MUNDO

Na sopa de letrinhas do G20, a defesa da reforma do multilateralismo

Para quem não acompanha de perto o processo preparatório para a Cúpula do G20, em novembro, no Rio, as reuniões recentes de seus 13 grupos de engajamento (T20, B20, C20, entre outros), podem parecer uma sopa de letrinhas e números. É importante, portanto, destacar que recomendações convergentes de um amplo arco da sociedade civil foram apresentadas aos representantes dos chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo, como contribuição à declaração final da cúpula.

A presidência brasileira do G20 trouxe a inovação de reunir os grupos de engajamento sob o chamado “G20 Social”, para ampliar o processo de escuta e a gama de recomendações em documentos preparatórios para as reuniões oficiais. Não é coisa pouca. Se considerarmos o tamanho dos PIBs em questão, a sociedade civil tem uma oportunidade única de influenciar a agenda global.

Para trazer um exemplo concreto: o Instituto Igarapé faz parte do T20, o grupo de engajamento dos “think tanks”, e lidera, com o Institute for Global Dialogue, da África do Sul, a força-tarefa “Fortalecendo o multilateralismo e a governança global”.

O T20, coordenado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), tem a missão de reunir “think tanks” e analisar dados científicos para balizar diversos debates do G20. Em seis forças-tarefas, que envolveram 121 instituições de todo o mundo, foram avaliadas mais de 300 propostas. Na coliderança da força-tarefa sobre multilateralismo, composta por 26 organizações, selecionamos 51 trabalhos e coletamos, organizamos e sintetizamos suas principais contribuições.

Além disso, contribuímos com informações para outras forças-tarefas, nos temas de governança e desigualdades na inteligência artificial, desenvolvimento sustentável, reforma da arquitetura financeira internacional e financiamento climático e da natureza. Levamos aos sherpas cinco recomendações, alinhadas ao longo de sete meses de trabalho colaborativo:

  1. Fortalecer a eficácia e eficiência das instituições multilaterais por meio da construção de confiança, responsabilidade e inclusão.
  2. Fortalecer a governança global por meio de maior participação de atores não estatais e subnacionais.
  3. Aprimorar a cooperação global e os investimentos em desenvolvimento sustentável resiliente, inclusive através da reforma da arquitetura financeira internacional.
  4. Fortalecer a governança para promover respostas eficientes a ameaças fronteiriças relacionadas à saúde global, danos digitais e crime organizado transnacional.
  5. Avançar novas normas e métricas para a cooperação para o desenvolvimento e aprimorar a responsividade e transparência do G20.

Em resumo, o que defendemos para os líderes mundiais é a necessidade de reforma do sistema multilateral para que se torne mais representativo, inclusivo, eficiente e atualizado para enfrentar os desafios globais atuais.

Isso é urgente. As tensões políticas, econômicas e sociais criam uma incerteza crescente que dificulta o progresso em compromissos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o Acordo de Paris. A crescente competição, a desigualdade aprofundada e a inércia institucional tornam a cooperação multilateral cada vez mais difícil.

O processo do G20 pode servir como uma plataforma-chave para alinhar esforços e contribuir em outros fóruns, como a Cúpula do Futuro.

O destaque dado para a reforma da governança global pela presidência brasileira do G20 é um passo na direção certa para o fortalecimento de um sistema multilateral que atenda às gerações atuais e futuras. Nossa tarefa, agora, é gastar saliva e sola de sapato para influenciar as decisões sobre estes temas nos fóruns internacionais e governamentais. É este nosso compromisso na nossa sopa de letrinhas do G20.


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noticia por : UOL

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