Acostumados com a valorização constante e suave do CDI, muitos investidores têm ficado mais ansiosos recentemente com o desempenho de vários títulos e fundos de renda fixa. A insegurança sobre a decisão de investimento ocorre por causa da volatilidade recente das taxas de juros que impactou o preço de títulos e fundos de renda fixa referenciados ao IPCA e prefixados. Entretanto, a fonte do problema é a forma de se avaliar os retornos e o risco.
Por exemplo, aqueles que investiram no título Tesouro IPCA+2029 há um ano, obtiveram um retorno 7,64% ao ano. No mesmo período, o CDI se valorizou 12,2% ao ano.
Talvez o investidor desse título público esteja, neste momento, se questionando se foi um bom investimento, pois seu rendimento foi de apenas 62,7% do CDI. Possivelmente, ele reflita: “esse foi um péssimo investimento, pois ganhei menos e corri mais risco”.
Entretanto, essa conclusão não é adequada. O problema reside na forma de se avaliar.
Primeiro, vamos falar do risco.
Usualmente, atribuímos um maior risco à maior volatilidade dos retornos de um investimento. Entretanto, quando falamos de renda fixa, essa medida deveria ser utilizada no horizonte de investimento.
Lembre-se, risco é definido como a incerteza sobre os retornos futuros.
Portanto, qual investimento tem maior risco, aquele que você tem maior certeza de quanto vai render no futuro ou o que possui menor convicção?
Acreditamos que o CDI tem menor risco, simplesmente porque os investimentos oscilam menos com ele. Entretanto, a certeza sobre quanto será o retorno acumulado do CDI nos próximos três a cinco anos é menor que com qualquer dos outros indexadores de renda fixa.
Por exemplo, qual retorno acumulado em 3 anos você acha que é mais fácil de se prever: IPCA+6% ao ano ou 100% do CDI?
Sem dúvida, a previsão sobre o CDI é muito mais difícil. Além de ter de assumir quanto vai variar o IPCA, você também tem de prever quanto o CDI vai ganhar do IPCA. No caso do título a IPCA+6% ao ano, você só precisa prever o IPCA.
Portanto, o CDI é um indicador que carrega muito maior risco quando o investimento é de médio e longo prazo.
Da mesma forma que o risco de um título de renda fixa deve ser medido em seu horizonte, o retorno também.
Por exemplo, o investidor que aplicou no ano passado no título Tesouro IPCA+2029, pode estar chateado com seu investimento quando compara o retorno dos últimos 12 meses com o CDI. Entretanto, a maior probabilidade é que ele seja um melhor investimento que o CDI se mantido até 2029.
Nos últimos 15 anos, o CDI rendeu em média IPCA+2,4% ao ano. Portanto, se você adquiriu o título Tesouro IPCA+2029 no ano passado, travou um retorno de IPCA+5,7% ao ano até 2029. Logo, a maior probabilidade é que terá um maior resultado.
Outro exemplo importante para mencionar é o caso do IMAB-5. Ele é o índice de títulos públicos federais com menos de 5 anos de vencimento. O prazo médio de vencimento de seus títulos é de cerca de 3 anos. Portanto, a janela adequada para avaliar seu retorno deveria ser de 3 anos.
O gráfico acima mostra como foi o desempenho do IMAB-5 relativo ao CDI nos últimos 20 anos quando se analisa períodos de investimento de 3 anos.
Em 90% das janelas de observação, o IMAB-5 ganhou do CDI. A média de ganho nas janelas de 3 anos foi de 128% do CDI.
Perceba no gráfico que estamos vivenciando o pior desempenho relativo do IMAB-5. Estes momentos de pior performance, além de raros, costumam durar pouco tempo. Principalmente, considerando o sentido de queda do CDI e Selic no futuro.
Portanto, cuidado em avaliar o desempenho e risco de seu título ou fundo de renda fixa pelo passado recente. Esta análise pode levar a uma decisão errada sobre o ativo que deve apresentar o melhor retorno e menor risco para você.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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noticia por : UOL