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Caiubi Kuhn é geólogo, doutor em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e professor na UFMT.
CAIUBI KUHN
Nas últimas semanas, o preço da tarifa do BRT foi um dos temas mais debatidos em Cuiabá. Mas como funciona e quanto custa o transporte público nos países desenvolvidos e em cidades como São Paulo, no Brasil? O modelo mais utilizado nesses lugares envolve diferentes formas de cobrança pelo uso do transporte público. Além da possibilidade de a pessoa pagar pela passagem, o usuário pode optar por comprar um bilhete que possibilita o uso do transporte público quantas vezes quiser, por um dia ou por um mês. Em alguns lugares do mundo, existem opções semestrais e até anuais. Neste texto, será explicado como funciona essa forma de cobrança, que poderia muito bem ser implementada em Cuiabá.
Em São Paulo, por exemplo, o custo da passagem de ônibus é de R$ 4,40 por viagem. O usuário pode optar também por pagar o valor de R$ 16,80 por 24 horas de uso ilimitado do sistema de ônibus. Nesse tipo de passe, ele pode fazer quantas viagens quiser durante um dia. Porém, para aquela pessoa que usa o transporte público todos os dias, a melhor opção é o bilhete mensal, que custa R$ 213,80 e permite ao usuário utilizar os ônibus da capital paulistana quantas vezes quiser ao longo do mês.
Caso a pessoa que opta pelo bilhete mensal fosse pagar todos os dias, de segunda a sábado, duas passagens para ir e voltar do trabalho, ela gastaria cerca de R$ 228,80 em um mês. Com o bilhete único mensal, além de economizar R$ 15, ela ainda poderá ir ao cinema, ao parque, sair à noite após o trabalho, sem aumentar em nada o seu gasto. E como isso é possível?
O custo da passagem é calculado com base no custo de operação do sistema de transporte. Todos que já usam ônibus sabem que, em alguns horários, ele anda lotado, enquanto em outros anda quase vazio. Na prática, o usuário que anda todos os dias no horário de pico, com ônibus lotado, está pagando pelo funcionamento do ônibus com baixa lotação. E, caso esse mesmo usuário estivesse usando o ônibus com baixa lotação, para visitar a mãe ou ver um jogo na Arena Pantanal, à noite ou no final de semana, não aumentaria em nada o custo de operação do transporte e, consequentemente, não aumentaria a tarifa.
O modelo do bilhete mensal beneficia quem muito usa o transporte público e é um modelo justo e muito mais inclusivo. Em Cuiabá, hoje, o cidadão paga R$ 4,95 por viagem. Se usar duas vezes por dia, de segunda a sábado, pagará R$ 257,40, valor bem superior ao pago pelo paulistano. Pagar R$ 1 no BRT e continuar a pagar R$ 4,95 por viagem no ônibus comum não representará um ganho para o usuário.
Não precisamos, em Cuiabá, inventar a roda, mas podemos copiar o modelo que funciona na maioria das cidades da Europa e em cidades no Brasil, como São Paulo. Isso traria justiça social para o cidadão que usa todos os dias o transporte público para ir ao trabalho. Para essas pessoas, o bilhete mensal vai garantir acesso à cultura, esporte e possibilitar o contato com amigos e familiares, e tudo isso sem aumentar o gasto de operação do transporte público e sem aumentar o custo da tarifa. O transporte público deveria ser uma prioridade de qualquer gestor, pois é fundamental para garantir mobilidade às pessoas. E você, leitor, acredita que podemos copiar este modelo aqui em Cuiabá?
*Caiubi Kuhn é geólogo, doutor em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e professor na UFMT.
FONTE : ReporterMT