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Eleição de Hugo Motta turbina planos de seu clã para ampliar influência na Paraíba

No poder na cidade paraibana de Patos desde os anos 1950, seja pelo ramo paterno quanto pelo materno, a família do deputado federal Hugo Motta atua para ampliar sua influência já crescente na Paraíba. O maior lance desse processo, claro, é a provável eleição dele como futuro presidente da Câmara dos Deputados em 1º de fevereiro.

Ao mesmo tempo, mais uma integrante do clã deve estrear na política. Olívia Motta, irmã de Hugo e filha do prefeito de Patos, Nabor Wanderley Filho, é apontada como a substituta da ex-prefeita e hoje deputada estadual Francisca Motta, avó de ambos. Todos são do Republicanos.

Outro lance da estratégia é a tentativa de emplacar Nabor Wanderley na chapa majoritária governista nas eleições estaduais de 2026.

Olívia é médica como o irmão –mas, diferentemente dele, exerce a profissão– e já fala como possível candidata a deputada estadual no ano que vem. Conforme o plano, na Assembleia Legislativa da Paraíba, ela herdaria os votos e a vaga da avó Francisca que, aos 83 anos, deve se aposentar das eleições.

Um blog de Patos publicou que Ilanna (filha de Francisca e mãe de Hugo e Olívia) também almejaria a vaga, causando um racha familiar: como Ilanna é brigada com Nabor, de quem se separou litigiosamente, iria querer se impor sobre o ex-marido na escolha, se sobrepondo sobre a filha. As manifestações públicas até agora desacreditam essa versão.

“Nós estamos conversando. Em política, família sempre combina aquilo que vai chegar. Estou me sentindo muito bem como deputada. Mas tenho também Olívia, que é mulher, médica, me acompanha em meu trabalho, sabe do que eu gosto que faça”, disse Francisca em entrevista recente. “Ela me acompanhou da mesma maneira que Hugo me acompanhou. Caso seja necessário, e eu resolva sair, tenho um nome que realmente irá fazer jus às mulheres da Paraíba.”

Já Olívia afirmou: “É uma honra muito grande poder substituir a deputada Francisca Motta, caso venha a acontecer. Acho que é uma coisa que vai ocorrer com naturalidade, acho que também é natural meu nome ser lembrado. Estamos amadurecendo [a ideia]”.

Mas o movimento mais ambicioso do grupo familiar –e por ora o mais imprevisível– é a possibilidade de Nabor integrar a chapa majoritária de situação nas eleições estaduais de 2026. Veículos paraibanos divulgaram há poucos dias que ele seria candidato ao Senado, mas há outros nomes fortes no páreo, num xadrez intrincado.

Após dois mandatos, o governador João Azevedo (PSB), aliado dos Motta Wanderley, deve ocupar uma das duas candidaturas para senador. Hoje, a tendência é que ele apoie para a cabeça de chapa, como seu substituto, o vice-governador Lucas Ribeiro (PP), filho da senadora Daniella Ribeiro (PSD) e sobrinho do deputado federal e ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PP).

Restariam duas vagas —a de vice-governador e outra para o Senado—, e os Motta Wanderley articulam para que Nabor seja considerado para uma delas. Nessa configuração, Hugo disputaria um novo mandato para deputado federal (o quinto seguido), considerando que precisaria dele para tentar a reeleição à presidência da Câmara em 2027.

O próprio Aguinaldo Ribeiro é um forte concorrente à outra vaga de senador do grupo, assim como o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, que também preside o Republicanos no estado.

Indagado sobre a possibilidade, Nabor ponderou que não há nada definido, mas deu vazão ao rumor. “A gente que está na vida pública tem que estar sempre preparado para os desafios que Deus e o povo nos indicam. Estamos à disposição do nosso partido para qualquer convocação que seja.”

Principal cidade do sertão paraibano, Patos, com 108 mil habitantes, não tem indústria nem agropecuária relevantes, mas é um polo regional de comércio e serviços (abriga campi de duas universidades públicas, a federal de Campina Grande e a estadual da Paraíba, e de várias privadas) e uma cidade em crescimento. Seu aeroporto, que já recebia voos comerciais, está sendo ampliado para ganhar um terminal de passageiros e melhores condições.

O primeiro parente de Hugo Motta a assumir a Prefeitura de Patos foi o seu avô paterno, o engenheiro Nabor Wanderley da Nóbrega, que comandou a cidade de 1955 a 1959, cuja família é original de São José de Espinharas, então um distrito de Patos, hoje emancipada como município.

Os Wanderley adquiriram poder e prestígio ao longo do século 20 na região —em Patos, o sobrenome está em incontáveis ruas e espaços públicos—, mas a tradição política do clã é mais forte pelo ramo dos Motta, cujo maior expoente foi o ex-deputado federal Edivaldo Motta (1939-1992), marido de Francisca e pai de Ilanna.

“Edivaldo Motta é o grande símbolo político, o grande mentor, a maior inspiração para que todos esses personagens surgissem”, conta o pesquisador Damião Lucena, autor de livros sobre a história de Patos.

Desde criança, Hugo era levado para reuniões políticas pelos avós maternos. Com a morte precoce de Edivaldo, aos 53 anos, Francisca assume o espólio eleitoral do marido e prepara o neto para o mesmo ofício.

“Nabor Wanderley, pai de Hugo Motta, entra exatamente quando casa com Ilanna, única filha de Edivaldo [e Francisca] Motta. A partir daí, a veia política começa efetivamente a se espalhar por toda a família”, relata Lucena. É também Francisca a maior responsável por lançar Nabor na política. Apesar da separação ruidosa entre sua filha, Ilanna, e Nabor, ela mantém com o ex-genro uma relação maternal.

Em seu quarto mandato como prefeito de Patos, Nabor já foi condenado por improbidade administrativa, multado pelo Tribunal de Contas da Paraíba por contratação irregular de servidores e é alvo de processos no Ministério Público e no TCE-PB.

A partir de 2015, operações conjuntas do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da CGU –batizadas de Desumanidade, Veiculação e Recidiva– para investigar suspeitas de desvio de verbas públicas e improbidade administrativa em cidades paraibanas atingiram vários parentes de Hugo Motta.

Francisca, sua avó, foi afastada do cargo de prefeita. Ilanna, sua mãe, ficou presa por cinco dias. As ações contra elas terminariam consideradas improcedentes ou extintas pela Justiça. Na mesma ocasião, foi preso o marido de Ilanna (e padrasto de Hugo), Renê Caroca, e afastado do cargo o então prefeito de Emas, Segundo Madruga, que na época era casado com Olívia.

Aos 35 anos, Hugo Motta Wanderley deverá ser o presidente mais novo da história da Câmara dos Deputados. Está em seu quarto mandato seguido. Em 2022, foi o deputado federal mais votado da Paraíba, com 158 mil votos. Sua maior votação foi em Patos (19,2 mil votos).

Quando foi eleito para o primeiro, em 2010, Hugo tinha acabado de completar 21 anos, tornando-se o mais jovem parlamentar do Congresso.

noticia por : UOL

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