AMAURY NEVES
Nos últimos dias tem se tornado centro dos debates a ética e a honestidade dos servidores do Sistema Penitenciário do Estado de Mato Grosso. A enorme quantidade de materiais ilícitos apreendidos dentro das unidades prisionais nas operações, que são realizadas com apoio e participação da Polícia Penal em conjunto com outras forças de segurança Estado, mostram a dura batalha que é travada contra o crime organizado dentro dos presídios de todo o estado.
Revistas nas celas são atividades de rotina dentro das unidades prisionais, mas por falta de efetivo, muitas vezes não conseguimos ter resultado de excelência, visto que a entrada de materiais ilícitos é tentada diuturnamente, até mesmo pelo céu, com o auxílio de drones e por pessoas que arremessam os objetos por cima dos muros. Com o programa Tolerância Zero do Governo do Estado, essas revistas têm ocorrido com mais frequência, mais aparato e mais efetivo, o que maximiza seu resultado.
Acompanhei de perto a evolução da polícia penal, nas últimas três décadas me entreguei para essa profissão com objetivo de proteger o cidadão de bem e impedir que criminosos, mesmo privados de liberdade, pratiquem crimes. Sei de toda a dificuldade que é cumprir plantões de 24h dentro de uma unidade, e sabemos que como em qualquer outra profissão, existe aquele profissional ruim, que faz o que não deve e acaba respingando e manchando toda uma categoria. Mas digo sempre que temos orgulho de ser policial penal, e como presidente do sindicato que representa a categoria, não toleramos e condenamos todo e qualquer desvio de conduta.
Há muito tempo lutamos para a criação da nossa Lei de Carreira, que vai trazer mais segurança jurídica para os servidores e vai fortalecer a nossa categoria. Assim como a criação da corregedoria da Polícia Penal, que vai nos ajudar a tirar as maçãs podres, pois não queremos bandidos no nosso meio, queremos expurgar as pessoas que fazem coisas erradas e mancham a imagem da Polícia Penal de Mato Grosso.
Outro ponto que ressurgiu nos debates é a questão das cantinas nas unidades, mais conhecidas como “mercadinhos”. O que muitos não sabem é que elas funcionam há muito tempo, com conhecimento do Governo do Estado, Ministério Público e outros órgãos importantes em nosso estado. Inclusive com prestação de conta mensal aos órgãos públicos.
Na Penitenciária Central do Estado (PCE), hoje a administração deste estabelecimento é de responsabilidade da Associação dos Servidores da Penitenciária Central do Estado (Aspec), que foi criada em 2014. Sem fins lucrativos, toda a receita adquirida com a compra e a venda de produtos para os reeducandos é revertida para melhorias dentro da unidade, desde pequenos reparos estruturais até a construção de novas instalações, manutenção de equipamentos e a remuneração dos reeducandos que trabalham dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE).
Os responsáveis pela administração do mercadinho foram eleitos por votação dos membros da Aspec, de forma transparente e democrática. Podemos afirmar que sem a Aspec, a maior penitenciária de Mato Grosso estaria hoje em situação precária.
Atualmente a manutenção da unidade, das viaturas e a construção das torres de vigilância são muitas vezes custeadas pela Aspec. Assim como o custeio com alimentação e até mesmo água para os servidores e reeducandos que realizam cursos realizados dentro da unidade.
Em relação ao uso de câmeras nas fardas, para nós não fará diferença alguma, pois em todo nosso expediente somos monitorados da hora que entramos até a hora que encerra nosso turno.
Nos dedicamos para realizar uma das funções mais perigosas do mundo, e na esmagadora maioria somos além de pais, esposos, filhos e irmãos de família, profissionais sérios e que cumprem com suas obrigações. Nossa remuneração , assim como a de outras forças de segurança não condiz com a nossa função, e a muito tempo pedimos a valorização salarial da nossa categoria. Somos policiais penais com orgulho e não toleramos desvios de conduta.
Amaury Neves é policial penal há mais de 30 anos e presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Mato Grosso (Sindsppen-MT)
FONTE : ReporterMT
