Todo venezuelano sonha em viver nessa Venezuela democrática esboçada nas declarações de Lula, seja ela onde for. O diabo é que um fato não deixa de existir apenas porque o presidente brasileiro o ignora. No país de Maduro, a autoridade eleitoral é exercida por um compadre e o Judiciário está submetido ao palácio presidencial.
No Brasil, a Justiça Eleitoral puniu Bolsonaro com a inelegibilidade por ter sonhado com uma ditadura absoluta. Beneficiário direito da frente ampla que se formou em defesa da institucionalidade, Lula talvez devesse refletir sobre a inconveniência de tratar a Venezuela como uma democracia relativa.
Levando a reflexão a sério, Lula descobria o valor do silêncio. Evitaria, por exemplo, o endosso a uma nota vexatória expedida pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores. Nela, a cúpula petista dispensou a divulgação das atas eleitorais venezuelanas. Chamou Maduro de “presidente reeleito”. Deu de ombros para a convulsão do asfalto. Referiu-se à perversão eleitoral como “uma jornada pacífica, democrática e soberana”.
Instado a comentar, Lula não se opôs ao teor da nota do seu partido. Ao contrário, endossou o texto. Mais: acusou a imprensa brasileira de exagerar, tratando a crise venezuelana “como se fosse a Terceira Guerra Mundial”. Noutros tempos, a condescendência de Lula e do PT com ditadores companheiros era apenas vexaminosa. Depois do 8 de janeiro, tornou-se ultrajante.
Com suas declarações, Lula sinalizou que o reconhecimento da pretensa reeleição de Maduro pelo governo brasileiro é uma questão de tempo. Revelou-se capaz de fazer qualquer coisa pelo ditador venezuelano, inclusive papel de bobo.
Desde que tomou posse, Lula deu a volta ao mundo para proclamar que o Brasil voltou. Palpitou sobre tudo. Quando tratou das guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, foi ignorado. Nesta terça-feira, recebeu telefonema de Joe Biden. O inquilino da Casa Branca imaginou que, sobre a Venezuela, Lula teria o que que dizer.
noticia por : UOL