POLÍCIA

CRM critica Abilio por não saber papel das UBS e criminalizar médicos: "Ele coloca em risco a vida das pessoas"

APARECIDO CARMO

DO REPÓRTERMT

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) emitiu uma nota criticando a postura agressiva do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), que tenta transferir para os médicos a responsabilidade pelos problemas na rede municipal de saúde.

Nesta quinta-feira (23), no decreto que estabeleceu situação de emergência na cidade por conta do aumento nos casos de dengue e Chikungunya, o prefeito oficializou a política de porta aberta, que proíbe as unidades básicas de saúde de recusar pacientes que procurem atendimento, mesmo que o quadro seja grave.

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Para o CRM, “essa postura do prefeito tem levado pacientes com problemas mais graves às unidades, colocando em risco a vida destas pessoas”.

“As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências. Usando como exemplo a iniciativa privada, elas funcionam como o consultório do médico, enquanto as UPAs são os Pronto-Atendimentos dos hospitais. Quando alguém tem dor, febre, vômitos e outros sintomas, esta pessoa não liga para marcar uma consulta, ela vai ao Pronto-Atendimento”, diz a nota do Conselho.

“Ao criminalizar e, inclusive, ameaçar os profissionais de saúde de demissão, o prefeito tenta imputar a estas pessoas a situação caótica do sistema como um todo e, como em outros episódios, tenta criar uma cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples”, prossegue.

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Em conversa com o , o médico Osvaldo Cesar Pinto Mendes, que é vice-presidente da entidade, disse que a categoria estranha a postura da secretária de saúde, Lúcia Helena Barboza Sampaio, por não sair em defesa dos médicos mesmo tendo sido uma liderança do CRM tempos atrás.

“Não [temos interlocução com a secretária de saúde]. O que nos surpreende porque ela foi presidente do Conselho Regional de Medicina, conselheira. Ela sabe disso, mas a gente não vê ela falar. Só quem fala é o prefeito e a gente não tem como ter diálogo com um cara que não entende, não sabe o que é. A gente tem que ter entendimento com a secretária, que é da área da saúde”, disse.

Oswaldo relatou que já houve um episódio de assédio moral contra médico em uma unidade de saúde no bairro Jardim Leblon, por um paciente que foi até o local em busca de atendimento que não poderia ser oferecido ali.

Os profissionais temem porque as unidades não têm equipes de segurança, o que os deixaria vulneráveis diante de ataques de pessoas mais violentas em situações em que as expectativas a respeito dos atendimentos venham a ser frustradas.

“Não tem segurança nenhuma, eles jogam a responsabilidade em cima do médico, que não tem nada com isso. Essa é a questão. E isso não está acontecendo só aqui, é no Brasil inteiro isso. O cara assume agora e quer jogar a pecha do sistema de saúde que não está funcionando ou que está precariamente funcionando em cima do profissional. Na pandemia éramos heróis, agora somos bandidos”, disse.

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“A gente não tem segurança dentro da unidade básica, aí vem um louco desses aí e vai querer bater. Daqui a pouco não tem ninguém para querer trabalhar lá”, acrescentou.

O Conselho Regional de Medicina vai propor uma nova reunião com o prefeito, dessa vez com a presença de um representante do Ministério Público, para tentar demover o prefeito da ideia de forçar as unidades básicas a atenderem pacientes com portas abertas.

Oswaldo disse que a função de uma UBS é oferecer os cuidados de prevenção e acompanhamento de pacientes, não cuidar de emergências menos graves, como tem defendido o prefeito. Para ele, o problema da superlotação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) pode ser resolvido melhorando a estrutura de trabalho e contratando mais médicos.

Veja abaixo a íntegra da nota do CRM:

 

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Diante de mais uma tentativa, por parte do prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, de criminalizar e imputar a responsabilidade pelo caos vivido no Sistema de Saúde da Capital aos médicos, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) vem a público esclarecer que:

– Há grandes diferenças entre Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Policlínicas. As UBSs não foram feitas para o atendimento de urgências e emergências. Usando como exemplo a iniciativa privada, elas funcionam como o consultório do médico, enquanto as UPAs são os Pronto-Atendimentos dos hospitais. Quando alguém tem dor, febre, vômitos e outros sintomas, esta pessoa não liga para marcar uma consulta, ela vai ao Pronto-Atendimento;

– Ao dizer que os pacientes classificados nas UPAs e policlínicas com classificação de risco verde, o prefeito dá a entender que estas pessoas poderiam ser atendidas nas UBSs, o que não é verdade. Essa postura do prefeito tem levado pacientes com problemas mais graves às unidades, colocando em risco a vida destas pessoas. Embora sejam menos prioritários que aqueles com classificação vermelha ou amarela, estes casos também demandam cuidados na própria UPA;

– Ao longo dos anos, a Atenção Primária passou por um verdadeiro desmonte e, hoje, as UBSs não possuem estrutura adequada para tratamento dos pacientes. Foi retirado do médico até mesmo o direito da emissão da Autorização de Internação Hospitalar (AIH). A população, que busca uma UBS sabe que o médico que atende nesta unidade conta apenas com uma caneta e com o bloco de receituário médico e que os exames pedidos não serão feitos, ou serão feitos após um, dois e até mesmo três anos;

– Sem nenhuma condição de atendimento, o que se vê é uma baixa taxa de resolutividade. Quem busca a UBS e tem o encaminhamento para a realização de um exame de imagem, por exemplo, leva, com sorte, mais de um ano para fazer o procedimento. O Conselho lamenta que, até o momento, não há nenhuma movimentação por parte da Prefeitura em contratar empresas para a realização destes exames. É justamente por não conseguir solucionar os problemas de saúde dos pacientes que as UPAs estão lotadas;

– Falando justamente do caso do Pedra 90, a realidade é que as UBSs 3 e 4 do bairro estão em reforma há pelo menos 8 anos, obra ainda não foi concluída. Isso sem contar a autorização para a criação de mais 100 equipes de Atenção Primária cuja efetivação até o momento não ocorreu no município;

– Do mesmo modo, é necessário que haja a compreensão de que uma consulta em uma UBSs é diferente de um atendimento em uma UPA. Comparar, quantitativamente, o número de pacientes atendidos como forma de medir a produção médica é irresponsável. Além do mais, muitas das consultas feitas em uma UBSs acabam sem registro no sistema por falhas do software utilizado pela Prefeitura de Cuiabá;

– Ao criminalizar e, inclusive, ameaçar os profissionais de saúde de demissão, o prefeito tenta imputar a estas pessoas a situação caótica do sistema como um todo e, como em outros episódios, tenta criar uma cortina de fumaça, vendendo a ilusão de que um problema tão complexo possui uma solução simples. O comportamento do prefeito, inclusive, contribui para o aumento no número de casos de violência contra médicos, verificado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em média, um profissional é vítima de violência a cada três horas, considerando apenas os casos em que Boletins de Ocorrência foram lavrados. O CRM-MT alerta que responsabilizará o prefeito caso ocorram ameaças injúria, difamação, agressões e outros crimes praticados contra os médicos na rede pública de Saúde;

– Por fim, o CRM-MT seguirá atento e cobrando medidas que efetivamente solucionam a causa principal desta situação, a falta de estrutura, organização, recursos e investimentos.

FONTE : ReporterMT

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