MUNDO

O celular como sentença de morte

A morte do ciclista Vitor Felisberto Medrado, assassinado após um assalto na cidade de São Paulo, não é um caso isolado. Ocorrências dessa natureza, com cidadãos sendo abordados por criminosos de moto cujo objetivo é subtrair o celular da vítima, têm sido cada vez mais comuns e parecem estar diretamente relacionadas ao crescimento dos latrocínios, que aumentaram 23,3% na capital em 2024.

Roubos e latrocínios são crimes que geram profunda sensação de medo na população, provocando até mudanças de hábitos: passear com o cachorro à noite, por exemplo, se tornou uma atividade de alto risco. Mas os dados indicam que o medo não é infundado, e que a cidade de São Paulo vivencia uma epidemia de roubos e furtos de celular, ainda que com reduções recentes nestes crimes.

Dados divulgados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública demonstram que só São Paulo, cidade que concentra 5,6% da população brasileira, respondeu por 20% de todos os celulares subtraídos no país. Isto significa que a chance de um cidadão que caminha pela av. Paulista ter seu celular roubado é muito maior do que o risco vivenciado por um carioca ou porto-alegrense.

Esse pequeno equipamento que passa o dia em nossas mãos e dos quais nos tornamos profundamente dependentes é extremamente valioso para os criminosos. Além do aparelho em si, que pode ser desmontado para venda de peças ou revendido se em bom estado, o celular é a porta de entrada para uma diversidade de golpes que criminosos aplicam. Do acesso a contas bancárias e aplicativos de compras, a documentos pessoais, contatos e fotos os criminosos têm à mão uma diversidade de informações de natureza privada que podem ser utilizadas para enganar, chantagear e extorquir. Pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha mostrou um prejuízo de R$ 186 bilhões com crimes virtuais e roubos e furtos de celulares no Brasil em um ano.

As estratégias que o governo paulista tem adotado para enfrentar essa avalanche de crimes patrimoniais têm se mostrado insuficientes e ainda muito focadas em policiamento ostensivo. Operações destinadas a coibir a receptação de celulares e a fiscalização de locais que revendem aparelhos roubados precisam ser parte do trabalho ordinário da polícia judiciária, e não ficarem restritas a eventos excepcionais na atividade policial. Para que isso ocorra é imprescindível um forte investimento na capacidade institucional da Polícia Civil.

Vale destacar ainda que o Brasil tem exemplos de sucesso no enfrentamento aos roubos de celular. O Piauí, estado pioneiro no combate a estes crimes, conseguiu, por meio da aquisição de um software privado, um termo de cooperação com o Judiciário e um com a Anatel, produzir uma revolução na recuperação de celulares subtraídos. Agora a polícia é capaz de localizar o aparelho roubado ou furtado e enviar mensagem informando que o aparelho é produto de crime, garantindo a punição dos criminosos e a devolução do bem para a vítima.

Na esteira da polícia piauiense, o governo do Amazonas criou o programa “Recupera Fone”, que utiliza o mesmo software e metodologia do Piauí. Em cinco meses de funcionamento, o programa já identificou e recuperou 1.350 aparelhos roubados.

O governador Tarcísio de Freitas e o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite precisam fazer o dever de casa. Piauí e Amazonas são alguns exemplos de que não é preciso “reinventar a roda”. Basta ter vontade política e humildade para reconhecer que as soluções às vezes vêm de outros estados.

noticia por : UOL

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