O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) elogiou a ação policial e, antes de o inquérito da Polícia Civil ser finalizado, desconsiderou as afirmações de moradores das favelas afetadas, que disseram ter sido constantemente ameaçados de morte desde o homicídio do soldado Reis. Naquele momento, só quatro dos mortos tinham sido identificados.
“A primeira coisa a destacar: a fala do governador e do secretário de Segurança Pública no sentido de comemorar a ação, indicar que ela teria sido bem-sucedida, indicando inclusive a lisura dos policiais militares antes de uma investigação precisa, tendo resultado em 19 mortes, mostra uma política de segurança pública que se destina a eliminar suspeitos”, afirma Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
O que a pesquisadora julga mais grave é, três semanas depois da ocorrência, a sociedade ainda não dispor de praticamente nenhum documento oficial público que relate, de maneira precisa, o que de fato aconteceu na dinâmica das mortes. “A Operação Escudo continua, a gente tem indicações de que pessoas vêm sendo torturadas na Baixada Santista e há 19 mortes muito mal explicadas. E não temos, segundo o Ministério Público, imagens de oito ocorrências.”
Se foi uma ação bem-sucedida e se os policiais fizeram uso da força de forma legítima, qual é o sentido de esconder as imagens até agora? Acho que tudo isso nos leva a crer que, na verdade, a Secretaria da Segurança Pública está omitindo informações e, infelizmente, se torna muito difícil confiar na investigação.
Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Para ela, está nítido que as mortes ocasionadas pela operação Escudo são frutos de uma vingança relacionada à morte do soldado Reis. “A gente sabe que o Brasil é um dos países em que os policiais estão mais expostos ao risco, que tem alto número de policiais mortos, mas, tendo destacado o quão trágico é a morte de um policial no cumprimento do seu dever, logo após esse assassinato ter 19 mortes numa operação que não possui gravações, que não tem clareza sobre os laudos produzidos, cujas informações das investigações são desencontradas, nos leva a crer que, sim, se tratou de uma operação vingança.”
Em 7 de agosto, a PM afirmou à imprensa que o MP teve acesso às filmagens de 7 das 16 ocorrências com mortes nos primeiros dias da Operação Escudo.
noticia por : UOL