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Tesouro paga juro real de 8,2% em leilão da dívida, maior patamar desde 2008

A incerteza dos investidores em relação à trajetória das contas públicas sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou o Tesouro Nacional a pagar a maior taxa de juros nas emissões da dívida pública desde 2008, quando o país ainda enfrentava as repercussões da crise financeira global.

O recorde observado nesta terça-feira (17) ocorre no mesmo dia em que o dólar rompeu a barreira dos R$ 6,20. O Banco Central interveio no mercado de câmbio e injetou quase US$ 3,3 bilhões extras, na tentativa de amenizar a volatilidade da moeda americana.

Um dos principais termômetros dessa desconfiança é a emissão das NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B), título remunerado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o índice oficial de inflação no Brasil) mais uma taxa real de juros.

Nesta terça, a taxa da NTN-B de três anos chegou a 8,24%, a maior desde 9 de dezembro de 2008, quando o governo pagou 8,86% aos investidores. Diante do alto custo, o governo vendeu apenas 11,7 mil dos 50 mil títulos ofertados ao mercado.

O Tesouro ainda ofereceu outros dois vencimentos de NTN-Bs no leilão desta terça.

O papel com prazo de sete anos registrou uma taxa real de 7,54%, recorde desde a criação deste título, em 2021. O lote de 50 mil foi integralmente vendido.

Já o prazo de 25 anos registrou uma taxa de 7,2%, também a maior desde a criação (2022), mas só 4,5 mil papéis foram emitidos de um total de 50 mil ofertados.

Em volume financeiro, isso significa uma captação de menos de R$ 272 milhões —valor extremamente baixo para as necessidades de financiamento do país. Só neste ano, o governo projeta um déficit de R$ 64,4 bilhões.

O Tesouro já havia anunciado na sexta-feira (13) uma redução na oferta de títulos públicos para esta semana, em uma “atuação conjunta com o Banco Central”.

A intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio pode gerar, como efeito colateral, maior pressão no mercado futuro de juros —seja porque investidores mais afeitos a risco precisam migrar suas apostas diante da intervenção do BC no câmbio, seja porque contenção do dólar pode ser lida como temporária, se tornando fator de risco para a inflação mais à frente.

Diante desse efeito, o Tesouro tende a tirar o pé do acelerador nas emissões para evitar adicionar mais pressão na curva de juros. Isso também evita que a União trave um montante significativo de sua dívida a um custo excessivamente elevado.

Os resultados de outros leilões recentes do Tesouro, porém, mostram que os investidores estão cobrando cada vez mais caro para financiar o país.

As taxas, que antes já haviam alcançado patamares equivalentes a julho de 2022 —quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu aprovar a PEC Kamikaze para turbinar gastos em ano eleitoral—, agora se aproximam aos níveis observados entre o fim de 2015 e o início de 2016, na antessala do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Na semana passada, o leilão da NTN-B de cinco anos resultou numa taxa de 7,38%, a maior desde 15 de dezembro de 2015 (7,52%).

A deterioração também foi percebida na NTN-B de 40 anos, papel de maior prazo emitidos pelo governo nos leilões de oferta pública. A taxa real ficou em 6,96%, a maior desde 1º de março de 2016 (7,3%).

O volume financeiro da captação via NTN-Bs na semana passada ficou em quase R$ 3,1 bilhões. É um valor melhor que o verificado nesta terça, mas ainda assim inferior a períodos de menor turbulência.

No acumulado até 17 de dezembro, o Tesouro captou R$ 43 bilhões por meio dos leilões de oferta pública da dívida. Em todo o mês de novembro, esse valor ficou em R$ 73,3 bilhões —bem abaixo da média dos últimos 12 meses (cerca de R$ 124 bilhões ao mês).

Um aumento no custo da dívida tem reflexo direto no esforço que o próprio governo ou seus sucessores precisarão fazer para honrar a fatura dessas obrigações. As taxas mais altas serão carregadas durante anos, até o vencimento do papel emitido no momento da turbulência.

A redução das emissões para tentar evitar esse custo, por sua vez, reduz a reserva de liquidez, conhecida como “colchão da dívida“. Ela serve de seguro para honrar obrigações futuras com os investidores.

Até julho deste ano, o colchão da dívida estava acima de R$ 1 trilhão, suficiente para honrar cerca de 8 meses de pagamentos. A partir de agosto, o Tesouro começou a queimar parte dessa reserva.

Ela encerrou o mês de outubro em R$ 822 bilhões —um valor ainda robusto, suficiente para quase 7 meses de vencimentos. O valor considerado “prudencial” era de R$ 280 bilhões, o suficiente para honrar 3 meses de obrigações.

noticia por : UOL

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