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Plebiscito constitucional no Chile: quatro anos depois, uma volta à estaca zero

Toda a direita apoiou a campanha a favor da proposta constitucional. Do Partido Republicano de José Antonio Kast, à direita tradicional do Chile Vamos, passando por alguns grupos dissidentes da crepuscular Democracia Cristã, além do favoritismo aberto da grande mídia.

Mas o maior e mais entusiasmado apoio veio das elites e dos patrões, que seriam os maiores beneficiários da proposta. Dados do Serviço Eleitoral revelaram que 98% das contribuições financeiras para as campanhas foram direcionadas para o voto “A Favor”.

No dia seguinte, interpretações variadas tomaram conta da mídia. O progressismo interpretou o voto como uma rejeição aos extremos, enquanto a direita o interpretou como um apoio à Constituição atual, o status quo neoliberal. A presidente do Partido Socialista, Paulina Vodanovic, descreveu o resultado como uma derrota: “O Chile perdeu, porque tivemos a oportunidade de ter uma boa constituição escrita na democracia e não a aproveitamos”.

Mas ela atribuiu o fracasso à direita e, especialmente, ao Partido Republicano: “Foram eles que perderam ao querer impor seus termos, acho que eles têm que fazer um mea culpa pela farra […] Não havia possibilidade de chegar a acordos, o texto era ruim, eles colocaram um programa de governo em uma Constituição”.

O ex-ministro do governo da Concertación, Francisco Vidal, fez uma análise otimista em uma coluna publicada pelo jornal El Mercurio. “Esse triunfo, sendo parte do governo, ocorreu em um contexto de crescimento econômico zero este ano, com desemprego de 8,9%, com inflação reduzida, mas que terminará o ano em 4,5%, com uma percepção de insegurança cidadã sentida por mais de 90% dos chilenos. Apesar de tudo isso, as forças de esquerda e centro-esquerda conseguiram triunfar”.

O economista e membro do Partido Socialista Gonzalo Martner também prefere ver o resultado como um apoio às ideias progressistas. Em um post na rede X, ele escreveu: “Agora é hora de expandir as energias na segunda metade do governo de Gabriel Boric e realizar as reformas da saúde, da previdência e dos impostos e pensões, o que depende dele, de sua coalizão e da mobilização dos cidadãos contra o bloqueio parlamentar e midiático da oposição”.

Em março, o governo chegará à metade de seu mandato sem ter conseguido levar adiante as reformas prometidas. Essa eleição pode ser interpretada como um apoio ao presidente Boric, bem como uma rejeição à perda de direitos sociais e às posições mais conservadoras da direita. Mas nem na noite de domingo nem na segunda-feira esse setor mostrou sinais de abertura para negociações. Não só não aceitou o resultado como uma derrota, como também pediu abertamente a manutenção de um bloqueio legislativo aos projetos do governo.

Como se nada tivesse acontecido, o presidente do Senado, o pinochetista Juan Antonio Coloma, está impondo a agenda do empresariado e das elites a partir dessa Câmara. “De agora em diante, temos que nos encarregar das questões urgentes de segurança, para as quais promovemos uma agenda neste Congresso e medidas para que o Chile volte a crescer”. Nenhuma palavra sobre as demandas por melhores pensões, saúde e educação. Nem uma palavra sobre a reforma tributária.

(*) Paul Walder é jornalista e escritor chileno, graduado pela Universidade Autônoma de Barcelona, colaborador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE).

(*) Tradução de Pedro Marin

noticia por : UOL

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