“Você é pai, seu filho está saindo de casa e você diz ‘Jimmy, eu te amo muito, tenha um bom dia de aula’, então ele volta com uma operação invasiva. Consegue imaginar?”, disse Donald Trump num comício no estado do Wisconsin, no último 7 de setembro. O agora presidente eleito dos Estados Unidos afirmava que crianças estavam passando por procedimentos para transexualização nas escolas.
O republicano havia repetido a mesma informação em eventos anteriores e ainda prometido acabar com a suposta prática, negada pela American Medical Association (Associação Médica Americana, em português).
A disposição de Trump por pautas transgênero não parou naquele assunto. Restando poucos dias para o início da contagem dos votos, a campanha dele investiu milhões de dólares em propaganda televisiva tentando ligar a adversária à Casa Branca neste ano, a democrata Kamala Harris, à defesa irrestrita dos inconformados com seu sexo biológico.
O empresário e político ainda externou pretensão de banir a população, em especial as mulheres trans, de competições esportivas.
Nada disso, porém, causou surpresa. Trump retomava uma tática utilizada em seu primeiro governo (2017-2021): surfar na cada vez mais forte onda antitrans. Já nos meses iniciais da administração anterior, seu então secretário da Justiça, Jeff Sessions, anunciou que pessoas trans perderiam a proteção contra a discriminação em locais de trabalho.
Em 2018, a Presidência tentou definir gênero como uma condição biológica e imutável determinada pela genitália no momento do nascimento. Ou seja, apagar legalmente a existência de transexuais.
Uma série de decisões tomadas pelo governo do democrata Barack Obama havia alargado a definição de gênero em programas federais, incluindo na educação e na saúde, reconhecendo o gênero como algo de escolha do indivíduo, não algo determinado pelo sexo com o qual a pessoa havia nascido.
Chegando em 2019, a gestão proibiu pessoas trans nas Forças Armadas. A medida foi revogada por Joe Biden em 2021, que também afastou o fantasma antitrans da Casa Branca.
Desde aquele ano, entretanto, o cenário americano tem respaldado Trump. Nos últimos três anos, metade dos 50 estados americanos aprovaram legislações dificultando ou banindo o acesso de menores a quaisquer terapias de redesignação sexual.
Noutro exemplo, cada vez mais estados proíbem o uso de banheiros de acordo com a identidade de gênero. São os casos de Flórida, Utah e Carolina do Norte. Outros banem o uso somente em escolas e espaços públicos, como Arkansas, Tennessee e Kentucky.
Para o próximo mandato, Trump pode contar com um parceiro em sua cruzada: J.D. Vance, seu vice eleito. No dia 1º de novembro, em discursos contra cotas para trans no ensino superior, o senador por Ohio disse que jovens “mudam de sexo” para entrar nas universidades da Ivy League, as melhores do país.
noticia por : UOL