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Obra barra inundações na Vila Itaim, bairro vizinho do alagado Jardim Pantanal, em SP

A comerciante Marli Almeida da Silva, 63, ainda tem na memória os vestidos de noiva estragados por causa da última inundação na sua loja de roupas. A chuva encheu de água a rua Ambuá, assim como as vizinhas, e também destruiu móveis e eletrodomésticos, além de danificar carro da família.

Mas aquela foi a última vez que moradores da Vila Itaim, no extremo leste de São Paulo, sofreram com grandes enchentes, diferentemente de seus vizinhos do Jardim Pantanal, bairro ao lado que nesta quarta-feira (5) completou cinco dias com ruas e vielas alagadas.

“Com esse piscinão, a situação parece ter sido resolvida, faz uns quatro anos que aqui não alaga de a gente ficar até um mês com água nos pés como era antes”, diz Mali. “A rua até fica cheia, mas não entra mais na nossa casa.”

Moradora no imóvel desde 1986 e resiliente às cheias históricas, a comerciante se referia a um pôlder, e não a um piscinão. Inaugurado no fim de 2019 pelo então governador João Doria (na época no PSDB e hoje sem partido), ele tem conseguido escoar o fluxo de água na maioria das tempestades —o que não ocorreu depois meses depois de começar a funcionar.

Pôlder é uma estrutura usada para combater as inundações em localidades construídas na beira de rios, como é o caso da Vila Itaim e do Jardim Pantanal, localizados em uma várzea do rio Tietê. Ele dispõe de um sistema composto por um dique (muro de contenção), reservatório, dutos e cinco bombas.

Quando ocorrem chuvas de grande intensidade, as bombas são acionadas para drenagem e escoamento da água, e os diques evitam que o rio transborde, inundando áreas ocupadas.

A obra foi anunciada em 2013 por Geraldo Alckmin (na época no PSDB e atualmente no PSB) e Fernando Haddad (PT), então governador e prefeito de São Paulo. Ao custo final de R$ 117 milhões —cerca de R$ 158 milhões corrigidos pela inflação— só ficou pronta quase sete anos depois.

“Esse pôlder é um caso interessante. [Na Vila Itaim], amorteceu os efeitos [das enchentes]”, afirma o engenheiro civil Joni Matos Incheglu, coordenador do Comitê de Reurb (regularização urbana) do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) de São Paulo.

Segundo SP Águas (Agência de Águas do Estado de São Paulo), o pôlder na Via Parque e Ciclovia tem 2.300 m de extensão e seu reservatório comporta até 27 mil m³ de águas pluviais.

De acordo com o especialista, a estrutura tem a missão de deixar a região onde foi instalada permanentemente drenada e protegida de inundações. “É uma espécie de secadora que expulsa a água, mas nem sempre dá certo.”

A fachada da loja da comerciante Marli mudou com as obras. Houve aterramento da rua a partir da construção do pôlder, e o piso está mais próximo do nível da calçada. Mesmo assim, há um degrau por precaução. “Eu ainda tomo remédios controlados por causa do medo da chuva.”

Esse sistema é usado em cidades que convivem com as cheias por terem avançado para áreas, até então, alagáveis, como Porto Alegre (RS), à beira do lago Guaíba. A capital gaúcha dispõe de um dique, o muro da Mauá, que visa proteger o centro histórico, além de um sistema com 23 estações de bombeamento de águas pluviais.

A Holanda, que faz parte dos Países Baixos, tem um terço de seu território abaixo do nível do mar. Por terem avançado sobre terrenos, literalmente, dentro do mar, as cidades desde a origem ergueram diversos diques, criando os pôlderes. Na era medieval, sem o sistema de bombas elétricas para drenar a água, eram usados moinhos de vento que funcionavam como motores primários para devolver a água excedente para o mar.

Incheglu estima que 30% do território holandês conta com estrutura de pôlderes.

Em uma realidade completamente diferente, moradores do Jardim Pantanal torcem para que um dia uma obra com as mesmas definições seja inaugurada por ali. Um pôlder, orçado inicialmente em R$ 6,5 milhões e com projeto assinado em abril de 2023, deveria ter suas obras finalizadas em setembro daquele ano, mas até hoje não estão prontas.

No momento, segundo a Secretaria Municipal das Subprefeituras, ele está em fase final de implantação de equipamentos para bombeamento. A previsão é que comece a funcionar em 45 dias.

O projeto inclui a construção de um muro de contenção de 4 metros de altura anexado a um reservatório com capacidade para absorver a água excedente e direcioná-la para o córrego Lajeado. O pôlder possui profundidade de 3,5 metros e capacidade para acumular 833 m³ de águas pluviais.

A obra, nas ruas Serra do Grão Mogol e Tite de Lemos foi suspensa várias vezes e com aditamento, o custo saltou para R$ 8,5 milhões.

Em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que o pôlder só não está funcionando porque a concessionária Enel não fez a ligação de energia elétrica.

Em nota, a distribuidora de energia diz que que está em contato com a prefeitura e irá realizar uma inspeção no local para programar a ligação. “O processo está dentro do prazo para execução”, afirma.

Na terça-feira, a prefeitura apresentou três estudos para tentar resolver o problema das inundações do Jardim Pantanal. Dois deles contam com a construção de sete pôlderes cada.

“Estamos estudando o que vai ser melhor para lá, mas necessariamente vai passar por uma discussão com os moradores”, disse Nunes, citando negociação com da comunidade do Caboré, também na zona leste. Além de obras de requalificação urbana e de drenagem realizadas, 610 famílias foram retiradas do local. “Agora na chuva não tivemos nenhuma enchente e nenhuma morte.”

noticia por : UOL

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