Uma nova invenção do Natal ocorre com transformação econômica e social do século 18, acompanhada pela santidade da propriedade privada e uma burguesia que, para se diferenciar da aristocracia e dos trabalhadores, inventa suas tradições para colocar nas vitrines da sociedade seus valores. O piano chega ao centro da sala, num símbolo de status de ter tempo sobrando para praticar um instrumento – e portanto, de não ser um trabalhador.
É o momento também de uma nova noção da família como parte da identidade, inclusive por motivos de herança. O sagrado passa a ser esse núcleo social, carregando com ele a criação de um ritual de dar presentes para demonstrar um amor que nem sempre esteve presente. O Natal, portanto, se transforma numa data que comemora a família, e não apenas Jesus.
A tal da árvore é também outra invenção, assim como São Nicolas, cuja data original é 6 de dezembro. Foi um conto de 1823 que o coloca num trenó e transfere seu dia para a noite de 24 de dezembro. Até 1850, o dia 25 de dezembro sequer era um feriado em diversos países europeus ou nos EUA.
O que é comum em todas as eras é a necessidade que temos de acreditar num futuro melhor, na esperança como motor e de declarar quem somos. Ou desejamos ser.
Por isso, talvez tenha chegado o momento de redefinir o Natal. Não para substituir por uma outra festa e muito menos para atacar o cristianismo. Mas para justamente transforma-lo num esforço de reinvenção do futuro.
Ao longo da história, o Natal não foi apenas sobre Jesus. Mas sobre quem somos, sobre nossa identidade. Se desejar “Feliz Natal” é desejar amor, precisaremos então imaginar novos mundos e novas formas de viver em sociedade, como propõe a escritora Juliana Monteiro sempre de forma tão enfática.
noticia por : UOL