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Desequilíbrio entre Santos Dumont e Galeão atinge pico em meio a investida do governo

A diferença entre o volume de passageiros domésticos no aeroporto Santos Dumont e no Galeão alcançou, em 2023, o maior patamar da série histórica, segundo análise da Folha feita com base em dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O ápice da discrepância ocorreu enquanto o governo federal tenta redistribuir os viajantes dos dois terminais cariocas. Mesmo com operação internacional, o Galeão amargou esvaziamento em anos recentes.

O levantamento, feito a partir do início da série, em 2000, considera somente passageiros pagos que viajaram entre janeiro e novembro de cada ano em voos regulares.

No acumulado dos 11 primeiros meses de 2023, a diferença entre os dois aeroportos chegou a 7,2 milhões, um recorde para a série histórica.

Nesse período, o terminal internacional Tom Jobim, mais conhecido como Galeão, registrou pouco menos de 3,4 milhões de passageiros em voos domésticos —número que salta para mais de 10,5 milhões no caso do Santos Dumont.

O governo implementou nos últimos meses um plano para reduzir as partidas no Santos Dumont. A partir de outubro, o limite de passageiros por ano no terminal passou a ser de 10 milhões de viajantes —teto que valeu para 2023.

Desde o começo do mês, no entanto, nova medida da pasta entrou em vigor, com um limite de 6,5 milhões de passageiros ao ano.

No ano passado, o chefe da pasta, Silvio Costa Filho, barrou ideia anterior do ministério de restringir a operação do terminal carioca a voos com distância máxima de 400 quilômetros.

A RIOgaleão, concessionária responsável pela operação do Galeão, disse à reportagem que, desde outubro, quando foi iniciada a primeira fase de coordenação entre os aeroportos, novas rotas e voos foram transferidos pelas companhias aéreas para o terminal.

A empresa diz que o Galeão fechou o ano com 7,9 milhões de passageiros, um crescimento de 35% em relação a 2022. Para este mês, a concessionária espera um aumento de 109% em voos domésticos e internacionais na comparação com janeiro de 2023.

À Folha a Anac diz que a previsão de voos entre outubro e dezembro de 2023 para o Santos Dumont antes da medida era de aproximadamente 15,77 mil decolagens. Com a vigência da redistribuição de voos, a quantidade de decolagens registrada no período foi de 10,15 mil, uma redução de 36%.

Já o Galeão recebeu, entre 20 de outubro e 20 de dezembro, 5.309 decolagens domésticas, representando um aumento de cerca de 64% em relação às 3.227 operações previstas para o período antes da implementação da redistribuição.

A agência afirma, porém, que não é possível apontar quantos e quais voos foram redistribuídos do Santos Dumont para o Galeão.

Procurada pela Folha, a Azul disse que vê com bons olhos a nova medida adotada pelas autoridades para tentar reequilibrar o fluxo nos dois aeroportos. De acordo com a empresa, a medida garante tratamento isonômico entre as companhias aéreas.

A Azul afirma que, com o estabelecimento do limite de 6,5 milhões de passageiros por ano, vai ampliar sua operação no estado, com mais voos no Galeão e a volta gradativa, a partir deste mês, da rota que liga o Santos Dumont a Belo Horizonte.

A companhia vai chegar a 59 decolagens por dia no estado do Rio de Janeiro em abril —18% a mais do que o patamar previsto para janeiro.

Jurema Monteiro, presidente da Abear (entidade que representa companhias como Gol, Latam e Voepass), diz ser importante que as empresas aéreas tenham liberdade para definir suas rotas. “O olhar é sempre do interesse do consumidor, onde ele quer voar, para onde quer voar”, afirma.

“A gente viveu anos muito duros. As empresas têm, hoje, uma oferta limitada porque não têm novas aeronaves sendo entregues neste momento. Mas acho que o Rio de Janeiro, atualmente, depois de todas essas discussões, está vendo que as medidas tomadas já fizeram um ajuste positivo para a operação”, diz Monteiro.

A Latam diz que a decisão do governo de revogar o limite de distância para voos do Santos Dumont, estabelecendo em seu lugar o teto de 6,5 milhões de passageiros por ano, faz mais sentido para os viajantes e não retira do consumidor a liberdade de escolha sobre onde voar.

Segundo a Gol, a decisão do Ministério de Portos e Aeroportos segue critérios técnicos de dimensionamento e capacidade do terminal.

“O novo equilíbrio entre os aeroportos traz melhorias tanto para a performance operacional quanto para a experiência do cliente e a conectividade internacional”, diz a empresa em nota.

No primeiro trimestre de 2024, a Gol terá mais de 500 decolagens semanais na capital fluminense, sendo 330 no Galeão e 170 no Santos Dumont, cuja operação funcionará exclusivamente para a ponte aérea com Congonhas, em São Paulo, e a rota para Brasília.

De acordo com os dados da Anac, nos 11 primeiros meses de 2023, o Galeão não conseguiria ultrapassar o volume observado no Santos Dumont nem se considerasse, além dos voos domésticos, os passageiros das rotas internacionais.



O aeroporto é um termômetro numa economia. Quando você vê as coisas acontecendo no país, a economia bombando, os aeroportos bombam também

Ao todo, o terminal internacional no Rio de Janeiro acumulou pouco mais de 6,4 milhões de viajantes entre janeiro e novembro, considerando operações domésticas e para fora do país. Já o Santos Dumont, que só recebe voos domésticos, registrou 10,5 milhões de passageiros.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, diz que o Santos Dumont não é o motivo para o Galeão registrar um patamar baixo de passageiros.

Segundo ele, a queda acompanha problemas estruturais na economia e na segurança pública do Rio de Janeiro, o que atrapalha o turismo e a chegada de estrangeiros na capital fluminense.

noticia por : UOL

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