POLÍCIA

Neri culpa Fávaro por "inchar" leilão de R$ 1,3 bilhão e o acusa de não ter ouvido o setor produtivo

RENAN MARCEL

DO REPÓRTER MT

O ex-secretário de políticas agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller (PP), afirmou na manhã desta quarta-feira (12) que o leilão para importação de arroz pelo Brasil foi feito de forma “açodada”, ou seja, com muita pressa, e sem ouvir o setor produtivo. Disse também, em entrevista à Band News, que o ministro do Mapa, Carlos Fávaro (PSD), abraçou o leilão no âmbito do próprio gabinete e, mesmo com recomendações técnicas para uma aquisição de arroz em menor quantidade, acabou optando juntamente com a Casa Civil pela importação de 263,7 mil toneladas do grão.

Neri Geller foi exonerado na manhã de terça-feira (11) após o governo anunciar que havia anulado o leilão. A suspeita é de uma tentativa de fraude na aquisição de R$ 1,3 bilhão em arroz. O ex-assessor de Geller está envolvido nas denúncias de irregularidades – entenda abaixo.

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“Foi uma decisão lá da Casa Civil junto ao ministro Fávaro, com certeza”, disse Neri quando questionado sobre a quantidade de arroz. “Como se deu [essa definição de quantidade] eu não consegui participar, porque o ministro puxou esse assunto 100% para o gabinete e é normal que seja assim. Não tem problema nenhum. Mas quem decidiu, obviamente, não fomos nós”, assegurou Neri.

O ex-secretário ainda revelou que a orientação técnica para a realização do leilão estipulava uma quantidade menor de arroz a ser importado. 

A decisão do governo federal de comprar arroz ocorreu em razão da catástrofe climática no Rio Grande do Sul, afetado por fortes chuvas que causaram inundações sem precedentes e destruíram as lavouras de arroz. O estado é responsável por 70% da produção nacional do grão e já havia colhido 80% do cereal antes das inundações. Por isso, os produtores não viram a iniciativa com bons olhos, já que eles garantiam que tinham condições de abastecer o mercado nacional.

“Nós orientamos, no primeiro momento, que se fizesse a alíquota zero das importações fora do Mercosul, criando mais competitividade. Mas decidiram pelo leilão. Fizeram um leilão de 100 mil toneladas, o que era aceitável inclusive por parte do setor, e cancelaram. Ali já começou a dar confusão. Então eu acho que o presidente Lula tem razão, foi mal conduzido do ponto de vista político”, criticou Neri.

Para Neri, o “atropelo” na realização do leilão se deu principalmente na avaliação técnica do cenário, como levantamento do prejuízo no Rio Grande do Sul e as condições do Mercosul de manter o preço aceitável nas relações comerciais. “Essa parte aí foi meio atropelada, a verdade é essa. Foi um pouco açodado e deveria ter ouvido mais o setor”.

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Denúncias

Neri Geller teve a exoneração oficializada pelo governo federal nesta quarta-feira. A decisão de demiti-lo foi anunciada no fim da manhã de ontem, após suspeitas de conflito de interesse na condução do leilão para importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Duas empresas que intermediaram a participação de três das quatro empresas vencedoras do leilão pertenceriam a um ex-assessor de Neri, Robson Luiz de Almeida França, que é sócio de Marcelo Piccini Geller, filho do ex-secretário, em outra empresa. Além disso, o responsável pela realização dos leilões da Conab, Thiago dos Santos, também era ex-assessor de Neri, foi indicado para o cargo por ele e chegou a trabalhar junto a Robson França.

A opção pela demissão e pela anulação do leilão para importação de arroz foi justamente para tentar evitar que o caso criasse problemas para a imagem do Governo Federal, já que a oposição estava se mobilizando para pedir a instalação de um Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias.

As empresas Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e Foco Corretora de Grãos, supostamente de Robson França, intermediaram a venda de 44% do arroz importado por meio de leilão realizado na semana passada. Robson trabalhou entre 2019 e 2020 no gabinete de Neri Geller, quando este era deputado federal por Mato Grosso.

Além disso, Robson seria sócio de Marcelo Geller na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio.

Nenhuma das vencedoras do leilão possui experiência na cadeia do arroz, o que causou estranheza no mercado. A quarta empresa, que ficou responsável pela importação de 147,3 mil toneladas e que deve receber R$ 736 milhões da Conab, foi a Queijo Minas, uma loja de queijos e laticínios em Macapá (AP). A negociação foi feita pela Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina (BCLM).

Com a anulação do leilão do arroz, espera-se que um novo edital seja publicado em breve, já que o governo não mudou de ideia sobre a necessidade de importação do produto.

FONTE : ReporterMT

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