Depois de o direitista Alberto Feijóo falhar em sua tentativa de formar um governo na Espanha, na semana passada, o rei do país, Felipe 6º, autorizou Pedro Sánchez, primeiro-ministro interino e líder do segundo partido mais votado nas eleições gerais de julho, a tentar montar uma coalizão para se manter no cargo. O anúncio foi feito por Francina Armengol, presidente da Câmara baixa do Congresso, nesta terça-feira (3).
Sánchez afirmou que começaria a negociar com as principais legendas já nesta quarta (4) para “não perder tempo”, nas suas palavras. A primeira reunião, segundo ele, será com sua ministra do Trabalho, Yolanda Diaz, líder do Sumar, grupo de pequenas legendas de esquerda.
“Estou disposto a trabalhar para formar o mais rápido possível um governo de coligação progressista com apoio suficiente para garantir a estabilidade que o país necessita”, disse Sánchez, candidato do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), após o anúncio do rei.
Em sua tentativa de angariar apoio, o premiê interino deve negociar detalhes da anistia de membros da sigla Junts, que foram presos e sofrem processos após proclamarem a independência da Catalunha sem respaldo legal em 2017. O plano tem motivado protestos organizados por apoiadores de Feijóo, contrários à redução das penas.
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Ainda assim, os separatistas avançaram nos últimos dias. O Junts se uniu à ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) para exigir que, além da anistia, a comunidade autônoma possa fazer um referendo sobre a independência. É um ponto complexo para Sánchez, que não pode se comprometer com a demanda, uma vez que a Constituição espanhola veta tal possibilidade.
Sánchez, que comanda o país desde 2018, precisa da maioria absoluta do Congresso de 350 deputados, ou seja, 176 votos, metade mais um, para se reeleger. Ele terá até 27 de novembro para obter o apoio do Parlamento. Se não chegar a um acordo, novas eleições serão convocadas para meados de janeiro.
Com 121 deputados eleitos no pleito de julho, Sánchez e o PSOE contam em tese com os 31 da coligação Sumar e com o apoio de outros quatro partidos menores, totalizando 171 votos. É um a menos do que conseguiu o PP (Partido Popular), de Feijoó, em sua investidura. Para conseguir se reeleger para mais quatro anos, portanto, o premiê vai precisar dos sete votos do Junts, único partido que não apoia nem o PSOE nem o PP.
Sánchez não mencionou nesta quarta, de forma explícita, o plano de anistia aos separatistas, mas defendeu o indulto, concedido por ele em 2021, a nove líderes catalães que estavam presos após a tentativa fracassada de independência em 2017. O premiê disse que a crise desencadeada pelos ativistas “não trouxe nada de bom”. “Mas desde então tenho tentado superar essa situação”, afirmou.
Feijóo, em sua fracassada investidura na sexta (29), recebeu 172 votos a favor e 177 contrários —houve ainda um voto nulo.
As eleições gerais deveriam acontecer em novembro, mas tudo mudou após o 28 de maio, quando eleições regionais nos municípios e nas comunidades autônomas surpreenderam a esquerda. Na ocasião, foram eleitos representantes para prefeituras em todo o país, além de deputados estaduais de 12 das 17 províncias espanholas. O PP ganhou a maioria das praças, e o PSOE viu sua esfera de influência encolher.
Na manhã seguinte ao escrutínio regional, Sánchez antecipou em quase quatro meses as eleições gerais, escolhendo a data de 23 de julho. A ideia, que se provou correta, era não ficar quatro meses sangrando em uma posição frágil e conter o desgaste. Assim, conseguiu evitar mais crescimento da direita e diminuir a possibilidade de que o PP e o Vox, de ultradireita, conseguissem uma maioria capaz de eleger o premiê.
noticia por : UOL