Rebeldes responsáveis por uma onda recente de ataques sangrentos que deixou dezenas de mortos na Colômbia passaram pelo território venezuelano antes de lançar um dos piores episódios de violência no país nos últimos anos, de acordo com relatório de inteligência militar vazado.
O documento indica que pelo menos 80 combatentes armados com poderosos fuzis e explosivos atravessaram os estados fronteiriços de Táchira e Zulia, na Venezuela, antes de atacar um grupo armado rival e seus supostos apoiadores civis, segundo o jornal britânico The Guardian.
A revelação aumentou a tensão entre Bogotá e Caracas, à medida que as autoridades colombianas questionam o papel do país vizinho na operação e a possível cumplicidade do regime de Nicolás Maduro.
As tensões podem aumentar ainda mais com a suspeita de que o regime venezuelano teria autorizado a operação ou desempenhado um papel ativo no planejamento do ataque, disseram analistas.
Bram Ebus, do Grupo Internacional de Crise, afirmou ao The Guardian que, embora não houvesse evidências concretas, era difícil acreditar que o ataque tivesse acontecido por coincidência, principalmente após as posses de Maduro e do presidente americano, Donald Trump.
O conflito que assola a região de Catatumbo, próxima do território venezuelano e onde há uma das maiores reservas de coca (matéria-prima da cocaína) no mundo, serviu como um dramático lembrete da paradoxal relação entre o presidente colombiano, Gustavo Petro, e o herdeiro de Hugo Chávez.
Lá Fora
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Disputas armadas entre integrantes do ELN (Exército de Libertação Nacional) e de um grupo dissidente das antigas Farc, o Frente 33, deixaram cerca de 80 mortos, muitos civis, nos últimos dias.
Mais de 36 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, a maioria delas em caravanas terrestres e fluviais rumo a regiões nas quais ainda há relativa paz ou mesmo ao país vizinho, a Venezuela, que numa triste ironia é a origem da maior diáspora hoje na América Latina. Há pelo menos 1.600 colombianos refugiados do lado venezuelano.
Petro respondeu rompendo as negociações de paz com o ELN, anunciando um “estado interno de comoção” e enviando tropas para a fronteira. Maduro também enviou tropas para a fronteira.
Mas à medida que a escala da atrocidade de direitos humanos se tornou clara, as tensões aumentaram ainda mais, já que Petro questionou como era possível que tantos homens armados pudessem ter viajado centenas de quilômetros de Arauca a Norte de Santander sem serem detectados, nesse ataque recente, segundo o The Guardian.
“Certamente teríamos alguma forma de informação e não tínhamos. Por onde eles passaram?”, perguntou Petro.
Caracas revidou acusando Petro —um ex-guerrilheiro de esquerda— de trair suas raízes. “Aquele homem é um zumbi; ele arruinou todo o seu prestígio. Não sobrou nada da pessoa de esquerda que ele já foi”, disse um alto funcionário da administração Maduro ao jornal espanhol El País.
O ELN, o grupo guerrilheiro ativo mais antigo do mundo, é conhecido por operar em território venezuelano há décadas.
Grupos de direitos humanos e analistas indicam que a crise na Venezuela fortaleceu o ELN, que teria estreitado laços com o governo.
Antes focado em lucros, o ELN agora colabora com forças venezuelanas, sendo usado por Maduro para controlar a fronteira e impor ordem no arco minerador, explorando ouro e diamantes.
Os laços de Maduro com o ELN há muito são um segredo aberto e desconfortável, mas a catástrofe humanitária em Catatumbo lançou luz sobre o relacionamento de Maduro com o grupo rebelde e colocou pressão sobre Petro para agir, de acordo com o The Guardian.
Petro era um dos poucos aliados restantes de Maduro, mas se recusou a comparecer à sua posse em 10 de janeiro, depois que as eleições nacionais da Venezuela foram amplamente consideradas uma farsa.
noticia por : UOL