Bichos e bicheiros estão na moda nos blocos de Carnaval deste ano no Rio de Janeiro, na esteira do sucesso da série documental “Vale o Escrito – A Guerra do Jogo do Bicho”, do Globoplay.
A série conta o surgimento do jogo do bicho e explica as disputas sangrentas dos contraventores por áreas no Rio. De acordo com o Grupo Globo, desde a estreia, em novembro do ano passado, “Vale o Escrito” é o documentário mais consumido do Globoplay.
No grupo de 20 amigos do analista de redes sociais Pedro Feijó, 33, a brincadeira é escolher um dos animais da cartela do jogo. E tudo bem optar por um bicho repetido —duas pessoas escolheram a borboleta e três vão sair de pavão, por exemplo. Ninguém ainda optou pelo burro, o touro ou a vaca.
Autor da ideia da fantasia coletiva, Feijó separou cartola, colete e bengala para sair fantasiado de barão de Drummond, empresário que criou a loteria informal no fim do século 19, no antigo zoológico do Rio de Janeiro.
“Achei mais lúdico ser a figura do criador do jogo. A ideia não era sair de bicheiro, mas de jogo do bicho. Nem cogitei sair de bicheiro porque eu penso neles primeiro como mafiosos, enquanto o jogo mesmo é algo ilegal, mas que faz parte da cultura e da história da cidade”, diz o folião.
A turma esteve presente em blocos do pré-Carnaval carioca e diz que as fantasias fizeram sucesso.
Integrante do grupo, a editora Lara Freitas, 26, escolheu o veado. Fez os chifres em casa, usando papel cartão, arame e guache, e os colou em um arco que havia comprado. “Para fazer referência ao duplo significado do veado, fui com a blusa que eu uso nas Paradas do Orgulho Gay.”
A foliã Luiza Lourenço, 34, participou do ‘Jogo das Bichas’, brincadeira entre amigas durante um ensaio da Orquestra Voadora no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio, no mês passado.
Elas se conheceram por serem seguidoras da criadora de conteúdo digital Amanda Britto, que se fantasiou de bicheira. As demais escolheram um animal ou algo relacionado ao universo do jogo, como o talão dos resultados e o dinheiro. Luiza se fantasiou de leão.
A fantasia coletiva reuniu 30 pessoas, e os vídeos do grupo viralizaram nas redes sociais, dando ideias para outros foliões.
“Sou entusiasta dos temas relacionados a Carnaval, futebol e manifestações populares e tenho interesse pelo tema do jogo do bicho. Não acho que o documentário possua uma narrativa de glamurização da contravenção, ele explora as contradições e absurdos”, diz Luiza.
“Era muito legal ver as pessoas reconhecendo cada bicho conforme iam passando pela gente. Também estava muito ansiosa para ver como as outras meninas iam materializar cada bicho e foram todas muito criativas”, afirma Natália Magalhães, que escolheu uma fantasia de ursa.
SÃO PAULO
Em São Paulo, Giulia Pallone inventou moda antes mesmo do lançamento da série “Vale o Escrito”.
Criada em uma família que costuma apostar, a publicitária de 27 anos curtiu o Carnaval do ano passado com uma fantasia original —com cartolina, pedaços de plástico e após alguns bons minutos no computador, ela criou uma cartela gigante do jogo do bicho com os 25 animais e seus respectivos números.
A peça ficou guardada, e neste Carnaval Giulia não apenas deve repetir a fantasia como tem dado dicas a outros foliões. “Várias pessoas me pediram os arquivos e as artes para montarem suas próprias fantasias, inspiradas na minha. Achei tudo de bom.”
O carioca João Pedro Bonifácio, 29, brinca o Carnaval em São Paulo e já saiu nos blocos do último fim de semana. Vestido como um contraventor, ele fez par com uma amiga que estava fantasiada de talão do jogo do bicho.
“A fantasia não é feita para homenagear ou me associar aos crimes cometidos por essas figuras. É uma sátira da sociedade em que a gente vive e que tem no Carnaval uma forma de trazer ironia para as ruas.”
noticia por : UOL