Os Estados Unidos são de longe a nação que mais contribui com ajuda externa, tendo desembolsado mais de US$ 62 bilhões a outros países e projetos internacionais. Em termos de proporção do PIB (produto interno bruto), no entanto, Washington cai para a 25ª posição em uma lista de 31 países-membros do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE, o clube dos países ricos.
“Somos como uma rua de mão única, então queremos que outras pessoas nos ajudem e queremos que outras pessoas se juntem a nós. Estamos gastando bilhões e bilhões e bilhões de dólares e outros países ricos estão gastando zero”, afirmou Trump dias após tomar posse. “Por que deveríamos ser os únicos?”
O maior PIB do mundo dedica cerca de 0,24% de sua riqueza de US$ 27,7 trilhões a ajuda externa, de acordo com uma metodologia que atribui peso maior a doações e a empréstimos com juros baixos. Os dados são de 2023, último ano em que as informações sobre todos os membros do grupo de assistência externa da OCDE estão agregadas.
Em comparação, Itália (0,27%) e Estônia (0,28%) dedicam porcentagens maiores de seus PIBs —0,27% e 0,28%, respectivamente— a assistência externa, assim como a França (0,48%). Os três países no topo da lista são Noruega (1,09%), Luxemburgo (0,99%) e Suécia (0,93%).
A Casa Branca congelou toda a ajuda externa por 90 dias logo no primeiro dia de governo Trump sob o argumento de que o uso dos recursos não estava alinhado aos interesses americanos.
O Departamento de Estado, agora liderado por Marco Rubio, abriu algumas exceções e manteve ajuda militar a Israel e Egito, além de desembolsos a programas essenciais de alimentação. Novas exceções podem ser anunciadas antes do fim do prazo.
Em poucos dias, o impacto já é sentido por organizações que recebem esses recursos, em especial as que trabalham com temas duramente criticados pelo republicano, como diversidade, preservação ambiental, direitos indígenas e combate ao racismo.
Sob reserva, cientistas, pesquisadores e funcionários de entidades socioambientais já admitem a suspensão de ao menos parte das atividades e não descartam o encerramento de projetos em andamento.
Em 2023, US$ 42,45 bilhões foram gerenciados pela Usaid, a agência dos EUA de assistência ao desenvolvimento, de acordo com painel do Departamento de Estado, a principal fonte dos recursos. Cerca de um terço desse valor, ou US$ 14,4 bilhões, foi direcionado para programas de ajuda à Ucrânia. Não entram na conta recursos militares a Kiev —o dinheiro era usado em serviços de saúde, educação e emergência, por exemplo.
“Nós podemos sustentar parte desses recursos com dinheiro do Estado, e vamos discutir sobre parte deles com os europeus e os americanos”, afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
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Os EUA são também os principais doadores para o sistema da ONU, e a pausa no repasse dos recursos coloca em risco programas de diversas agências do organismo multilateral. O secretário-geral António Guterres pediu em comunicado mais exceções no congelamento de assistência americano.
Há ainda confusão a respeito do alcance das exceções anunciadas. A ordem assinada por Rubio afirma que envios de medicamentos, serviços médicos, comida, abrigo e assistência humanitária como um todo não serão afetados pelo congelamento.
“Longe de fazer os EUA mais seguros, fortes e prósperos, a pausa no financiamento e a incerteza sobre recursos futuros minam interesses fundamentais dos EUA de uma forma difícil de compreender”, afirma o Escritório de Washington para América Latina, grupo de defesa e promoção dos direitos humanos no continente com 50 anos de atuação.
“O congelamento da ajuda é um presente refinadamente embrulhado para os adversários regionais dos EUA, de ditadores a grandes narcotraficantes, de traficantes de pessoas a potências rivais como a China.”
A decisão do governo Trump afeta também a área da saúde, caso de um dos maiores programas mundiais voltados à prevenção e tratamento da Aids, o Pepfar (Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids), que tem um orçamento anual de US$ 6,5 bilhões.
Criado em 2003, o programa é responsável por fornecer terapias antirretrovirais e assistência a 20,6 milhões de pessoas que vivem com HIV/Aids em 55 países, especialmente os da África subsaariana.
Organizações sem fins lucrativos têm apelado também para arrecadação pública depois do congelamento da assistência. A Fundação Freeland, que combate o tráfico de animais, colocou anúncio em sua página inicial na internet pedindo ajuda com recursos.
“A nova gestão Trump congelou toda a assistência externa de repente, incluindo nossos programas de proteção da vida selvagem. Caçadores e traficantes não param suas operações”, diz o grupo em nota que pretende arrecadar recursos ao menos até o fim do período de 90 dias dado por Washington.
noticia por : UOL