Um comunista no altar, evangélicos rezando a missa e ministros da mais alta corte do país misturados entre populares, desviando de empurrões e cotoveladas, em busca de um aperto de mãos.
Sob os anjos suspensos e os vitrais azulados da Catedral de Brasília, cenas improváveis como essas puderam ser vistas durante a missa que celebrou a chegada de Flávio Dino ao STF (Supremo Tribunal Federal), realizada na noite de quinta-feira (22).
O novo integrante da corte, que no passado foi filiado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) e recentemente viu o rótulo ser usado por opositores, dispensou as tradicionais festas que costumam ser realizadas por associações após a tomada de posse, optando pela cerimônia religiosa.
Em vez da corrida por ingressos que custam algumas centenas de reais, aqueles que quiseram prestigiá-lo tiveram que ouvir a homilia e pegar a fila para receber a Eucaristia.
Veterano de Dino no Supremo, o ministro André Mendonça diz ter congratulado o mais novo colega pela decisão. “[Fico] Feliz pela escolha dele. Disse isso a ele”, afirmou o magistrado à coluna. “É um prazer estar aqui hoje nessa missa em celebração à posse”, completou Mendonça, que é pastor licenciado da Igreja Presbiteriana Esperança e professa outra fé.
A escolha heterodoxa de Dino também foi elogiada pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge, uma das primeiras personalidades a chegar no templo localizado na Esplanada dos Ministérios. “É um ato de fé, que compõe o mais íntimo da liberdade humana, e o ministro exerce isso com muita autenticidade”, disse ela.
A missa de ação de graças, como é chamado esse tipo de solenidade, ainda foi assistida pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e pelos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o embaixador do Brasil na Cisjordânia, Alessandro Candeas, também podiam ser vistos acomodados nos bancos de madeira da catedral.
“Ouçamos com atenção a palavra de Deus”, anunciou o cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília. Na sequência, Gilmar Mendes caminhou sobre o tapete vermelho estendido no chão, subiu as escadas do presbitério e se acomodou diante da mesa da Palavra. Entoando sua voz grave, leu versículos bíblicos da “Primeira Carta de São Pedro”.
“Sedes pastores do rebanho de Deus, confiado a vós; cuidai dele não por coação, mas de coração generoso; não por torpe ganância, mas livremente; não como dominadores daqueles que vos foram confiados, mas, antes, como modelos do rebanho”, recitou Gilmar.
Chegado o momento da oferta, quando auxiliares da igreja recolhem a contribuição financeira feita pelos fiéis, Dino e Alckmin, sentados lado a lado, se remexeram sobre o banco em que estavam, apalpando os bolsos.
O vice-presidente, então, passou uma nota de real ao ministro católico, que fez o depósito na urna. O momento foi registrado pelo fotojornalista Sérgio Lima.
Questionado pela coluna se chegou a ver quanto emprestou a Dino para o pagamento da oferenda, Alckmin riu, balançou a cabeça e disse, brincando: “Tô com crédito”.
Como um pastor junto ao seu rebanho, Dino foi acompanhado em seus movimentos durante a missa. Em um dado momento, o novo ministro do STF se antecipou e se levantou antes de o bispo ordenar que a igreja se colocasse de pé. Algumas dezenas de pessoas o acompanharam, não sem antes olhar para os lados para checar se faziam a coisa certa.
Ao ser chamado ao presbitério e fazer seu primeiro discurso como ministro do Supremo, Dino relembrou que, nos anos 1990, avistou os pilares da Catedral de Brasília desde a sacada de um hotel na capital federal. Ele havia se hospedado no local na véspera da prova que prestou para a carreira de juiz federal.
“Trinta anos atrás, eu olhava essa igreja de fora. Trinta anos depois, já não sou um garoto, mas tenho a mesma fé”, afirmou ele, que classificou a missa em sua celebração como “uma das festas mais bonitas” de que já participou.
Encerrada a solenidade, Dino se viu, em questão de segundos, cercado não só pelas habituais autoridades e por frequentadores de Brasília com quem se encontra e despacha diariamente, mas também por populares —a cerimônia foi aberta ao público, e todos que desejassem acompanhá-la poderiam entrar.
Ganhou abraços, apertos de mãos e diversos presentes, principalmente imagens de santos. Um “beija-mão”, em suma, bem diferente daquele que havia ocorrido mais cedo na sede da corte, restrito a convidados.
“Era tanta gente querendo abraçar que eu fiquei presa”, comentou, rindo, a presidente da Anadef (Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais), Luciana Bregolin. “Eu estava passando quando começou a vir todo mundo”, afirmou ela, que deixou o empurra-empurra dizendo que estava difícil até mesmo de respirar.
Dino ainda distribuía sorrisos e selfies quando deixou a catedral, que já tinha parte de suas luzes apagadas e algumas das cadeiras empilhadas. “Terça-feira a gente começa”, anunciou, antes de entrar no carro com sua família e partir.
TELONA
Os atores Giovanna Antonelli e Danton Mello receberam convidados para a pré-estreia do filme “Apaixonada”, na terça-feira (20), no Cinemark do shopping Cidade Jardim, em São Paulo. A ex-jogadora de vôlei Márcia Fu compareceu ao evento.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
noticia por : UOL