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Tragédia de Brumadinho, que completa 6 anos, deixou alta concentração de metais pesados no solo

Propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos às margens de rios da região de Brumadinho (MG) foram alteradas e há acúmulo de metais pesados, acima dos níveis seguros, desde o rompimento da barragem B1 da mina do Córrego do Feijão, da Vale, em 2019. A tragédia, que completa seis anos neste sábado (25), deixou 270 mortos e um rastro de contaminação que impõe riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

Essa análise faz parte de um novo levantamento que avalia os impactos nos chamados solos ripários, aqueles que ficam ao longo de cursos d’agua, afetados pelo acidente. O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores Andressa Cristhy Buch e Emmanoel Vieira da Silva-Filho, da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Conforme o estudo, o solo concentra arsênio, cádmio, cobre, cromo, mercúrio, níquel e chumbo, com valores acima dos estabelecidos pelas normativas nacionais e internacionais. Além de Brumadinho, o levantamento contemplou os municípios vizinhos atingidos pela lama: Mário Campos, Betim, São Joaquim de Bicas, Florestal, São José da Varginha, Paraopeba e Pompeu.

Doutora em geociências e geoquímica ambiental, Buch explica que Brumadinho faz parte do Quadrilátero Ferrífero, região secularmente explorada devido à sua formação geológica. Naturalmente, diz ela, esses solos possuem concentrações mais elevadas de metais, mas o nível atual é consequência do uso para a mineração e do acidente de janeiro de 2019.

“Com o rompimento de barragens minerárias, como as de Fundão [em Mariana, 2015] e a do Córrego do Feijão, as concentrações de metais aumentaram de uma maneira abrupta, podendo chegar a valores preocupantes tanto para o meio ambiente como para a saúde humana”, explica.

Em Brumadinho e região, as concentrações de metais pesados são de 2 a 40 vezes maiores do que antes do rompimento.

A pesquisadora acrescenta que as condições do solo também foram alteradas tanto na questão de disponibilidade de nutrientes para fauna e flora quanto na sua densidade e compactação, aumentadas com o espalhamento da lama.

Como consequência dos níveis de metais pesados, o estudo destaca o risco aumentado de desenvolver doenças como câncer. A análise aponta também maior propensão em crianças ao desenvolvimento de queratose (lesões na pele), hiperpigmentação (escurecimento de áreas do corpo) e complicações vasculares.

Procurada pela Folha para comentar os resultados da pesquisa, a Vale, em nota, afirmou que aguarda a conclusão do estudo, previsto para o segundo semestre de 2025, para avaliar os achados. A empresa disse ainda que realizou uma extensa investigação nos sedimentos e solos da região, com objetivo de avaliar possíveis impactos.

Segundo a Vale, os resultados de mais de 400 amostras e 6.000 análises não apresentaram concentrações de elementos potencialmente tóxicos acima dos limites estabelecidos pela legislação.

“É importante pontuar que outras análises estão em curso”, citou a empresa.

Nayara Porto, 32, presidente da Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão), cobra justiça pela tragédia que, além das 270 mortes e de três desaparecidos até hoje, ainda deixou riscos para os moradores da região.

Porto perdeu o marido, Everton Lopes Ferreira, que trabalhava como operador de empilhadeira na Vale, e o cunhado, Thiago da Silva Barbosa, também funcionário, além de amigos. Junto à associação, ela organiza uma programação de homenagens às vítimas.

“A gente costuma dizer que a tragédia só começou no dia 25 de janeiro de 2019. Ela continua aqui em Brumadinho através dessas contaminações de solo, das doenças, problemas ambientais”, afirma. “É uma tragédia continuada. E nós sabemos que muita coisa ainda pode vir.”

“A nossa maior bandeira é a justiça. Nós não aceitamos que essa tragédia humanitária, uma das maiores do Brasil, possa ficar impune. São seis anos que está completando sem justiça, sem ninguém preso“, critica.

Sobre reparação, a Vale afirmou que as “ações avançam consistentemente”. Em 2021, foi assinado acordo de reparação entre o Governo de Minas Gerais, os ministérios públicos federal e de Minas Gerais, as defensorias públicas de Minas Gerais e a Vale. O valor total estimado é de R$ 37,7 bilhões.

noticia por : UOL

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