadas dividem um estacionamento público, uma vez que são vizinhas uma da outra.



Para o professor Jean Lima, as diferenças geopolíticas entre gregos e turcos são alguns dos motivos que justificam a Turquia ainda não ter sido aprovada na União Europeia, bloco do qual a Grécia faz parte desde a criação.


Argentina e Chile


A Argentina e o Chile dividem fronteira. Em Brasília, as duas embaixadas seguem esse padrão, sendo vizinhas uma da outra. Segundo o professor Lima, uma rivalidade intensa entre os países durante os respectivos regimes militares quase levou a um conflito armado nas décadas de 1970 e 1980 — e até hoje ainda há desentendimento acerca de territórios e ilhas.



Um Tratado de Amizade foi assinado entre os dois países em 1984, com mediação do então papa João Paulo 2º, o que estabeleceu os limites territoriais no extremo sul do continente americano.


Ainda de acordo com o professor, “até hoje persistem um imbróglio e tensões diplomáticas entre ambos os países quanto aos limites da plataforma continental no mar, com divergências nos mapas oficiais”. Um dos motivos no interesse na região é o potencial de exploração de recursos naturais como petróleo e pesca, além de circulação de barcos.


Lima afirma que as disputas são contornadas com negociações diplomáticas e que um conflito armado é improvável, mas ainda é motivo de atrito.


“Do ponto de vista das economias, o Chile é mais aberto, com vários tratados de livre comércio, e a Argentina tende a buscar proteger mais a indústria nacional, pelo menos no século 21”, explica.


Israel e Irã


Aproximadamente 16 minutos de caminhada separam os territórios oficiais de Israel e Irã em Brasília, mas as diferenças entre os países não podem ser simplificadas no contexto geopolítico. Para o professor Lima, os dois países têm uma das relações “mais hostis e tensas do mundo”. “Não possuem relações diplomáticas. O Irã nem sequer reconhece o Estado de Israel e tem apoiado, inclusive, grupos agressivos a Israel, como o Hezbollah no Líbano”, afirma.



Lima esclarece ainda que o poderio nuclear dos países é um grande motivo de preocupação: Israel adota uma política de “ambiguidade nuclear”, não confirmando nem negando a existência de um programa nuclear militar, e se preocupa com o potencial programa nuclear iraniano.


Além dessas questões, relações diplomáticas com outros países também são motivo de atrito. “Israel é um tradicional aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, enquanto Irã e EUA não restauraram formalmente suas relações diplomáticas desde 1980, apesar de tentativas de aproximação na questão da regulação do programa nuclear iraniano no governo de Barack Obama (2009-2017)”, explica o professor.


Atualmente, as relações entre os países estão ainda mais tensas por causa da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Na segunda-feira (16), o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã, Nasser Kanaani, afirmou que Israel enfrenta uma “reação natural” da nação palestina e que o mundo está “testemunhando uma [demonstração de] coragem histórica de uma nação zelosa que tem uma história de mil anos na terra da Palestina”.

noticia por : R7.com

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