POLÍCIA

Violência toma conta e afugenta clientela do Centro Histórico de Cuiabá

RENAN MARCEL

DO REPÓRTER MT

Não é preciso muito tempo de conversa para perceber que os comerciantes do Centro Histórico de Cuiabá temem pelo futuro da região. Preocupados com a queda no movimento desde a implantação do estacionamento rotativo, os lojistas ainda enfrentam a insegurança.

Grupo de moradores de ruas e usuários de drogas agora fazem rondas diárias nas ruas Pedro Celestino, Cândido Mariano, Campo Grande e nos famosos calçadões da cidade. O “passeio”, muitas vezes em grupo, costuma vir associado a furtos e importunação de vendedores e dos escassos clientes, ao ponto de fazer gente das antigas pensar em deixar de vez o Centro Histórico. Para eles, a região está morrendo aos 305 anos da Capital mato-grossense. O sentimento é de abandono e impotência.

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“Todo dia quando você vai dormir você fica pensando: Será que minha loja vai ser roubada? Será que a minha loja vai ser ‘sorteada’? Porque toda noite, toda noite, eles roubam a fiação de cobre, o motor do ar-condicionado, o relógio que registra a água. Tem que tirar esse pessoal daí. É o que mais tem atrapalhado o comércio aqui”, conta o empresário Carlos Roberto, da loja Bebê a Bordo, há 25 anos funcionando no mesmo local. Durante a visita, a reportagem registrou o teto da loja danificado – veja imagens abaixo. Ele é um dos que já cogitam deixar o Centro.

“Todo dia quando você vai dormir você fica pensando: Será que minha loja vai ser roubada? Será que a minha loja vai ser ‘sorteada’? Porque toda noite, toda noite, eles roubam”

Leia também: Cobrança de estacionamento esvazia ruas do Centro de Cuiabá; comerciantes ficam no prejuízo e temem insegurança

Ao lado da loja de Carlos, uma empresária calculava o prejuízo de um ar-condicionado que havia sido destruído pelos marginais na semana anterior. Eles entraram pelo telhado e levaram os fios de cobre do motor. Quando abordada pela reportagem, ela perguntou: “Você está sozinho?” e foi logo fechando a porta do ateliê de roupa de noivas.“Desde que aconteceu isso, eu não estou dormindo bem”, desabafa. “Você fica desolado e com uma sensação de abandono. É difícil vir trabalhar e ver suas coisas assim. Estou bem desanimada”.

Renan Marcel/RepórterMT

onda de assalto centro histórico

 

“Um ar-condicionado desses vai mais ou menos uns cinco mil reais. Infelizmente, se continuar como está, o Centro vai morrer, porque as autoridades não fazem nada. Eu chamei a polícia, ela veio, mas disse que não poderia fazer nada. Eles são usuários de drogas e mesmo se forem presos, logo acabam voltando pra rua”, diz Simone Torres, indignada. Ela trabalha há dez anos no mesmo ponto e já foi vítima de assalto também. O bandido se passou por cliente para entrar na loja e roubá-la.

“Essa porta alí já foi arrebentada, aquela alí já foi arrebentada, e a outra também”, aponta um joalheiro para locais hoje fechados, sem comércio em funcionamento. Ele é um dos poucos que permaneceu naquela rua, mas preferiu não se identificar. A loja dele já foi roubada três vezes. Quebraram a porta, a janela, o telhado e arrombaram o cofre que ele usava para guardar as peças dos clientes. “Fui na delegacia e eles pediram imagens para abrir um inquérito para investigar”, conta.

O profissional até acredita que as câmeras podem ajudar, mas os circuitos privados instalados pelos lojistas sequer intimidam os bandidos durante a noite. A vendedora de uma ótica na Cândido Mariano conta que além da importunação aos clientes, a população em situação de rua também promove baderna por onde passa.

“As pessoas estão com medo de vir para o Centro porque puxam corrente, assaltam e fazem de tudo para ter entorpecente”

“Eles abrem a torneira na rua, entram nas lojas, conversam com os clientes, e isso espanta a clientela. As pessoas estão com medo de vir para o Centro porque puxam corrente, assaltam e fazem de tudo para ter entorpecente. Você pode ver que não tem lixeira mais nos postes, porque eles chutam e quebram. Quem sai do trabalho à noite sai de grupo e rápido para não ter risco de ser assaltado”, relata Maria Aparecida.

Há relatos de que à noite a Praça Alencastro e a entrada do prédio da Prefeitura são feitas até de motel. “O pessoal do Maria Joaquina [prédio residencial no Centro] conta que à noite isso vira um cabaré, tiram a roupa, ficam de casal”.

Atualmente a Câmara de Dirigente Lojista está instalando 300 câmeras em parceria com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), dentro do programa Vigia Mais MT. Os equipamentos são entregues pela Sesp aos lojistas cadastrados junto à CDL e estes fazem a instalação e se responsabilizam pela manutenção da câmera, que deve, obrigatoriamente, monitorar espaço público de interesse coletivo visando a melhoria da segurança como rua, avenida e praça.

O policiamento no Centro Histórico é feito pela 21ª Cia da Polícia Militar, que faz rondas na região. Segundo a assessoria da PM, a recomendação é de que a população denuncie via 190 qualquer ato de violência ou vandalismo.

Os furtos são investigados pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), da Polícia Civil. Os comerciantes possuem grupos no WhatsApp, onde compartilham fotos e vídeos da ação dos criminosos.

“O pessoal do Maria Joaquina [prédio residencial no Centro] conta que à noite isso vira um cabaré, tiram a roupa, ficam de casal”

Em nota, a Secretaria de Assistência Social de Cuiabá afirmou que mantém serviços, programas, projetos e benefícios da política de assistência social e realiza rotineiramente de busca ativa às famílias com o projeto “Quero te Conhecer” Pop Rua que consiste na abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem; e Imigrantes para sensibilização desta população que utiliza das ruas na capital.

O município conta com 14 unidades do Centro de Referência de Assistência Social- CRAS, que oferecem o serviço de fortalecimento de vínculos, bem como realizam o cadastramento de famílias junto ao Cadastro Único possibilitando o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e ao Programa Bolsa Família, dentre outros. Em Cuiabá são mais de 47 mil famílias referenciadas aos CRAS.

FONTE : ReporterMT

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