A explosão em um posto de gasolina no enclave separatista de Nagorno-Karabakh, na noite desta segunda-feira (25), matou ao menos 20 pessoas e deixou outras 290 feridas, segundo balanço divulgado nesta terça pelas autoridades locais. O incidente, em circunstâncias não explicadas, ocorreu em meio à fuga em massa de armênios étnicos após uma ação militar do Azerbaijão.
Lideranças separatistas de Karabakh pediram ajuda externa urgente para socorrer as vítimas e lidar com o que chamaram de catástrofe. “A maior parte [dos feridos] está em estado grave ou muito grave”, disse o encarregado de direitos humanos da região, Gegham Stepanyan.
Autoridades investigam os motivos da explosão, que ocorreu na capital regional de Stepanakert. Segundo Stepanyan, centenas de motoristas estavam em fila para abastecer no momento do incidente.
Milhares de pessoas que temem ser alvo de uma limpeza étnica passaram a fugir de Nagorno-Karabakh nos últimos dias, disparando alertas de uma nova crise humanitária. Segundo a agência de notícias Tass, 19 mil refugiados haviam chegado à Armênia até a manhã desta terça.
O êxodo ocorre após o Azerbaijão derrotar, no último dia 20, as forças do enclave separatista em uma operação relâmpago, de 24 horas. Os militares de Karabakh —um território autônomo que até a ação azeri abrigava 120 mil pessoas— foram alvos de artilharia e forçados a declarar um cessar-fogo.
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A Armênia disse que mais de 200 pessoas foram mortas e 400 ficaram feridas na ofensiva, cuja vitória azeri parece pôr fim a um dos “conflitos congelados” após a dissolução da União Soviética. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou que, com seu “punho de ferro”, havia relegado a ideia de um Nagorno-Karabakh armênio independente, e que a região seria transformada em um “paraíso” parte de seu país.
Após o colapso da União Soviética, os armênios étnicos assumiram controle da região e conquistaram territórios vizinhos durante a chamada Primeira Guerra de Karabakh. O conflito, de 1988 a 1994, deixou cerca de 30 mil mortos e mais de um milhão de pessoas, principalmente azeris, deslocadas.
Em 2020, após décadas de tensões, o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, venceu a Segunda Guerra de Karabakh, que durou 44 dias, e reconquistou territórios ao redor de Karabakh. Esse conflito terminou com um acordo de paz mediado pela Rússia. Mas os armênios dizem terem sido “abandonados” e acusam Moscou, em guerra com Kiev, de não ter garantido o cumprimento dos termos do acordo na região.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discutiu a crise nesta terça com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi —o Irã faz fronteiras com a Armênio e com o Azerbaijão. Segundo o Kremlin, qualquer missão de observação internacional para a região de Karabakh só poderá acontecer com o aval do governo azeri.
Ilham Aliyev, o presidente do Azerbaijão, disse que tomará medidas para garantir os direitos dos armênios étnicos que optarem por permanecer em Nagorno-Karabakh. As declarações, porém, não arrefeceram os temores da população local, e o corredor de Lachin, única ligação terrestre entre o enclave e a Armênia, tinha centenas de veículos nesta terça, segundo a agência de notícias AFP.
Ierevan acusa os vizinhos de genocídio e limpeza étnica, palavras com forte eco na região devido ao massacre de armênios em 1915 pelos otomanos —e os hoje turcos são aliados dos azeris.
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A liderança do enclave separatista disse à agência Reuters no domingo que os 120 mil armênios étnicos da região pretendem fugir para a Armênia pois não querem viver como parte do Azerbaijão. Na sexta (22), o premiê armênio, Nikol Pashinyan, afirmou que havia alocado espaço para receber 40 mil pessoas.
Ilham Aliye, por sua vez, lamentou ao lado do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que a dissolução da União Soviética em 1991 tenha encerrado o corredor terrestre entre seu país e o exclave de Nakhchivan, que fica entre a Armênia, a Turquia e o Irã, numa sinalização de seu próximo objetivo territorial.
A pressão azeri por uma ligação com Nackchivan enfrentará, de todo modo, algumas questões práticas. Moscou tem um pacto de defesa com Ierevan, mantendo cerca de 3.000 soldados na maior base que opera fora de seu território. Se houver uma ação armada contra a soberania armênia, no papel os russos são obrigados a defender o aliado.
Como a última coisa que Putin precisa é um conflito em outra fronteira tensa, é improvável que qualquer acomodação envolva disparos, restando saber se Moscou está pronta para aceitar uma negociação que rife territórios sob sua proteção presumida.
Representantes da União Europeia também deveriam discutir a crise nesta terça numa reunião em Bruxelas com representantes da Armênia e do Azerbaijão. O encontro terá a participação de diplomatas da Alemanha e da França.
noticia por : UOL