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Rafael Grampá cria versão psicótica do Batman em Gotham City similar a SP

Na arquitetura, a gárgula é um ser grotesco com um bico projetado para transportar água do telhado de uma edificação, evitando que ela escorra pelas paredes de alvenaria. Especialmente na Idade Média, eram criadas como figuras monstruosas, humanas ou animalescas.

É com essa forma sinistra, agachado no alto de uma torre e sob uma chuva incessante, que o Batman desponta na capa de “A Gárgula de Gotham”, série em quatro volumes da DC Comics criada pelo brasileiro Rafael Grampá e cujo primeiro volume será lançado em 16 de setembro nos Estados Unidos, Brasil, Espanha, Itália e Alemanha.

Trata-se de um novo olhar sobre Batman, ainda mais violento e taciturno. Agora, ele abandona em definitivo sua real identidade, a do bilionário Bruce Wayne, para enfrentar um serial killer que tem relação com seu passado, especialmente com o assassinato de seus pais.

“Bruce se tornou Batman ao jurar vingança pelos parentes mortos e, quando essa crença se tornou um presságio, reconheci ali uma história não contada”, relata Grampá, que está nos Estados Unidos participando da turnê de lançamento de seu projeto autoral.

A história que apresentou a origem de Batman, em 1939, criada por Bob Kane e Bill Finger, partia de dois princípios: quem é o homem mascarado e como surgiu. “Agora, busco explorar quem ele é por que veio a se transformar nessa figura, o que incentivou minha própria interpretação de Batman para então mergulhar nos cantos mais sombrios de sua essência”, diz o desenhista, que trabalha há dois anos no projeto. “Batman precisou matar Bruce Wayne para cumprir sua promessa.”

Na caçada ao serial killer, o vingador mascarado enfrenta uma nova galeria de vilões, nenhum conhecido do público, em uma Gotham City sombria que, em seus becos escuros, se assemelha a São Paulo.

“A grafia do título da capa foi inspirada nos pixos que se espalham pela cidade”, diz Grampá, que também desenvolveu uma nova forma de relação entre Batman e o mordomo Alfred.

“É uma amizade mais solta, em que Bruce faz mais molecagens e também Alfred se especializa em tecnologia de ponta para encontrar caminhos mais eficazes de proteção de seu pupilo.”

O quadrinista brasileiro teve carta branca da editora para criar o projeto, fruto não apenas da qualidade de seu trabalho mas principalmente do aval de Frank Miller, um dos maiores criadores de histórias em quadrinhos da atualidade e com quem Grampá trabalhou em “Cavaleiro das Trevas: A Criança Dourada”, em 2019.

O primeiro contato entre eles aconteceu cinco anos antes, quando Miller percebeu as qualidades de seu desenho e, principalmente, das intenções de seus enredos em “Mesmo Delivery”, primeiro álbum individual de Grampá, lançado em 2008. Trata-se da trajetória do ex-boxeador Rufo, obrigado a aceitar um trabalho como motorista de caminhão para entregar uma carga misteriosa, sob a condição de que o contêiner que transporta não pode ser aberto em hipótese nenhuma.

Não bastasse o interesse provocado pela trama, os quadrinhos criados por Grampá eram marcados por experimentalismos gráficos, que evidenciavam a violência mas também revelavam um conhecimento de técnicas cinematográficas: os planos são arrojados e os diálogos, mínimos, sintéticos, reduzidos ao essencial para a compreensão da história.

As experiências gráficas inovadoras abriram-lhe as portas para manter um contato constante com o americano, a ponto de Miller convidar Grampá para trabalhar em “A Criança Dourada”, que marcou o retorno do autor ao fascinante universo do herói, cuja fase atual teve início em 1986.

Naquele ano, “O Cavaleiro das Trevas” representou um divisor de águas no mundo dos quadrinhos ao lado de “Watchmen”, de Alan Moore e publicada no mesmo ano, e “Maus”, de Art Spiegelman e de 1988. Todas estabeleciam padrões para histórias adultas em um universo que se acreditava ser essencialmente juvenil.

Assim, personagens consagrados foram remodelados, ganhando mais complexidade psicológica.

Da convivência com Miller, o brasileiro absorveu não só os detalhes da criação de seu traço, mas também uma forma de trabalho produtiva, algo como desenvolver inicialmente tramas que definiriam a feitura das cenas cruciais.

“Só depois que meus desenhos ficavam prontos é que ele colocava o texto”, conta Grampá, que se impõe a missão de transformar a aberração em beleza.

Uma metodologia semelhante é usada por Grampá em outra importante parceria que desenvolve com o ator Keanu Reeves: a série de quadrinhos “BRZRKR”, cujo primeiro volume já foi lançado e acompanha Berzerker, agente que trabalha para o governo americano em batalhas violentas e perigosas.

“Estamos há dois anos no processo de criação, que começou com a definição do universo da história, algo como regras de RPG, o que permite tirar qualquer história de qualquer região desse universo”, diz Grampá.

noticia por : UOL

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