Marcos Vergueiro/Secom-MT
Produtores temem ser obrigados a comprar grãos para entregar para compradores.
Marcos Vergueiro/Secom-MT
Produtores temem ser obrigados a comprar grãos para entregar para compradores.
DO REPÓRTERMT
Apesar de o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter autorizado as instituições a renegociar as parcelas de investimentos rurais que vencem neste ano, os produtores de soja de Mato Grosso seguem no aguardo de ações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para evitar uma crise ainda maior no setor. É que os sojicultores acreditam que as medidas anunciadas são insuficientes para conter a crise.
A decisão do CMN autorizou que as instituições financeiras renegociem até 100% do valor principal das parcelas com vencimento entre 2 de janeiro e 30 de dezembro de 2024 desde que as linhas de crédito tenham sido contratadas até o dia 30 de dezembro do ano passado. Além disso, o tomador precisa estar com todas as parcelas em dia.
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Na visão dos produtores, as medidas não bastam porque a produtividade esperada para a safra é insuficiente para cobrir os custos da lavoura e ameaça até mesmo a entrega da soja já negociada. De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o custo da produção da safra é 62 sacas, enquanto a produtividade é apenas 52,85 sacas.
Uma das principais preocupações dos produtores é a chamada “cláusula washouts”, que prevê as obrigações entre produtores e compradores em caso de não o produto, no caso a soja, não seja entregue. Os produtores poderiam ser obrigados a comprar o grão no mercado, de acordo com a cotação do dia, para entregar ao comprador, além de ter que arcar com multas.
“Não houve nenhuma sinalização do Mapa sobre conversar com as empresas exportadoras sobre as cláusulas washouts. Muitos produtores podem não ter produto para entregar, então essa é uma das nossas grandes preocupações nesse momento”, explica o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber.
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A Aprosoja-MT também enviou ofícios ao Mapa com sugestões de medidas que ajudariam a amenizar a situação, mas não obteve resposta até o momento. Os ofícios foram encaminhados nos dias 26 de janeiro e 28 de fevereiro.
Segundo a Aprosoja-MT, foram solicitadas a destinação de R$ 500 milhões para alongamento de dívidas, com taxa de 5,5% ao ano; uma linha de crédito de 1,95 bilhão de dólares, a uma taxa de 5,5% ao ano e outra linha de crédito de R$ 1,05 bilhão para equalização de juros agrícolas e que o escore dos produtos não fosse prejudicado.
“A nossa demanda é por novos recursos, com prazo que possa alongar os compromissos que não puderam ser honrados integral ou parcialmente este ano e sem comprometer as obrigações da safra seguinte, além de isso ocorrer com antecedência para não prejudicar o escore do produtor”, completa Lucas Costa Beber.
Custo total da lavoura
Pesquisa divulgada na última sexta-feira (5) pelo Imea mostra que poucos produtores de soja de MT vão conseguir cobrir o custo total da lavoura. O levantamento foi realizado com 1.187 produtores, que são responsáveis por cultivar cerca de 2,5 milhões de hectares, ou 21% de toda área plantada no estado.
A pesquisa foi realizada em parceria com a Aprosoja-MT e divulgada durante reunião com os associados, na sede da entidade, em Cuiabá. Dos produtores que responderam a pesquisa, 80% já concluíram a colheita da oleaginosa. A pesquisa alcançou 99 dos 141 municípios do Estado.
Segundo a pesquisa, 153 produtores, ou 12,8% dos respondentes, tiveram produtividades acima do custo total, que ficou acima de 65 sacas. Por outro lado, 1.034 agricultores terão produtividades inferiores aos custos, ou 87,2%. Já a produtividade média das áreas levantadas é de 51,82 sc/ha, 20,25% menor que na temporada anterior, quando foi registrada 64,97 sc/ha.
A região mais penalizada pelas ondas de calor e a estiagem é a Oeste, que teve produtividade de 47,83 sc/ha, seguida pela Sul, com 51,75 sc/ha; Leste, com 52,70 sc/ha. Já a região Norte teve a maior produtividade, estimada em 53,49 sc/ha.
Ademais, dos produtores que responderam ao levantamento, 9% revelaram ocorrência de tombamento das plantas e 16,5% registraram abandono de área, em razão da baixa produtividade.
Safra de milho
O Imea também perguntou aos agricultores sobre as expectativas para a segunda safra de milho. A região que mais reduziu área para o cereal é a Leste, que diminuiu 26,2%; seguida da Oeste, com redução de 15,33%; Sul, com 12,97% e a Norte, com 7,28%. Já a redução média estadual deve ser de 8,44%, estimada em 6,94 milhões de hectares.
FONTE : ReporterMT